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sábado, 28 de novembro de 2009

NÁUFRAGOS NO PARAÍSO


"As histórias que aqui se contam são histórias de sobrevivência. Todos estes homens e mulheres revelaram coragem, inteligência prática, autodisciplina e equilíbrio mental em doses suficientes para superar os obstáculos que se lhes depararam. Todos se mostraram capazes de suportar a pressão do isolamento e da solidão. A maioria dos náufragos dá por si a levar uma existência animalesca ao cabo de poucos meses, afundando-se na degradação e na loucura, mas estes homens e mulheres, sem excepção, exibiram as virtudes da força de vontade, do bom senso e da capacidade de decisão que tanta importância tem na nossa cultura. Fizeram da necessidade uma virtude. E as suas experiências revelam-nos, de uma forma poderosa, que o isolamento pode ser o começo de uma nova consciência das potencialidades do indivíduo."

Náufragos no Paraíso, James C. Simmons, Antígona

O modo como encaramos as ocorrências e os acasos da vida, o significado que lhes atribuímos, a forma como as representamos, o modo como as superamos ou não, os contratempos, constroem a nossa forma de ser e de estar.
(Ser Humano - Psicologia B -12º Ano, Porto Editora)

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

PESSOAS


"O conceito de justiça é um entre muitos que só os seres humanos utilizam. Por que é isto assim? O que há na intencionalidade humana, que torna tão grande a diferença entre o mundo humano e o mundo dos animais? A biologia diz-nos que os humanos são animais; então, por que nos damos estes ares?"
Guia de Filosofia para Pessoas Inteligentes, Roger Scruton -Ed. Guerra e Paz -(pág. 68)

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

SOBRE A NATUREZA


FRAGMENTO 2

Pois bem! Eu dir-te-ei, e tu acolhe as palavras que ouvires
os únicos caminhos de busca que são «para» pensar:
um, «o» que é e que não é não ser,
é o caminho da persuasão (pois acompanha a Verdade);
outro «o» que não é e que é necessário não ser,
este, advirto-te, é « um» caminho em que nada se pode aprender
porque nem poderás conhecer o que não é (pois «tal» não «é» factível)
nem mencioná-lo.

Sobre a Natureza, Parménides de Eleia, Lisboa Editora, pp-39

domingo, 22 de novembro de 2009

MAR ADENTRO


Mar adentro é um filme espanhol que relata a história de um homem lúcido e extremamente inteligente que luta pela morte como um direito. Rámon Sampredro, natural da Galiza, sofreu quando jovem, um acidente que o deixou tetraplégico.
Este filme possibilita-me exercitar uma reflexão profunda sobre o sentido da vida. A concepção da morte como a razão de toda uma vida, é difícil de interpretar e faz-me repensar os valores morais que adoptamos na nossa sociedade. Afinal, quem tem direito à vida? Que sentido faz criarmos ambições, se existe como superlativo uma morte desejada?
Rámon no seu perfeito estado mental, vive com humor e soberania os dias que atentam contra a sua própria vida. Sem se mover, faz girar a realidade à sua volta.
A paixão que nasce pela advogada que o ajuda no seu caso, ao contrário do que seria comum, não o consegue dissuadir das suas intenções. Daí não me identificar e não entender este problema de desalento que o faz desistir de toda uma vida que aparentemente deixa de ter sentido por uma limitação física. Dado à criação e inovação, uma pessoa extremamente activa de pensamento, Rámon seduz os que o rodeiam, desvaloriza a própria vida e ajuda os outros a encontrar um rumo para as suas. Está isto certo?
Talvez não seja inaceitável perceber que uma pessoa que está a sofrer ambicione mais do que tudo por fim à vida. Mas nem assim acho que o ambicione por querer morrer, talvez esteja influenciada pelo estado de dependência em que se encontra, talvez não queira dar trabalho ou talvez seja cobardia para lutar por uma vida que lhe surgiu com mais obstáculos. Na verdade, acho até injusto quando uma pessoa desiste, quando deixa para trás o carinho dos que fizeram parte da sua construção.
Viver é isso mesmo, ter força para alcançar um certo patamar e depois outro que mais ou menos oculto terá certamente as suas razões para brilhar, as coisas boas e menos boas.
Ter liberdade para morrer poderá ser coerente? Acho que é mais coerente ter liberdade para enfrentar o que se opõe, vivendo, amando, fazendo diferente…
Marisa Ferreira - 12ºA, nº 16


