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quarta-feira, 31 de março de 2010

JORGE LUÍS BORGES



"Não criei personagens. Tudo o que escrevo é autobiográfico. Porém, não expresso as minhas emoções directamente, mas por meio de fábulas e símbolos. Nunca fiz confissões. Mas cada página que escrevi teve origem na minha emoção".
Jorge Luís Borges

Olho para esta citação e penso que eu própria a podia ter escrito. É-me tão verdadeira. Também me sinto assim quando escrevo. Quando escrevo direcciono-me para alguém. Para alguém imaginário mas que me pertence. Esse misterioso alguém conhece-me, pelo que, não preciso de lhe explicar nada. Ele sabe o que sinto e porque o sinto. Sabe a razão de cada lágrima e de cada sorriso. Sabe o que sonho e o que me preocupa. Ele é o meu outro eu que não existe. Ele sabe o que digo quando me deixo levar e ”penso não imaginando”.
Cada personagem que acho ter criado é um pedaço de mim. Cada conjunto de palavras é o meu próprio eu.
A escrita dá-nos o poder de divagarmos sobre nós. E de o fazermos sem “dizer” que o fazemos.
Todos escrevemos de acordo com o que nos corre na alma. Ela é o rio que comanda as sensações. E como os rios vai sempre em direcção ao mar. E, por isso, as sensações que são as gotículas de água, também irão sempre na sua direcção. Mas, umas seguem pelo caudal principal. Outras, por vezes, distraem-se e entram em ribeiros, riachos e contrariam a corrente por momentos. E mesmo que sejam a “super gota”, acabam sempre por lá chegar. No mar estará o meu outro eu à sua espera. E quando me distraio, ele apanha-as e, surpreendentemente, mostra-me o que encontrou e exclama: ”Aqui está a gotícula desse teu sorriso. Ela foi mais forte que a gotícula da lágrima! Pensa nela e em mim! Pensa nos dois. E sorri. Porque eu, o teu outro eu, sabe que neste momento apenas queres sorrir!”.

