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quarta-feira, 30 de junho de 2010

A AUTO-ESTRADA DA PALAVRA



Nesta espécie de livro que não é um livro eu gostava de ter falado de tudo e de nada, como todos os dias, ao longo de um dia como os outros, banal. Entrar na grande auto-estrada, a via geral da palavra, e não me deter em nada de especial. É impossível fazer isso, saír do sentido, não ir a parte nenhuma, falar apenas, sem partir de um dado ponto de conhecimento ou de ignorância e chegar ao acaso no tumulto das palavras. Não se pode. Não se pode saber e não saber ao mesmo tempo. Portanto este livro, que eu queria que fosse como uma auto-estrada em questão, que devia ir a toda a parte ao mesmo tempo, vai ficar a ser um livro que quer ir a toda a parte e só vai a um lugar de cada vez, e que torna a voltar e a partir novamente como toda a gente, como todos os livros, a menos que se calem, mas isso, isso não se escreve.


A Vida Material, Marguerite Duras, DIFEL, Lisboa

terça-feira, 29 de junho de 2010

A LOUCA DA CASA


A LOUCA DA CASA
De ROSA MONTERO *

O livro que eu gostava de ter escrito

* Rosa Montero, nascida em Madrid em 1951, jornalista há quase 40 anos, é também autora de romances e ensaios traduzidos em várias línguas. O seu nome é imediatamente associado ao diário espanhol El País, para o qual trabalha desde a sua fundação, em 1976.
Figura central da literatura espanhola contemporânea, narradora de ficção – como gosta de se considerar – pois que o que mais a apaixona é a ficção, tem vários livros editados em Portugal, dos quais destacamos, para além de A Louca da Casa (Edições Asa, 2004); Histórias de Mulheres (Edições Asa, 1995); Paixões: Amores e Desamores que Mudaram a História (Editorial Presença, 2000) e História do Rei Transparente (Círculo de Leitores, 2005).
A Louca da Casa (2003) recebeu o Prémio Grinzane Cavour de literatura estrangeira e o Prémio Qué Leer para o melhor livro espanhol, distinção igualmente atribuída, em 2006, a História do Rei Transparente.

«A imaginação é a louca da casa.»
Santa Teresa de Jesus

«A imaginação é a forma como completamos a realidade e assim conseguimos sobreviver, porque se não a existência seria um caos insuportável. Digamos que a vida imaginária é tão autêntica como a real, onde existe também uma grande dose de ficção.»
Rosa Montero (em entrevista à Revista Visão, 2004)