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

POR AQUI E POR ALI


Para descontrair... no fim de semana

"Há muitos livros sobre exploradores destemidos que escalam montanhas, atravessam oceanos, enfrentem intempérides e sofrem experiências traumáticas.
Mas em Por Aqui e Por Ali existe outro tipo de heróis: pessoas comuns que se esfalfam para subir um monte, que ficam histéricas com os animais selvagens...isto para não falar do horror que têm aos insectos!
Bill Bryson decide com o seu amigo Stephen Katz fazer três mil kilómetros pela floresta durante vários meses, percorrendo a pé o mais longo trilho do mundo. Um esforço enorme para o autor que tem o hábito de estar sentado e um suplício para o amigo, ex-alcoólico, gordo e que adora fast-food.
Com o seu estilo irreverente e inconfundível, Bryson conta casos inacreditáveis de destruição ecológica e descreve os estragos causados pelo turismo, o qual critica impiedosamente - incluindo-se a si e ao seu companheiro neste rol de destruidores.
Um livro para quem ama a natureza selvagem, mas que ao mesmo tempo adora os prazeres da civilização."

" Não vou dizer que a experiência mudou as nossas vidas, mas a verdade é que aprendi a dar valor às florestas e ganhei mais respeito à natureza e à escala colossal da América. (...) O melhor de tudo é que, hoje em dia, quando vejo uma montanha, observo-a devagar e respeitosamente, com um olhar firme e conhecedor."

Por aqui e Por Ali, Bill Bryson - Quetzal Editores, Lisboa 2007

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

LÓGICA UM CURSO INTRODUTÓRIO


"Lógica: Um Curso Introdutório coloca em evidência a importância da lógica na filosofia, apresentando numerosos exercícios para um maior domínio das técnicas lógicas e preparando o leitor para o estudo da filosofia da linguagem, da ciência e da matemática.
Esta edição portuguesa foi especialmente revista e corrigida em colaboração com o autor, constituindo ponto de referência para todos os que desejam dominar o raciocínio dedutivo.
Mais um contributo da Gradiva para munir a comunidade filosófica de língua portuguesa daqueles instrumentos sem os quais a filosofia não poderá elevar-se acima da especulação inconsequente nem cumprir o papel crítico que constitui a sua razão de ser."

Esta obra abrange os aspectos mais relevantes da lógica elementar, bem como alguns temas que lhe estão associados:
Verdade, validade e forma lógica;
Frases e proposições;
Funções e tabelas de verdade;
Testes semânticos de validade;
Demonstrações;
Adequação expressiva, consistência e completude;
Teoria da Quantificação;
Identidade, nomes e descrições;
Teoria lógica das relações;
Lógica temporal, modal e intuicionista.

Lógica: Um Curso Introdutório, W.H.Newton -Smith, Gradiva, Coleccção Filosofia Aberta, Abril 2005