Maria João Foz

terça-feira, 30 de março de 2010

JORGE LUÍS BORGES - NO LABIRINTO DAS PALAVRAS iii


«Como o outro, este jogo é infinito.»
Cito como inter-título um enigmático verso de Jorge Luís Borges, o último do seu poema “Xadrez”, de que gosto especialmente (mesmo sem saber de que «outro» jogo nos fala o poeta), para dar conta das minhas escolhas na quase infinitude do trabalho literário borgiano. Naturalmente, neste universo labiríntico de erudição imaginária, de ficção lúdica, sobressaem dois títulos significativos das intenções literárias do seu autor na década em que a cegueira progressiva lhe dava a vida em sombras: com Ficções/Ficciones (1944) e O Aleph/El Aleph (1949) Borges consolida-se agora como “grande narrador” em detrimento da voz lírica das suas obras de juventude.
O primeiro inclui duas colectâneas de contos “O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam” (1941) e “Artifícios” (1944). Não é fácil medir o grau exacto de estranheza produzida no leitor por estas “narrativas”, quase carentes de intriga e personagens. São situações envolventes, às vezes, perturbantes, saídas da pena de um filósofo-poeta de sensibilidade e inteligência superiores, cuja voz narrativa ela própria se bifurca para nos deixar em vaivém entre o ensaio e o conto. Imaginação e espírito crítico, fantasia e ciência, ficção e realidade parecem ser nestes contos uma só e única coisa.: fragmentos densos de uma reflexão aguda sobre o mundo e as obras do espírito. Ou não fosse em Ficções que “lemos” na mítica biblioteca de Babel, uma biblioteca infinita alinhando todos os livros “possíveis”, em resposta ao humano desejo de encontrar “o livro dos livros”, aquele que nas suas páginas teria a resposta a todos os mistérios da condição humana.
Em Ficções, destaque ainda para «O Sul», último conto da colectânea e o favorito de J. L. Borges, cuja inspiração autobiográfica o autor assume. Aí, na personagem de um leitor fervoroso, se retomam, no espelho da literatura, as vicissitudes que lhe marcaram o destino e a obra: um acidente estúpido, febre e alucinações, uma clínica, uma operação à cabeça e, claro, a nostalgia – tão ou mais íntima do que geográfica - de um bairro do sul de Buenos Aires.
Poucos anos volvidos, esta via apaixonada do conto fantástico será prosseguida e consolidada por Borges com O Aleph, nova recolha de novelas que lhe dará celebridade internacional e a que Jorge Luís Borges se referiu como «este livro […] susceptível de repetições, de versões e de perversões quase inesgotáveis». Histórias insólitas de personagens estranhas, semi-monstruosas, em estado de solidão, contadas num estilo próprio, quase a tocar o romance policial, nutrem-se, em última análise, de metafísica e de teologia. Os temas heteróclitos de sempre na literatura borgiana: o tempo, o eu, o outro, o sonho, o infinito, os labirintos que se erguem dentro de cada homem e os caminhos que se bifurcam. Recordo “O Imortal”, o primeiro conto de O Aleph que pode ler-se como uma biografia do pensamento e da existência humana tão dolorosa como exaltante. Já do último texto, o que dá título à obra, onde se sente o amor como motivo, disse Borges ser este «uma vaga paródia de Dante».
Excelente complemento da colectânea precedente, este novo volume de contos, literariamente mais maduro, segundo os especialistas, surge-me, de leitura ainda menos fácil, até porque, num exercício de subtil arquitectura narrativa, os contos parecem ser ecos sucessivos uns dos outros, como se Borges os tivesse (re)escrito em busca do conto perfeito, ou melhor, de um poema perfeito, já que, afinal, era como poeta que queria ser recordado.
Por último, O Fazedor/El Hacedor (1960). Livro caleidoscópico - miscelânea de narrativas breves, parábolas, poemas líricos, contos, ensaios, e meditações sugeridas - cujas páginas lembram notas apressadas, propícias ao ditado e/ou à memorização. Como sempre, textos curtos, concisos, de grande densidade e força inventiva, admiravelmente bem escritos e, assim, capazes de darem corpo aos sonhos e/ou de se ramificarem na imaginação de quem os lê. E não sendo o amor, decerto, um traço nuclear da prosa de Borges, aqui o encontramos em verso ou em prosa poética, nem que seja na arte alusiva da passageira recordação de uma paixão antiga.
E de novo a autobiografia. Na verdade, num traçado aparentemente aleatório, facilmente pressentimos os passos e a imagem do poeta no sentido grego da palavra -«aquele que faz» e mesmo aos costumeiros contos fantásticos não faltam laivos de realidade como se cada “peça” que compõe esta obra-plural tivesse nascido de uma verdadeira necessidade interior de o criador/”fazedor” se descobrir uno no seu labirinto. Ora, desta centralidade de O Fazedor no seu universo literário e vivencial nos dá conta o próprio Jorge Luís Borges, defendendo no epílogo da obra: «de quantos livros publiquei, creio que nenhum é tão pessoal como esta desordenada, indisciplinada colectânea, precisamente porque fértil em imagens e interpolações».
De facto, há vários textos e poemas em que o homem Borges se presentifica, como quando, com extraordinária tonalidade descritiva, nos fala da cegueira da personagem Heitor, no conto «O Fazedor», e, no «Poema dos Dons», se lhe refere poeticamente escrevendo: Ninguém rebaixe à lágrima ou à censura/ Esta declaração da maestria/De Deus, que com magnífica ironia / Me deu os livros e a noite escura.
Último destaque para o Borges admirador da literatura e história portuguesas. Em O Fazedor há um poema dedicado a Camões e à sua «Eneida Lusitana» e outro, «Os Borges», onde o escritor confessa, por interposta pessoa da voz poética que nele fala: «Bem pouco ou nada sei de meus maiores/ Portugueses, os Borges: vaga gente/Que prossegue em minha carne obscuramente, seus hábitos rigores e temores.»
Não sendo um dos livros mais conhecidos de Borges, O Fazedor é a minha sugestão de leitura para os - como eu - iniciantes no estilo tão surpreendente e irónico como subtil e erudito, mas nunca acidental, de Jorge Luís Borges.
Jorge Luís Borges: literatura; prosa e poesia; um “homem de Letras”; uma escrita única, com “carácter”, inusual - pela simplicidade extrema, pelo insólito de uma quase “secura”estilística em paradoxal osmose com uma notabilíssima erudição - que, mesmo assim ou talvez por isso mesmo, opõe ao leitor dificuldades singulares.
Por mim, gosto definitivamente muito de versos como estes do poema “Ariosto e os Árabes”: «Ninguém pode escrever um livro. Para/Que um livro seja verdadeiramente/Requerem-se a aurora e o poente/Séculos, armas e o mar que une e separa.» São lindos e bem o exemplo de que, pela sua serenidade melancólica, pelo tom grave, quase “ingénuo” e sem ostentação, mas pleno de “filosofia”, a poesia de J. L. Borges, no seu conjunto, será um extraordinário e alucinante inventário de nós mesmos.
Quanto às suas “ficções”, pelo seu ineditismo, intertextualidade, carácter plurissignificante e actualidade inquestionáveis, merecem que haja sempre quem as leia e nelas procure as “chaves” da sua escrita desafiante, porque, afinal, como escreveu João Palma-Ferreira, um dos seus tradutores em Portugal, «Borges (…) leva tempo a amadurecer e ainda muito mais a admirar»!

Profesora Dulce Martinho

segunda-feira, 29 de março de 2010

JORGE LUÍS BORGES - NO LABIRINTO DAS PALAVRAS ii



«Sempre imaginei o paraíso sob a forma de uma biblioteca» declarou Borges numa conferência de 1978, dedicada espantosamente à cegueira – a sua e a de valores tão duradouros da literatura como Homero, Milton, James Joyce. Curiosa afirmação para um escritor obrigado a ditar os seus textos e que à cegueira dedicou textos admiráveis, considerando-a esse «lento crepúsculo» que durou cerca de meio século e «o resultado de um destino» intensamente assumido e com valor significante no seu universo literário.
Muitas outras páginas e conferências preciosas consagraram Jorge Luís Borges a um tema que lhe era verdadeiramente consubstancial: o culto do livro, sem o qual dizia não imaginar a vida e, para si, «não menos íntimo do que as mãos ou os olhos». Ao livro, classifica-o como «extensão da memória e da imaginação», acontecimento estético carregado de passado, lugar e objecto de felicidade.
Leitor ávido, nascido e criado em casas onde havia vastíssimas bibliotecas, viveu profissional e academicamente rodeado de livros que continuou a adquirir, coleccionar e amar mesmo quando já cego. À sua relação com os livros, as enciclopédias, os escritores e as bibliotecas voltou Borges literariamente inúmeras vezes. A título de exemplo, lembro duas conferências - “O Livro” e “Cegueira” – e os celebrados contos “A Biblioteca de Babel” e “Pierre Ménard, autor do Quixote”, onde espelhos disseminados pelas salas duplicam estantes labirínticas e a reescrita de textos consagrados, elevada à condição de sistema de escrita, metaforicamente cria o dédalo que é, de novo, o livro.
O «homem-livro ou antes o homem-biblioteca», como lhe chamou o autor francês Jean Pierre Bernés parece, assim, querer dar-nos com esta veneração literária pelo labirinto/biblioteca a imagem do cosmos, da vida em-si ou, diz-nos Eduardo Prado Coelho, para Borges a biblioteca - espécie de representação mítica do conjunto da sua obra - «tornar-se-á igualmente o símbolo do infinito da própria literatura, onde todas as palavras são convocadas para dizerem aquilo que escapa a todo o dizer».