Não sendo esta a circunstância para debater se há uma escrita feminina ou, no dizer de alguns, uma literatura “de mulheres”, apresento-vos, em vez disso, um livro delicioso e intimista escrito por uma mulher, com um título no feminino, em que a ambiguidade de olhares narrativos é, mais do que uma marca de género, um valor literário.
* * * * * * * * * * *
Feio pecado este da inveja! Que, peço, me seja perdoado pela confissão que vai no título e repito: “Queria muito ter sido eu a escrever este livro!”, penso, cada vez que o releio. E faço-o muitas vezes, pois volto frequentemente a páginas avulsas deste inclassificável e desarmante A Louca da Casa em que, qual ovo de Colombo ou intuição inspirada, Rosa Montero nos dá o fascínio e a magia da escrita, fingindo que escreve sobre si e os outros… escritores, enquanto conversa connosco, leitores.
Apreciadora incondicional de livros de difícil catalogação, gosto de tudo neste: da indefinição do texto em termos de género - um híbrido que, saltitando entre o romance, o ensaio, a (auto) biografia, joga com o real e o fictício - ao título “roubado” a uma frase de Santa Teresa de Ávila; do estilo leve e descomplexado da autora à análise, por vezes mordaz, dessa coisa mágica, misteriosa, da imaginação literária e da sua ténue e nevoenta fronteira com os múltiplos desdobramentos possíveis da realidade. Mas há mais: entusiasta de biografias, em A Louca da Casa disponho, na fluidez da escrita jornalística de Rosa Montero documentada no seu conhecimento lúcido da classe por dentro, de centenas de referências a circunstâncias e cenas das vidas conturbadas de numerosíssimos autores de obras, para mim, mais ou menos conhecidas.
Em suma, A Louca da Casa não é um ensaio sobre literatura, mas antes uma espécie de mini tratado divertido e inteligente sobre a dimensão salvadora do trabalho de criação literária. Dito de outro modo: sob a aparência de uma brincadeira muito séria e original, surge-nos a absoluta apologia do poder da imaginação; um olhar próprio sobre o mundo ou, nas palavras da autora, «… um livro que joga com a imaginação não só do artista ou do escritor, mas de todos os seres humanos. (…) o ser humano é, sobretudo, um contador de histórias. Mesmo as pessoas que dizem que não são imaginativas não se apercebem até que ponto dependem da imaginação para sobreviver».
E este jogo é levado tão longe pela autora que deixamos absolutamente de saber se a existência de alguns elementos autobiográficos semeados no texto são ou não verdadeiros. Rosa Montero diverte-se/nos contando histórias da sua vida, que, não raro, se contrariam, o que permite supor que, por acção da “louca da casa", tais factos só terão existido, afinal, na/pela imaginação da Rosa Montero, ficcionista.
Dois exemplos: as histórias de infância e juventude envolvendo a irmã, «…Martina, que é e não é», fantasiadas ou não, deixam de traduzir e completar realidades só porque Rosa Montero não tem, de facto, irmãs? E o que interessa saber se a narradora teve ou não um caso com um actor de Hollywood, se ela nos conta, em três divertidas versões, uma eventual aventura amorosa com tal “estrela”?
. Importa bem mais a forma como metaforicamente a autora nos desvela o processo criativo, com momentos muitas vezes iluminados e inspiradores. E nos mostra como, através da leitura de romances, cada um de nós poder viver muitas outras vidas e, desta maneira, aprender a viver melhor a sua.
Quanto a escrevê-los defende, depois de nos contar, em mais uma das suas histórias-metáfora, como a principal personagem, uma velhinha freira de clausura, pôde finalmente, da varanda defronte, ver o seu convento do lado de fora: «Escrever romances implica atrevermo-nos a contemplar este trajecto monumental que nos arranca de nós próprios e nos permite ver-nos no convento, no mundo, no todo. E depois de fazer esse esforço supremo de compreensão, depois de roçar por um instante a visão que completa e que fulmina, regressamos a coxear à nossa cela, à prisão da nossa estreita individualidade, e tentamos resignar-nos a morrer».
Definitivamente, recomendo a quem gosta de ler, se interessa pelo mágico ofício de escrever, ou simplesmente deseja conhecer os mecanismos da criação literária na sua relação com esse «bichinho álacre e sedento» da imaginação, que bole na nossa cabeça como na de Gedeão e de outros monumentais autores.
Um convite ao puro ao prazer de ler ou um (novo) elogio da loucura – a “mentira” pessoana, lembram-se? – porque, «na pequena noite da vida humana, a louca da casa acende velas».

Professora - Dulce Martinho

segunda-feira, 28 de junho de 2010

100 FILÓSOFOS


Os cem retratos incluidos neste volume constituem uma história portátil da filosofia, uma magnífica síntese das posições de cem filósofos. Vão até ao cerne de cada sistema para identificarem os seus instrumentos, que usamos nas nossas próprias construções. Podemos também levá-los connosco, nas nossas viagens, tanto para as ilhas dos nossos tormentos como para as das nossas felicidades. Um vasto panorama em que os filósofos ganham vida, animam os seus conceitos em transportes de ideias precisas como flechas.

100 Filósofos - De Aristóteles a Wittgenstein, Jean - Clet Martin, Teorema, Janeiro de 2010

quinta-feira, 24 de junho de 2010

NO CÍRCULO DOS IMPRESSIONISTAS


Um peregrino entre dois mundos: Paul Gauguin conseguiu, mais do que qualquer outro artista, viver a existência que evocou na sua obra. Ele não queria apenas pintar o primitivismo e a harmonia ingénua de uma vida selvagem e rudimentar, apresentando-os como reverso da medalha da sua própria civilização, que desprezava. Ele queria viver essa outra forma de vida e, através da própria vivência, mostrar que o exotismo do Pacífico Sul era algo mais do que a magia artificial que na altura, na sequência de várias exposições mundiais e de reportagens jornalísticas, fascinava a Europa. Gauguin é considerado um dos pioneiros do Modernismo, porque ele foi um dos primeiros a dar corpo à ligação entre a arte e a vida, a fantasia e a ordem, que irá dominar o mundo pictórico do século XX.