domingo, 15 de novembro de 2009

O PROBLEMA DO LIVRE- ARBÍTRIO



Vou contar-te um caso dramático. Já ouviste falar das térmitas, essas formigas brancas que, em África, constroem formigueiros impressionantes, com vários metros de altura e duros como pedras? Uma vez que o corpo das térmitas é mole, por não ter a couraça de quitina que protege outros insectos, o formigueiro serve-lhes de carapaça colectiva contra certas formigas inimigas, mais bem armadas do que elas. Mas por vezes um dos formigueiros é derrubado, por causa de uma cheia ou de um elefante (os elefantes, que havemos nós de fazer, gostam de coçar os flancos nas termiteiras). A seguir, as térmitas-operário começam a trabalhar para reconstruir a fortaleza afectada, e fazem-no com toda a pressa. Entretanto, já as grandes formigas inimigas se lançam ao assalto. As térmitas-soldado saem em defesa da sua tribo e tentam deter as inimigas. Como nem no tamanho nem no armamento podem competir com elas, penduram-se nas assaltantes tentando travar o mais possível o seu avanço, enquanto as ferozes mandíbulas invasoras as vão despedaçando. As operárias trabalham com toda a velocidade e esforçam-se por fechar de novo a termiteira derrubada… mas fecham-na deixando de fora as pobres e heróicas térmitas-soldado, que sacrificam as suas vidas pela segurança das restantes formigas. Não merecerão estas formigas-soldado pelo menos uma medalha? Não será justo dizer que são valentes? Mudo agora de cenário, mas não de assunto. Na Ilíada, Homero conta a história de Heitor, o melhor guerreiro de Tróia, que espera a pé firme fora das muralhas da sua cidade Aquiles, o enfurecido campeão dos Aqueus, embora sabendo que Aquiles é mais forte do que ele e que vai provavelmente matá-lo. Fá-lo para cumprir o seu dever, que consiste em defender a família e os concidadãos do terrível assaltante. Ninguém dúvidas: Heitor é um herói, um homem valente como deve ser. Mas será Heitor heróico e valente da mesma maneira que as térmitas-soldado, cuja gesta milhões de vezes repetida nenhum Homero se deu ao trabalho de contar? Não faz Heitor, afinal de contas, a mesma coisa que qualquer uma das térmitas anónimas? Por que nos parece o seu valor mais autêntico e mais difícil do que o dos insectos? Qual a diferença entre um e outro caso? Muito simplesmente, a diferença assenta no facto de as térmitas-soldado lutarem e morrerem porque têm de o fazer, sem que possam evitá-lo (como a aranha come a mosca). Heitor, pelo seu lado, sai para enfrentar Aquiles porque quer. As térmitas-soldado não podem desertar, nem revoltar-se, nem fazer cera para que outras vão em seu lugar: estão programadas necessariamente pela natureza para cumprir a sua heróica missão. O caso de Heitor é distinto. Poderia dizer que está doente ou que não tem vontade de se bater com alguém mais forte do que ele. Talvez os seus concidadãos lhe chamassem cobarde e o considerassem insensível ou talvez lhe perguntassem que outro plano via ele para deter Aquiles, mas é indubitável que Heitor tem a possibilidade de se recusar a ser herói. Por muita pressão que os restantes exercessem sobre ele, ele teria sempre maneira de escapar daquilo que se supõe que deve fazer: não está programado para ser herói, nem o está seja que homem for. Daí que o seu gesto tenha mérito e que Homero nos conte a sua história com uma emoção épica. Ao contrário das térmitas, dizemos que Heitor é livre, e por isso admiramos a sua coragem.

Ética para um Jovem, Fernando Savater, Editorial Presença, Lisboa,1993

sábado, 14 de novembro de 2009

DOIS MODOS DE SILENCIAR




Há tantas maneiras de tentar silenciar ideias que não nos agradam que seria pouco prudente tentar fazer uma lista de todas elas. Mas vale a pena falar de duas delas.
Ambas pertencem à falácia da mudança de assunto e ocorrem quando alguém ouve ou lê uma ideia qualquer de que não gosta, e que não quer sequer ver discutida. Não se trata de pensar que a ideia é errada e de aproveitar a ocasião para esclarecer as pessoas e apresentar ideias opostas; trata-se de não querer que tais ocasiões surjam. Um observador cínico poderá pensar que a pessoa no fundo desconfia que não há realmente boas razões para pensar o que ela pensa, mas desagrada-lhe mudar de ideias como a qualquer pessoa sensata desagrada mudar de casa por causa de todos os transtornos que isso provoca. Mas não interessa realmente saber que motivações psicológicas tal pessoa terá. O que conta é que o resultado é o silenciamento, se nos deixarmos ir na conversa.
E como se faz o silenciamento? De pelo menos duas maneiras principais.
A primeira ocorre nos meios intelectuais, ou entre pessoas que gostam de ser consideradas intelectuais: aqui, usa-se a cultura como arma de arremesso. E então diz-se coisas do género “Você já leu X? Não? Então cale-se!” A ideia é X ser um autor denso ou difícil ou obscuro, pelo que é elevada a probabilidade de a outra pessoa não o ter lido e se calar por ficar envergonhada. Evidentemente, isto só funciona quando as pessoas realmente são vaidosas e têm vergonha de dizer que não leram. Se isso não ocorrer, ou se por azar a pessoa tiver lido, a tentativa de silenciamento é gorada.
A outra ocorre na vida pública, que me parece cada vez mais acéfala: aqui, usa-se a ideia de que os nossos direitos estão a ser atropelados. Toda a gente passa então a discutir esta outra ideia, e não a original. Foi o que ocorreu no caso do Saramago. As pessoas que discordam dele poderiam ter aproveitado a ocasião para explicar por que razão discordam da leitura que ele faz da Bíblia. Mas não foi isso que se fez; o que se fez foi bater no peito dos direitos atropelados, como se o grande Nobel marxista estivesse a atropelar direitos. E mudou-se de assunto.
Poder-se-ia pensar que seria mais honesto dar ordem de silêncio, em vez de falar de autores eruditos ou de invocar imaginados direitos atropelados. E seria. Só que seria também menos eficaz, porque ninguém daria ouvidos a tal ordem. Ao passo que introduzindo o ruído do autor que não se leu ou dos direitos atropelados, passa-se a discutir outra coisa e silencia-se a discussão original — e era precisamente isso que se queria desde o início.
Escrito por Desidério Murcho