Professora Dulce Martinho

domingo, 28 de março de 2010

JORGE LUÍS BORGES - NO LABIRINTO DAS PALAVRAS



« (…) o texto é um campo aberto onde cada leitor deposita as suas esperanças, os seus desejos, a sua cultura. A obra só vive quando sobre ela se depositam os olhos do leitor.»
Jorge Luís Borges (1980)

« (…)[Borges] não se limitou a produzir e a estudar literatura, mas acabou por fazer de si mesmo e dos seus textos o próprio espaço da literatura. E levou tão longe este processo que no conjunto da sua obra temos dificuldade em separar o que é do domínio da ficção, do domínio da poesia e do domínio do ensaio»
E. Prado Coelho (2001)

Afinal, há coincidências! Desafiada, dias antes, para escrever para a Katársis um texto em torno da figura literária de Jorge Luís Borges - um dos grandes criadores do século XX de cuja obra conhecia quase nada - o acaso das minhas leituras de fim-de-semana trouxe-me duas vezes o, considerado por muitos, maior escritor argentino.
Primeiro, foi uma curta citação que reproduzo: «Se tens algo a dizer ou uma mensagem a comunicar, escreve uma carta. Um romance é para contar uma história»; depois, surpreendentemente, num artigo sobre música, retomavam-se reflexões borgianas sobre autoria e interpretação da obra da arte na sua relação com os contextos de produção e de leitura. Pelo caminho, era lembrada a sua personalidade enigmática e fascinante e referidos dois dos seus contos mais famosos: “Pierre Ménard, autor do Quixote” e “A Biblioteca de Babel”.
Então, ainda mais consciente da gravidade da minha ignorância, decidi que importava, antes de mais, ler de e sobre quem assim era citado e reconhecido como um autor de primeiro plano em todo o mundo. Do muito que aprendi, partilho, agora, convosco algumas notas bio bibliográficas.

O escritor que gostava de livros e de bibliotecas
Bisneto de marinheiro português e cidadão do mundo, autor de língua espanhola (ou quase bilingue, pois foi igualmente educado em língua inglesa) detentor de cultura universal, poliglota, Jorge Luís Borges, algumas vezes apontado como literariamente próximo de Pessoa, foi poeta, contista, ficcionista, crítico literário, ensaísta, professor de literatura, conferencista… e assinou obra de difícil classificação, constituída por largas dezenas de títulos dispersos pelos géneros poético, “fantástico”, policial e do ensaio filosófico.
Nascido em Buenos Aires em 1899, aí cresceu rodeado de livros na casa do avô paterno; educado depois por anos de Europa (Suíça e Espanha), para onde vêm em 1914, Jorge Luís Borges cultivará livremente fortes raízes culturais e familiares anglo-saxónicas, mas regressará ao país natal e à cidade da sua infância em 1923, para aí fundar revistas e publicar o seu livro de juventude Fervor de Buenos Aires em mágicos poemas de verso livre.
Sempre participando activamente na vida cultural do seu país, tornar-se-á director da Biblioteca Nacional da Argentina entre 1955 e 1973. Só o avanço da cegueira de que padecia desde 1938, hereditária, mas agravada na sequência de um acidente doméstico, o impedirá de continuar nesta profissão. Na última década da vida, viajará pelo mundo – incluindo Portugal - dando cursos e conferências que o vieram a revelar igualmente como um grande criador de literatura oral.
Morrerá em Genebra em 1986, depois de ter recebido vários prémios literários internacionais, mas nunca o Nobel da Literatura. Assim ficará na história das letras mundiais como “ o escritor que falhou o Nobel”.
Do conjunto da sua obra constam títulos famosos, que se inscrevem já nos clássicos na literatura contemporânea, como Discussão, História Universal da Infâmia, O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam, História da Eternidade, O Aleph, O Autor e Outros Textos, História da Eternidade, Ficções, Labirintos, Inquirições, Outras Inquirições, O Fazedor, O Livro de Areia, Atlas (1985) - a sua última obra publicada - que inclui poemas, impressões de viagens, notas e meditações sobre sonhos. Da sua obra poética destaque ainda para O Ouro dos Tigres, A Rosa Profunda e História da Noite.
Foi no espaço labiríntico destas páginas reveladoras de uma imensa cultura literária - preferentemente orientada para temas ligados às literaturas inglesa, greco-latina e oriental - que fui folheando, ensaiando leituras avulsas, em prosa ou em verso, autorizada pelo gosto do próprio Borges que dizia apreciar particularmente os livros que podem ser abertos em qualquer página sem decepção de maior.
Registo uma primeira e, para mim, curiosa conclusão: afinal, J. L. Borges nunca escreveu um romance enquadrável no grande género literário “filho” do século XIX e terá até afirmado: «No transcurso de uma vida consagrada principalmente à literatura, li poucos romances e, na maioria dos casos, só cheguei à última página pelo senso do dever. A sensação de que grandes romances como Dom Quixote e Huckleberry Finn são praticamente amorfos serviu para reforçar o meu gosto pelo formato do conto».
De facto, Borges é lembrado internacionalmente como um dos grandes criadores do conto moderno, reconhecido, sobretudo, pelos seus textos curtos que desenvolvem magistralmente todo um universo ficcional e poético de alucinação, sonhos, figuras literárias revisitadas, máscaras, espelhos e seus múltiplos reflexos, títulos surpreendentes e oníricos – sem ignorar o encanto mágico de Buenos Aires, juntamente com pampas, milongas e tangos - numa espécie de labirinto que, sem metáfora, é o próprio texto.
Estas são as “ficções” borgianas, histórias concisas de especulação fantástica que frequentemente surgem “mascaradas” de ensaio sobre temas eruditos ou tomam a forma de contos de aventuras ou policiais. Afinal, diferentes caminhos percorrendo o labirinto da natureza humana e dos seus esforços para chegar ao conhecimento completo e ordenado. Tentativas que podem falhar, mas nunca deixar desvanecer as crenças comuns, e revelam a paradoxal natureza do tempo, da linguagem e do pensamento, temáticas eternas do penetrante trabalho literário de Borges.
Jorge Luís Borges afirmava pouco conhecer da sua ascendência portuguesa, mas evoca muita vezes o avô, o coronel Francisco Borges, nos seus poemas. Cf, entre outros, «Os Borges», in O Fazedor, Lisboa, Difel, p.99.
Sendo certo que a sua obra em múltiplos aspectos se cruza e radicalmente se diferencia com/da de Fernando Pessoa, a verdade é que Jorge Luís Borges, em 1980, em entrevista a António Mega Ferreira, afirmava nunca ter lido Pessoa.

Professora Dulce Martinho

sexta-feira, 26 de março de 2010

OS SOLITÁRIOS


Os Solitários (Noite de Verão)
(Retirado do Friso Reinhardt), 1906/07
Têmpera sobre tela
Museu Folkwang, Essen

« Na realidade, a minha arte é uma confissão feita de minha própria e livre vontade, uma tentativa de tornar clara a minha própria noção de Vida... no fundo é uma espécie de egoísmo, mas eu não desistirei de ter esperança de que com a sua intervenção eu possa ser capaz de ajudar outros a atingirem a sua própria clareza.»

Eduard Munch

quinta-feira, 25 de março de 2010

ZERO NEGATIVO




Tinha os cabelos ruivos, ruivos
a ameaçar meios pregos e a pele clara de neve
por reciclar. Chegava com o meigo cansado sono
de fazer estragos e já mal os conhecia
como antes o não conhecer
feroz nada dizia. Sentava-se
e procurava um homem só
vulnerável. Depois cingia o ar de guerra
nas escadas, o álcool por estourar ou só as latas
já invólucros, já cartuchos, a cor dos couros.
Pouco aos dias sobrevive.
Há as tardes e as noites e as manhãs
sem custo se perderam. A mesma névoa produzida
das cidades, teima o mesmo rio a vocação
do zinco, ferindo o lodo em sossego,
as mesmas luzes a abater
sinais de território.
Por vezes descobria os braços. Não raro procurando
calhas, vagas subterrâneas, túneis principais
a interceptar. Até à derrocada.

J. A.

terça-feira, 23 de março de 2010

BARAKA


Filme “Baraka”
No nosso quotidiano por vezes não temos tempo para pensar na vida ou em questões acerca dela, mas em determinadas circunstâncias elas surgem, tais como no casamento, na morte, etc. …e são nessas alturas que procuramos respostas mais concretas que respondam às nossas dúvidas interiores. Quando a nossa cultura não nos responde, procura-se a resposta noutras. Cada cultura tem um modo particular de encarar questões muito humanas, como por exemplo, “o que acontece após a morte?”; “qual é a finalidade da nossa existência?” e cada uma responde à sua maneira. Uns encarnam uma só vez e quando morrem o espírito parte e nunca mais regressa à Terra, o luto é de negro e a tristeza é a marca, noutros é a alegria, pois acreditam que quando o corpo morre, a alma encontra finalmente a verdadeira felicidade.
Todas as religiões têm como finalidade dar uma razão de viver, uma razão de praticar o bem e sobretudo garantir que depois da morte haverá uma felicidade plena.
Nós, humanos, vivemos quase sempre como se fossemos imortais mas, quando a velhice “aperta”, qualquer esperança é útil.

Jacinta Ferreira – EFA - Arc. Maias

domingo, 21 de março de 2010

O LIVRO É UMA EXTENSÃO DA MEMÓRIA E DA IMAGINAÇÃO



O livro tal como disse Jorge Luís Borges é um prolongamento da memória e da imaginação numa aplicação concreta, o livro. Podemos afirmar isso pois sabemos que um autor não consegue ser totalmente imparcial ao escrever um livro. É na parte subjectiva do escritor que entra a memória e a imaginação do mesmo.
A memória pode ser associada às vivências do autor que interferem na maneira como escreve, o assunto ao qual dedica as suas palavras, e a maneira como encara esse tema.
A imaginação é o complemento de tudo o resto é como se fosse o tempero. É a imaginação que vai provocar ao leitor uma mistura de sensações e emoções que diferem e que vão ser cruciais para se gostar ou não do livro.
Existem, contudo, livros que aplicam só uma destas partes. Existem livros que têm só conteúdo cultural e por isso aplicam só a memória e outros como os infantis que algumas vezes aplicam só a imaginação. Mas isto tem uma explicação. Os livros culturais aplicam só a memória porque servem para trabalhos que têm de ser encarados o mais seriamente possível. Os de Histórias são para crianças e daí o conhecimento do mundo quotidiano ainda não ter grande interesse em ser aí aplicado.