Retirado do blog: criticanarede.com

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O MITO DOS ARGUMENTOS COERENTES


Pensa-se por vezes que a coerência é uma característica interessante e laudatória de um argumento.

Acontece que isto é falso. A coerência não é uma característica interessante e laudatória de um argumento. Um argumento coerente pode ser péssimo, tanto por inválido quanto por ser circular ou por ter qualquer outro defeito elementar.

O caso mais evidente é este:

Aristóteles era grego.
Logo, Platão era grego.

Este argumento é coerente, no sentido em que não se contradiz, mas é tolo porque a conclusão não se segue da premissa. E o mesmo ocorre com a maior parte das falácias, como a falácia da afirmação da consequente:
Se Aristóteles nasceu em Atenas, era grego.
Aristóteles era grego.
Logo, nasceu em Atenas.

Este argumento é inválido — as premissas não sustentam a conclusão — mas é perfeitamente coerente.

Portanto, a coerência não é uma característica interessante e laudatória de um argumento. Ao invés, é uma característica que os maus argumentos, na sua maior parte, têm.
Escrito por Desidério Murcho
Retirado de Crítica: blog de Filosofia

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A COMPLEXIDADE DO SER HUMANO E O SEU INACABAMENTO BIOLÓGICO


Actualmente, sabe-se que o ser humano «é o resultado de uma complexa história de desenvolvimento, em que se entrelaçam factores hereditários e experienciais» (Telford e Sawrey). Todavia, foram várias as concepções que surgiram que aceitavam apenas o Homem enquanto dimensão genética, como a concepção preformista. O preformismo defende que a acção genética é a única causadora do Homem enquanto ser, não importando o meio em que está integrado. Tudo o que somos está já predeterminado, somos fruto da nossa hereditariedade.
Obviamente, esta teoria não foi corroborada, pelo contrário, sabemos que a verdade se encontra na concepção epigenética. A epigénese diz-nos que o ser humano resulta do seu código genético e da interacção com o meio. O meio adquire, assim, um papel fundamental no desenvolvimento do Homem. O que nos leva a considerar que somos seres inacabados quer física quer psicologicamente, pois a existência humana deriva de inúmeros acontecimentos e do nosso potencial herdado. O nosso inacabamento pode-se dizer ser duplo, dado que somos caracterizados pelo inacabamento mental – prematuridade -, e pelo físico – neotenia. A prematuridade permite-nos crescer e desenvolver psicologicamente da melhor forma possível, se inicialmente temos necessidade de aprender a falar, caminhar, escrever (ao contrário dos animais, que nascem com uma Natureza dada), conseguimos facilmente evoluir para um estado racional muito superior. Já a neotenia permite o nosso mais correcto crescimento físico, crescemos progressivamente, sendo que o nosso cérebro, por exemplo, nunca pára de crescer.
O inacabamento humano traz, deste modo, inúmeras vantagens, pois possibilita a evolução progressiva do ser humano, este é, pois, capaz de se adaptar e, em função das condições em que terá de crescer, desenvolver-se. Somos portanto capazes de produzir um organismo cada vez mais complexo, como afirma o excerto.
O ser humano caracteriza-se, assim, pela complexidade do seu desenvolvimento, que nos leva a considerar o quão perfeita a Natureza é!