Raquel Rei, 12ºB

sexta-feira, 19 de março de 2010

O SOM DO CORAÇÃO



O som do coração

Uma envolvente noite em Nova Iorque marca o amor profundo e intenso vivido por um jovem guitarrista irlandês (Louis Connely) e por uma jovem violoncelista (Lyla Russel). Desta relação nasceu Evan Taylor, mais tarde apelidado de August Rush, com um dom apurado para a música.
A força das circunstâncias separou o filho dos pais e separou também os pais.
O filho tornado órfão cresce com características peculiares que denunciam o seu talento.
A consciência da existência dos progenitores é notável pela rejeição à adopção. Saído do orfanato, em busca de um destino com identidade, associa-se a um desconhecido que faz uso da sua capacidade artística para obter lucro. Contudo, unidos fatalmente pelo sentimento e pela música a vida desta família é virada para o som que lhes vem do coração.
A música em primeiro lugar na classificação das suas prioridades viria a ser responsável pelos seus percursos inseparáveis. A história, com um desfecho colorido, desperta-nos para o verdadeiro sabor da vida, quando os sentimentos reprimem os embaraços mais complicados. Tem ainda a vantagem de nos fazer interessar por momentos simples vividos através dos sentidos. Não é indiferente o sorriso esboçado por August Rush ao ouvir os sons da rua, ao sentir a energia humana.
O filme com esta criança genuína, no papel principal, é um precioso complemento que nos ensina que o sucesso pessoal e profissional é proveniente da paixão que expressamos. A ascensão acaba por acontecer quando sentimos com alma, por isso e por mais razões, não deixemos de escutar…

Marisa Borges, 12ºA

quinta-feira, 18 de março de 2010

SOU


Sou o que sabe não ser menos vão
Que o vão observador que frente ao mudo
Vidro do espelho segue o mais agudo
Reflexo ou o corpo do irmão.
Sou, tácitos amigos, o que sabe
Que a única vingança ou o perdão
É o esquecimento. Um deus quis dar então
Ao ódio humano essa curiosa chave.
Sou o que, apesar de tão ilustres modos
De errar, não decifrou o labirinto
Singular e plural, árduo e distinto,
Do tempo, que é de um só e é de todos.
Sou o que é ninguém, o que não foi a espada
Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada.

Jorge Luís Borges, in " A Rosa Profunda"

quarta-feira, 17 de março de 2010

ENIGMAS DA EXISTÊNCIA


«Uma introdução à metafísica acessível, competente e apaixonante, escrita por dois filósofos de primeira linha.»The Times

O que é o tempo? Serei realmente livre ao agir? O que faz de mim a mesma pessoa que era em criança? Porque há algo em vez de nada? Será que sou realmente livre, ou tudo está determinado desde antes do meu nascimento? Se alguma vez deu consigo a fazer algumas destas perguntas, este livro é para si. Tratando ainda da existência de Deus e da constituição última da realidade, eis um guia para quem gosta de raciocinar cuidadosamente sobre estes e outros temas — incluindo o problema de saber o que é afinal a própria metafísica. Enigmas da Existência torna a metafísica genuinamente acessível e até divertida. O seu estilo vívido e informal dá fulgor aos enigmas e mostra como pode ser estimulante pensar sobre eles. Não se exige qualquer formação filosófica prévia para desfrutar deste livro: qualquer pessoa que queira pensar sobre as questões mais profundas da vida considerará esta obra um livro provocador e aprazível.

Título: Enigmas da Existência
Subtítulo: Uma Visita Guiada à Metafísica
Autor: Earl Conee e Theodore Sider
Colecção: Filosoficamente,
Preço: Euros 13,33 / 14,00
Págs.: 272
Filosofia
Editora: Bizâncio
(Disponível nas livrarias a partir do dia 22 de Março)

NO LABIRINTO DAS PALAVRAS


Professora Dulce Martinho

KATÁRSIS II



A revista katársis II é um projecto do grupo de Filosofia da Escola EB23/Secundária de Oliveira de Frades. Já vai no terceiro ano e consiste na divulgação de textos, poemas e coisas afins... dos alunos e professores. Na segunda revista deste ano destacam-se os textos reflexivos sobre diversos temas e poesia. O autor em destaque é Jorge Luís Borges, cuja obra não será do conhecimento de leitores menos atentos.
Nos próximos dias irei divulgar alguns textos dos alunos e excertos de uma análise apresentada pela professora Dulce Martinho, àcerca de Borges. A Revista assume-se como um espaço de partilha, tendo participações cada vez mais frequentes de professores.

segunda-feira, 15 de março de 2010

O MEDO


" Despertei na frescura da madrugada, enquanto os meus pés procuravam a roupa da cama, sacudida para trás quando a noite tropical atingiu um calor mais viscoso. La fora, ouviam-se as vozes de África, cantando ao som dos tambores e provenientes não se sabe de onde; os meus olhos estavam ofuscados pelo mosquiteiro e tudo o que conseguia ver à minha volta era sombras informes. Lenta e cautelosamente, de forma a não irritar os mosquitos, tacteei o lençol enrolado em bola junto aos meus joelhos. Cheirou-me mal, a suor e a repelente de insectos, quando o puxei para os ombros. Não procurava calor, procurava protecção. Lá fora, era o Congo e eu estava apavorado."

Rio de Sangue, Tim Butcher, Bertrand Editora, 2009

O medo é uma das emoções universais. Darwin considera que as emoções desempenharam um papel adaptativo fundamental na história da espécie humana, sendo determinantes na nossa capacidade de sobrevivência.

domingo, 14 de março de 2010

PEPSI OU COCA -COLA?


O investigador norte-americano Read Montague decidiu esclarecer uma questão que lhe suscitava perplexidade: nos anos 70 e 80 a Pepsi mostrava nos seus anúncios que as pessoas quando tinham de escolher, entre várias colas, a que tinha melhor sabor, optavam sempre pela Pepsi; contudo, era a Coca- Cola que liderava o mercado.
Em 2003, fez uma experiência para esclarecer o que se passava: com 67 voluntários fez o teste das colas, dando a provar amostras de Pepsi e de Coca -Cola sem identificação. Quando interrogados sobre qual tinha melhor sabor, a resposta foi clara: os copos que continham Pepsi. Tudo se alterou quando lhes foi mostrado os rótulos: a Coca -Cola passou a ser a preferida.
O investigador recorreu a um aparelho de ressonância magnética, que mostra o fluxo de sangue para as diferentes áreas do cérebro: assistiu, deste modo, ao que se passava no interior do cérebro dos voluntários. Quando não sabiam o que estavam a beber, eram estimuladas as zonas da mente associadas ao prazer; as áreas com funções racionais decidiam a preferência quando eram conhecidos os rótulos. Isto queria dizer que a campanha da Coca-Cola tinha conseguido influenciar as preferências dos voluntários de um modo de que nem eles próprios tinham consciência.

Livro do Aluno, Psicologia B, 12ºAno - Ser Humano

quinta-feira, 11 de março de 2010

CONCURSO DE FOTOGRAFIA



No âmbito das Comemorações do Centenário da Implantação da República, levadas a efeito na nossa Escola, pelo Grupo de História, o Clube de Fotografia associa-se à iniciativa promovendo o concurso cuja temática é “ Símbolos da Liberdade”, que decorrerá no 3º Período.
REGULAMENTO
Art. 1
O Concurso é aberto a toda a Comunidade Educativa.
Aos membros do júri é vedada a participação.
Art.2
O tema do Concurso é : Símbolos da Liberdade
Art. 3
Trabalhos
Os trabalhos poderão ser a cores e/ou a preto e branco (p&b).
Cada participante pode apresentar até três trabalhos.
Os trabalhos deverão ser apresentados em formato 20 x 15 cm.
Os trabalhos deverão ser entregues em subscrito fechado, em cujo exterior figurará apenas o pseudónimo do concorrente. No verso de cada trabalho deverá constar em letra legível o título da fotografia e a indicação do local de recolha da imagem.
Juntamente com os trabalhos deverá ser entregue um subscrito fechado contendo o nome, e-mail e no exterior a indicação do pseudónimo.
Art. 4
Prazo de entrega
Os trabalhos deverão ser entregues em mão, até final do mês de Abril de 2010, aos professores Isabel Laranjeira, Vitor Lino, Maria João, Francisco Matos e Jorge Marques.
Art. 5
Júri
a) O Júri será constituído por cinco elementos:
- Um fotógrafo;
- Dois elementos do Clube;
-Um aluno;
-Um professor de História.
A decisão do Júri é final e irrevogável.
Art. 6
Prémios
Serão atribuídos prémios aos três trabalhos vencedores.
Entre todos os trabalhos entregues serão seleccionados alguns para participarem numa exposição que decorrerá no Dia Aberto, na Escola.

Clube de Fotografia, Março 2010

quarta-feira, 10 de março de 2010

Oficina de Encadernação e Restauro de Livros


Alberto Fernandes
Destreza na arte do restauro e encadernação de livros.

Oficina de Encadernação e Restauro de Livros


Artesão Alberto Fernandes num dos momentos da Oficina.

Oficina de Encadernação e Restauro de Livros


Decorreu ontem na Biblioteca da Escola uma Oficina de Encadernação e Restauro de Livros.
Contou com a presença de um artesão do papel, Alberto Fernandes, que apresentou as técnicas e materiais mais aconselháveis na encadernação e restauro de livros.
Com destreza e profissionalismo este técnico mostrou-nos passo a passo como se faz o restauro de livros e dicionários.
Esta actividade foi levada a cabo pela equipa da Biblioteca, professores de E.V.T, E.T e E.V.

terça-feira, 9 de março de 2010


"Sorri um pouco, sorri. Na perene juventude do teu imaginar. Flor aérea que para sempre te ficou. Lembra devagar o teu sorriso de outrora no teu deslumbramento. E sê feliz."

Vergílio Ferreira, pensar - Bertrand Editora, 2ª edição, Julho 1992, pp. 152

segunda-feira, 8 de março de 2010

DIA INTERNACIONAL DA MULHER


Podia homenagear muitas MULHERES, hoje, dia Internacional da Mulher, no entanto, há uma voz de esperança mundial que me marca particularmente - Wangari Maathai. Esta mulher pioneira do Movimento Green Belt, ajudou a plantar 30 milhões de árvores. Cada árvore representa a luta de uma mulher que sempre viu no fracasso um desafio para seguir em frente. O seu lema é: "Levanta-te e caminha". Foi-lhe atribuído o Prémio Nobel da Paz em 2004, pelo trabalho ímpar que desenvolveu em África, nomeadamente no Quénia, em prole da sustentabilidade do Continente Africano e do Planeta. Hoje continua a vestir a terra "nua" mas não está sozinha. Pelo mundo fora muitas pessoas preocupadas com o planeta, seguem-lhe os passos.
Dedico-lhe esta fotografia para que saiba (nunca o irá saber) que num cantinho do planeta há alguém que lhe segue os passos.
Isa

ARTE E INSTINTO


Será possível que exista uma predisposição genética nos humanos para apreciar uma escultura polinésia ou um romance de Jane Austen, uma canção de Sinatra ou um quadro de Seurat? O encontro entre duas das disciplinas mais fascinantes e controversas, a arte e a ciência evolucionista, num livro ousado que irá transformar a nossa visão das artes e das letras. O gosto que os humanos possuem pelas artes é uma característica evolucionista, modelada pela selecção natural. Ao contrário do que tem vindo a ser proclamado pela teoria e pela crítica de arte do último século, não é uma «construção social», determinada pelo contexto cultural. O nosso amor pela beleza é inato e os mesmos gostos artísticos estão presentes na generalidade das culturas. Dutton defende que devemos fundamentar a crítica da arte no conhecimento da evolução humana, e não numa «teoria» abstracta.