Patrícia Cruz, nº22 -12ºC

terça-feira, 10 de novembro de 2009

VIVER PARA QUÊ?





Filosofia Pública Dinalivro

Direcção de

Pedro Galvão Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa

Esta colecção proporciona aos leitores de língua portuguesa antologias de ensaios filosóficos centrais. As antologias incidem em questões capazes de interessar a um público muito amplo, e não apenas a investigadores e professores especializados. Cada um dos livros reúne ensaios de qualidade internacionalmente reconhecida, introduzindo o leitor num debate filosófico vivo em que as diversas perspectivas são defendidas pelos que melhor as representam.
2009
Viver Para Quê? Ensaios Sobre o Sentido da Vida Organização e tradução de Desidério Murcho, Universidade Federal de Ouro Preto
Retirado de Crítica na Rede

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O PAPEL DA ACÇÃO GENÉTICA NOS SERES HUMANOS


“Toda a pessoa é o resultado de uma complexa história de desenvolvimento, em que se entrelaçam factores hereditários e experienciais. Começa a vida como uma célula única, cujo potencial hereditário se apresenta em forma de mecanismos meticulosamente codificados. Durante o curso da sua existência um número imenso de acontecimentos multiculturais interage com o potencial herdado, para produzir um organismo cada vez mais complexo”.

(Telford e Sawrey)

Hoje em dia, é ponto assente que a hereditariedade e o meio ambiente não poderão ser tomados como factores isolados na análise do ser humano. ( «Toda a pessoa é o resultado de uma complexa história de desenvolvimento, em que se entrelaçam factores hereditários e experienciais.»).
Não foi, todavia, sempre assim. A comprovar-se pela concepção preformista, que defendia que toda a estrutura humana já se encontrava no interior do ovo (homem em miniatura – homúnculo), sendo que a sua evolução apenas se daria relativamente ao aumento de tamanho. É, portanto, uma teoria determinista, pois considerava que toda a informação já se encontrava ancorada no código genético, descurando a influência do meio ambiente na evolução humana.
Esta teoria foi, posteriormente, posta de lado, uma vez comprovada a influência do meio ambiente no homem. O ser humano, através da aprendizagem, por exemplo, desenvolve capacidades cujo registo não se encontrava no código genético. Tal vai de encontro à ontogénese, que não só promove a variabilidade individual que escapa ao determinismo genético, como também prolonga os efeitos da genética sem serem por estes determinados.
Esta influência do meio ambiente vai ser, também, essencial para ultrapassar o inacabamento humano, uma vez que se trata de um ser prematuro e neóteno, isto é, inacabado psicológica e fisicamente, respectivamente.
“Retiram-nos do forno ainda a meia cozedura”: de facto, as capacidades físicas e psicológicas do ser humano estão ainda, no momento do nascimento, por desenvolver. Não é capaz, como um bezerro ou veado, por exemplo, de se erguer (e repeti-lo insistentemente após tentativas falhadas) logo após ter saído do seio materno. O homem não pode ser considerado um ser detentor de livre-arbítrio logo que nasça.
Assim, esta constante (e desafiadora) evolução humana, permite que o ser humano seja capaz de se adaptar ao meio que o envolve, de ter sede de possuir mais conhecimentos, e criatividade também, para conseguir ultrapassar os desafios que enfrenta ao longo da sua vida, o que favorecerá o aparecimento de adaptadas e diferentes culturas.
O Homem torna-se, assim, um (e o) ser mais completo e complexo, capaz de superar a hipotética e aparente desvantagem do inacabamento humano.

Antea Gomes, nº5 - 12º C

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

FICHA SOBRE AS FALÁCIAS INFORMAIS


Indica o nome das falácias presentes nos argumentos seguintes:

1 -Podemos aceitar que há fenómenos telepáticos, porque até agora não se provou que não existem.

2- Os alunos ou têm o desejo de aprender ou não têm.

3 - A razão porque se dissolve o açúcar é porque ele é uma substância solúvel.