Arte e Instinto, Dennis Dutton - Temas e Debates, 2010

domingo, 7 de março de 2010

O GRITO


O Grito, 1893
Óleo, têmpera e pastel em cartão
Galeria Nacional, Oslo
A ansiedade e o isolamento entre a multidão e a cidade eram os temas de Munch. No seu quadro mais famoso, O Grito, do qual existem cinquenta versões para além do quadro de 1893, actualmente na Galeria Nacional de Oslo, observamos o medo e a solidão do Homem num cenário natural que - longe de oferecer qualquer tipo de consolação - absorve o grito e o faz ecoar por detrás da baía até aos vultos sangrentos do céu. A baía, os pequenos barcos à vela e a ponte com a balaustrada cortando diagonalmente o quadro, sugerem que o cenário era Nordstrand.
O diário de Munch, contém uma passagem escrita em Nice durante um período de doença, em 1892, o qual faz lembrar esta cena: «Eu estava a passear cá fora com dois amigos e o Sol começava a pôr-se - de repente o céu ficou vermelho, cor de sangue - Eu parei, sentia-me exausto e apoia-me a uma cerca - havia sangue e línguas de fogo por cima do fiorde azul-escuro e da cidade -os meus amigos continuaram a andar e eu ali fiquei, em pé, a tremer de medo - e senti um grito infindável a atravessar a Natureza.»
Munch, Ulrich Bischoff- Taschen

sexta-feira, 5 de março de 2010

AUTO-RETRATOS DO MUNDO


Em 23 de Maio de 1908 nasceu em Zurique a escritora, fotógrafa e jornalista Annemarie Schwarzenbach. Doutorada em História, cedo enveredou pelas duas paixões da sua vida: a da viagem e a da escrita. Obsessiva nas relações com os outros, com as amigas com quem se relacionava, consigo própria, procurou escapatórias na morfina e no álcool. Desde cedo viu-se na necessidade de fugir da casa mais materna que paterna, para encontrar um espaço seu, gravitando sobretudo nos primeiros anos da década de 30, à volta dos filhos de Thomas Mann, Erika e Klaus. A sua vida passou-se entre partidas e regressos, entre a família e a procura de outros espaços, sobretudo no Médio Oriente, mas também pela Europa dos anos 30, pelos Estados Unidos, pelo Congo, por Marrocos, por Portugal. Já nos finais dos anos 20 começou a escrever contos, e em 1931 publicou o primeiro romance Freunde um Bernhard [Amigos à volta de Bernhard] e em 1933 Lyrische Novelle [Novela Lírica, publicada em Portugal pela Granito, no Porto, em 2002]. Em 1934 faz a sua primeira viagem ao Próximo e Médio Oriente, região a que voltará mais três vezes. É a partir das suas experiências de viagem que escreve, em 1940, o romance que mais a celebrizou Das Glückliche Tal [O Vale Feliz]. Em 1941 e 1942 esteve umas semanas em Lisboa, tendo escrito mais de 20 artigos [Annemarie Schwarzenbach em Portugal (1941, 1942, coord. Gonçalo Vilas-Boas, cadernos do cieg nº 11, CIEG/Minerva, Coimbra, 2004]. Antes de regressar a Portugal, onde queria ser repórter naqueles difíceis anos da guerra, cai da bicicleta e morre pouco depois, em 15 de Novembro de 1942, aos 34 anos de idade. Em vida publicou dois romances, uma novela, três livros de viagem e mais de 300 reportagens e textos de viagem em jornais suíços. O espólio fotográfico nos Arquivos Literários Suíços, em Berna, conta com milhares de negativos, incluindo mais de cem tirados em Lisboa. A partir da sua redescoberta, em 1987, a sua obra não deixou de encontrar um vasto número de leitores. Aos poucos vão também aparecendo novos textos, até agora considerados perdidos. Foram publicadas já três biografias sobre ela e realizaram-se dois documentários. Em 2008 estavam previstas mais duas biografias, um livro sobre as relações entre a autora e Carson McCullers e um novo filme. Isto demonstra o interesse continuado pela obra de Annemarie Schwarzenbach.

(Retirado da Net, Faculdade de Letras -Universidade do Porto)

Está patente até ao dia 25 de Abril uma exposição com cerca de duzentas fotografias acompanhadas de textos literários, jornalísticos e outra documentação original de Annemarie Schwarzenbach no Museu Colecção Berardo no CCB, Lisboa. Se puderem visitem esta exposição, para além das fotografias de várias países, um olhar contemplativo sobre o mundo, os textos são intensamente humanos conduzindo à reflexão sobre o sentido da existência.



quinta-feira, 4 de março de 2010

HOJE É DIA DE VIVALDI

A música instrumental do barroco tardio deve a Vivaldi muitos de seus elementos característicos. Os seus concertos foram tomados como modelos formais por vários compositores, inclusive por Bach. Nascido em Veneza, Antonio Lucio Vivaldi era o primogénito dos sete filhos do casal Gionanni Battista Vivaldi, violinista, e Camila Calicchio. Ordenado padre em 1703, ficou impedido de celebrar a missa em decorrência de uma doença crónica, provavelmente asma. Foi nomeado mestre de violino do "Ospedalle della Pietà", uma instituição veneziana que acolhia crianças órfãs, famosa pelo seu conservatório musical. Vivaldi compôs a maior parte de suas obras para a instituição e assim consolidou sua reputação como compositor e maestro. Em 1705 publicou a sua primeira colecção, "Doze Sonatas para Dois Violinos e Baixo contínuo". Depois fez uma série de obras instrumentais. Deixou o seu cargo por dois anos, mas em 1711 foi novamente nomeado professor de violino. No ano seguinte publicou o "Estro armonico", uma coleção de 12 concertos. A repercussão dessa obra foi imensa em toda a Europa, como demonstra o facto de que Bach fez transcrições de seis desses concertos. Em 1713, o director do coro do conservatório deixou o seu posto e Vivaldi ficou encarregado de compor obras vocais sacras. Paralelamente ele começava a estabelecer relações com o Teatro de Santo Angelo. A instituição Pietà concedeu a Vivaldi uma permissão para "exercitar a sua destreza" e foram apresentadas as suas primeiras óperas, como "Outtone in villa" e "Orlando Furioso". Depois fez, entre outros concertos, "La Stravaganza". Entre 1718 a 1720, Vivaldi trabalhou em Mântua, onde compôs a maioria de suas cantatas. Entre 1720 e 1723 dedicou-se à ópera. Em 1723, novamente em Veneza, na Pietà, publicou o Opus 8, que contém os concertos "As Quatro Estações". Por volta de 1729 compôs para o rei Luis XV a mais importante de suas serenatas: "La Sena Festeggiante". Na mesma época entregou ao imperador da Áustria Carlos VI o seu Opus 9: "La Cetra". Pouco depois publicou o Opus 10, "Seis Concertos para Flauta". A partir de 1729, parou de publicar as suas obras, por perceber que era mais lucrativo vender os manuscritos a compradores particulares. Em 1730 e 1731, viveu em Praga onde compôs várias óperas e duas sonatas, encomendadas pelo conde Von Wrtby. Entre 1737 e 1739 tentou, sem sucesso, quem representassem as suas óperas. Em 1740 decidiu viajar para Viena, onde morreu aos 63 anos. Da sua obra conservam-se 456 concertos,73 sonatas, 44 motetos, três oratórios, duas serenatas, cerca de 100 árias, 30 cantatas e 47 óperas. Apesar da fama que gozou em vida, Antonio Lucio Vivaldi foi esquecido com o advento do classicismo. Os seus originais, encadernados após a sua morte em 27 volumes e vendidos a particulares, foram redescobertos somente na segunda década do século XX.
Retirado da Net -UOL Educação

terça-feira, 2 de março de 2010

JOGO DE CORES


(Noite Estrelada sobre o Ródano, 1888)
Óleo sobre tela
Museu d´Orsay, Paris
"Em vez de comer, ele pinta e faz contas a quantas tintas a tuberculose lhe oferece!"
Bert Brecht, a propósito de Van Gogh

A cor é, nas artes plásticas, um meio de criação fundamental e extraordinariamente capaz de transformar e exprimir, podendo despertar certas reacções no observador.
Para Van Gogh, a cor era um extraordinário meio de representação disponível, cujas possibilidades únicas de composição, mistura e modelação o próprio alterou drasticamente, no decurso da sua carreira artística.
Durante o seu tempo de aprendizagem, Vincent estudou diferentes teorias artísticas, (embora o seu jogo de cores pareça mais o resultado duma busca pessoal) e da observação dos trabalhos de antigos mestres e pintores contemporâneos, uma vez que ele próprio falava frequentemente de um «confronto em torno da cor certa». Representa uma excepção a sua aplicação de cores complementares, baseada em teorias e trabalhos de Eugéne Delacroix e que gradualmente influenciaram a sua pintura: a proximidade de uma das três cores primárias, vermelho, amarelo ou azul, forma, com a mistura das outras duas cores primárias, uma intensidade luminosa especial e o maior contraste possível.
Van Gogh, Dieter Beaujean - Mini Guia da Arte, Konemann, 2005

segunda-feira, 1 de março de 2010

HOJE É DIA DE CHOPIN

Frédéric Chopin, nasceu a um de Março de 1810, na cidade de Zelazowa Wola, não muito longe de Varsóvia. Veio ao mundo enquanto uns violinistas tocavam sob a janela da sua casa - numa espécie de homenagem antecipada ao artista em que viria a tornar-se, o grande impulsionador da música popular da Polónia. O piano, o seu instrumento favorito, era para ele tão natural como a pena e o papel para um poeta, razão pela qual ficou conhecido como «o poeta do piano».
Editorial Sol90 -Expresso

MÚSICA


" As palavras ainda correm suaves para o indizível.
E a música, sempre nova, de palpitantes pedras
Constrói em espaço inútil a sua casa divina".
Rilke
O que é exactamente a música, e porque a colocamos num espaço seu - ainda que inútil?
A música é, ou reside em, som. Mas não ajuda dizê-lo, se não sabemos o que é o som. É tentador dividir o mundo em coisas (mesas, cadeiras, animais, pessoas) e nas suas propriedades. Mas o som não cabe em nenhuma categoria. Os sons não são propriedades dos objectos que os emitem: não são inerentes aos objectos, como o são as cores, as formas e os tamanhos. Mas também não são coisas. Ao contrário das coisas, os sons ocorrem; não ocupam espaço físico da maneira que as coisas ocupam, nem têm fronteiras. Um som ocorre quando, de alguma forma, é produzido, e cessa quando o modo de produção cessa. Em poucas palavras, os sons não são coisas nem propriedades, mas acontecimentos, que se colocam em relações de causa e efeito com outros acontecimentos. (...) É um acontecimento em que nenhuma coisa participa - um «acontecimento puro».
(...) O que é ouvir um som como música? ouvidos como música, os sons são ouvidos numa relação uns com os outros de tipo especial. Aparecem no interior de um «campo de força» musical. Ouvir um som como música não é apenas ouvi-lo, mas também ordená-lo, numa determinada espécie de relação com outros sons efectivos e possíveis. Ordenados desta maneira, um som torna-se um «timbre»

Guia de Filosofia para Pessoas Inteligentes, Roger Scruton - Guerra e Paz, 2007