4 - A tua tese de que a alma é imortal não tem qualquer fundamento, porque já estiveste preso e, ainda por cima, chumbaste dois anos seguidos na disciplina de Filosofia.

5 - Durante a reunião, tive muita dificuldade em concentrar-me. O João não parava de fumar. O fumo foi, obviamente, a causa da minha dificuldade de concentração.

6 -Ou me amas ou me odeias!

7- A nossa teoria é, sem dúvida, a melhor. Aquele que a contestar será enforcado.

8 -Fui eu quem cometeu esse crime, mas não mereço uma pena tão pesada. Faço um apelo a quem tiver um coração a bater dentro do peito para que pense na dor dos meus filhos quando souberem que o pai foi encarcerado, e na saudade que eu vou sentir por estar longe deles.

9- «O que fulano diz sobre o balanço da empresa não pode ser levado a sério. Afinal ele traiu a mulher,..»

1o - «A Bíblia é perfeita porque é a Palavra de Deus. E como sabemos que é a Palavra de Deus? Ora, pela sua perfeição.»

11 - «Porque é que sou a pessoa mais indicada para liderar o partido? Porque, de entre todos os outros candidatos, considerando as minhas qualificações, sou a melhor pessoa para o cargo.»

12 -«Se o carro do Pedro tem a mesma cor do João, então é provável que consuma o mesmo do João – 51/100 km.»

13 -«Quem não é por mim é contra mim. Você não me apoia na campanha. Logo, você vai lutar contra a minha eleição.»

14 -«Quem faz uma... faz duas ou três. O relógio deixou de ser visto logo após a sua saída. Portanto, foi você que o roubou.»

15 -«Amanhã tens de saber a tabuada, senão vais ver quantas vezes tens de a copiar…»

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

FAMÍLIA iii


A partilha da socialização por vários agentes


«A família já não é o agente central da socialização na nossa sociedade como o foi noutros tempos e noutras sociedades. Com muito maior importância surgiram, fora do âmbito da unidade domés­tica, as instituições especializadas de carácter educativo. Mesmo durante o período pré-escolar, a família foi afectada por certos factores que lhe são exteriores. Sem contar com o número cada vez maior de creches pré-escolares, temos ainda o aparecimento do que se pode designar por indústria de orientação e conselhos aos pais, onde se incluem as grandes lojas para mães e as aulas especiais. E, além disso, não devemos esquecer os efeitos da televisão ao fornecer modelos de vida e de socie­dade que podem estar, eventualmente, em desacordo com aqueles que a família oferece.
Embora, em muitos casos, as funções de socialização da família tenham sido substituídas por outras instituições mais formais, seria errado sugerir que a família e a educação existem como instituições independentes na nossa sociedade.»

Peter Worsley, Introdução à Sociologia, Publicações Dom Quixote, 1974 (adaptado)

FAMÍLIA ii


A evolução das famílias

«Sofrendo o impacto da modernização da sociedade portuguesa, a vida familiar regista algumas mudanças assinaláveis. Salienta-se a diminuição da dimensão média da família e o aumento dos agregados de pessoas sós ou o decréscimo dos agregados numerosos e das famílias complexas. Por outro lado, como reflexo provável da descida e adiamento da fecundidade, do aumento do divórcio ou do envelhecimento populacional, diminuem as famílias de casal com filhos e aumentam as de casal sem filhos e as monoparentais.»

Sofia Aboim, "Evolução das estruturas domésticas (Dossiê «Famílias no censo 2001: caracterização
e evolução das estruturas domésticas em Portugal»)" in Sociologia — Problemas e Práticas, n.º 43, Janeiro de 2004


A família em mutação


«A família actual já não corresponde ao esquema tradicional enaltecido pela sociedade industrial. As gerações já não coexistem sob o mesmo tecto, e a importância da autoridade paterna decresce à medida que se impõe a afectividade como valor essencial. Não existe desagregação, mas a mutação profunda da família que, não se limitando a um modelo único, antes se desdobra em diversas modali­dades de que não tínhamos, até agora, nenhuma experiência.
As transformações do nosso século modificaram profundamente o tecido social. (...) O emprego das mães, por exemplo, retira-lhes tempo para consagrar à família. (...) Como corolário aparece o novo pai, mais à vontade nas tarefas que, outrora, eram estritamente da alçada da mãe, como os cuidados prestados ao bebé.»
Jean-Pierre Pourtois, Hugutte Desmet e Christine Barras, "Educação Familiar e Parental" in Inovação, vol. 7, 1994

FAMÍLIA


Conceitos elementares sobre a família

«Uma Família é um grupo de pessoas unidas directamente por laços de parentesco, no qual os adultos assumem a responsabilidade de cuidar das crianças. Os laços de Parentesco são relações entre indivíduos estabelecidas através do casamento ou por meio de linhas de descendência que ligam familiares consanguíneos (mães, pais, filhos e filhas, avós, etc.). O Casamento pode ser defi­nido como uma união sexual entre dois indivíduos adultos, reconhecida e aprovada socialmente. Quando duas pessoas se casam, tornam-se parentes; contudo, o casamento une também um número mais vasto de pessoas que se tornam parentes. Pais, irmãos e outros familiares de sangue tornam-se parentes do outro cônjuge através do casamento.»

Anthony Giddens, Sociologia, Fundação Calouste Gulbenkian, 2004, 4ª edição

domingo, 1 de novembro de 2009

SABEDORIA SEM RESPOSTAS


Uma Breve Introdução à Filosofia



"Como o apresentaria Sócrates ao estudo da filosofia? Provavelmente como faz este livro. Trata-se de uma obra deliciosamente provocadora que o ajuda a entender a filosofia como a entendiam os grandes filósofos: uma actividade feita de questionamento e raciocínio, e não apenas um conjunto de informações. Em 14 capítulos cheios de vivacidade, aprenderá a evitar as respostas fáceis e será conduzido ao mundo fascinante do pensamento filosófico. Serão examinadas algumas das questões fundamentais:

Deus existe?

Porque existe o Universo?

O que é o eu?

Qual o significado da vida?

Que é a morte?

Dispomos de livre-arbítrio?

Que é o conhecimento?

Que significa a moral?

O leitor poderá abordar frontalmente estas perguntas e explorará os modos como elas o afectam. E aprenderá a abandonar as respostas preconcebidas e a pensar de forma crítica nas ideias filosóficas que podem transformar a sua vida."

Aqui fica o Prefácio da obra como forma de despertar a curiosidade para a leitura.

"Sócrates era o filósofo por excelência. Sabia apenas isto: que, em última análise, nada sabia. Mas possuía a capacidade de mostar aos outros, por mais sofisticados ou eruditos ou pretensiosos que fossem, que também eles nada sabiam.
Sócrates usava a filosofia para pôr tudo em causa, mesmo aquilo que ele tomava como garantido ao pôr tudo em causa! Usou a filosofia - como todos os verdadeiros filósofos usam - para mostrar como podemos tirar o tapete debaixo dos nossos próprios pés, como cortar através do escudo de respostas que nos separa do mistério.
Este livro dá ao leitor as boas-vindas à filosofia da forma como Sócrates, se ainda estivesse por cá, o faria: pondo-lhas fora do alcance durante o tempo suficiente para que possa ter a experiência da sabedoria do desconhecedor.
Muitas pessoas chegam à filosofia com a impressão falsa de ela ser apenas de um corpo de conhecimento. Esperam receber informação em vez de pensarem por si mesmas. Muitas vezes pressupõem ter as respostas para as perguntas que os filósofos pretendem reabrir de uma nova forma. Por conseguinte, os filósofos queixam-se muitas vezes de que os seus estudantes não estão nem motivados nem preparados para lidar com a matéria usada nas disciplinas introdutórias.
Este livro está concebido para resolver os problemas da motivação e da preparação. Mostramos, em vez de dizer, que a filosofia é uma actividade de perguntar e raciocinar e não um corpo de informação. Envolvemos os estudantes nas competências de que necessitam para interagirem criticamente com a matéria tipicamente apresentada numa disciplina introdutória. E, sobretudo, desconstruiremos sistematicamente a afeição dos estudantes pelas respostas feitas, deixando-os preparados para dar novos sentidos às coisas." (...)


Sabedoria sem Respostas, Uma Breve Introdução à Filosofia, Daniel Kolak e Raymond Martin

Temas e Debates, 1ª edição: Fevereiro 2004