Gauguin, Taschen

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A FILOSOFIA NO FEMININO




O que significa “a filosofia no feminino?” Habitualmente não falamos de filosofia no masculino ou no feminino mas falamos de Filosofia. Será que podemos defender que há uma forma específica feminina de pensar o mundo e os seus problemas?
Mary Warnock,(1924 -) pensadora inglesa considera que a diferença de sexo não é importante para fazer Filosofia. Tal como na Ciência, também na filosofia o sexo é irrelevante. Mary Warnock considera que há diversas maneiras de fazer filosofia, salientando que não há similitude de perspectivas na filosofia das mulheres.
Contudo, parece haver semelhanças no discurso filosófico das mulheres, quer a nível da forma, quer a nível dos conteúdos.
A nível da forma, as mulheres não produzem grandes tratados, nem grandes sistematizações. As mulheres exprimem melhor a sua forma de entender o mundo através do ensaio. A maneira como argumentam também é diferente em relação aos homens, problematizando os temas sem derrubarem sistematicamente as teses.
Na história da filosofia a mulher tem-se manifestado uma grande leitora de obras de filósofos e também uma grande interlocutora. A Princesa Elisabeth da Boémia ( 1596 -1662), é exemplo disso. Correspondeu-se com Descartes que a considerava tão dotada para as matemáticas como para a metafísica. Se houve uma viragem no pensamento de Descartes deve-se a ela pois questionou-o e levantou dúvidas sobre a concepção dualista de homem, levando o filósofo a rever a sua posição, enveredando assim, pelo caminho antropológico e ético que no início não estavam nos propósitos do pensador.
Com o exemplo de Elisabeth da Boémia verificamos que as mulheres interpretam o pensamento dos outros, descobrindo falhas, inconsistências e raciocínios pouco lógicos que os seus autores não tinham reparado.
Damaris Cudworth (1659-1708), conhecida por Lady Masham, filósofa da época moderna, foi correspondente de Lock e de Leibniz e levantou diversas objecções ao pensamento destes filósofos, contribuindo assim, para o esclarecimento da filosofia dos pensadores em causa.
É possível encontrar temáticas e conteúdos específicos nos textos filosóficos escritos por mulheres. Na época contemporânea, a ética e a política (não universalizando), parecem ser temas que agradam às mulheres filósofas. Nos séculos XVII e XVIII as temáticas incidiam sobre problemas éticos, religiosos e políticos. Outra dimensão da filosofia em que as mulheres se mostraram perspicazes foi na interpelação crítica de teses filosóficas que estavam na “moda”. Algumas levantaram dúvidas à dicotomia antropológica e à importância dada à alma. É o caso de Anne Conway ( 1631-1679), que valoriza o papel do corpo no conhecimento. Margaret Cavendish (1661-1717) critica as teses cartesianas, no que respeita à teoria dos animais máquinas. Demonstrou quanto absurda é a tese dos animais desprovidos de sofrimento e defendeu uma inteligência animal, admitindo que os animais são seres com um grau de racionalidade. Seria assim pioneira da ética animal, temática oportuna e do agrado de alguns pensadores actuais.
Para finalizar podemos dizer que a produção filosófica feminina no nosso tempo conhece grande desenvolvimento. Hanna Arendt (1906-1975), Susane Langer (1895-1985), Maria Zambrano ((1904-1996) Iris Murdoch (1919-1999) por exemplo, são nomes ligados a temas inovadores que ninguém com o mínimo de informação pode desprezar.
Isa.

Fontes: A Filosofia pela Rádio, Colecção Philosophica -Debates

O que os Filósofos pensam sobre as mulheres, Colecção Philosophica -Debates, Organização Maria Luísa Ribeiro Ferreira

terça-feira, 22 de junho de 2010

O "DRAMA" DE SER MULHER




“Ensinam-se os homens a pedir desculpas pelas suas fraquezas e as mulheres a pedir desculpas pelas suas forças.”
Lois Wise, americana, publicitária

Mulher, mãe, dona de casa,
Sem tempo, presente e ausente,
Que sofre, companheira, apaixonada,
Mulher, matriz da vida, abandonada…
Anónimo

"A natureza só faz mulheres quando não pode fazer homens. A mulher é, portanto, um homem inferior."
Aristóteles, séc. IV a.C.)

"O pior adorno que uma mulher pode querer usar é ser sábia."
Lutero, século XVI)

"Todas as mulheres que seduzirem e levarem ao casamento os súbditos de Sua Majestade mediante o uso de perfumes, pinturas, dentes postiços, perucas e recheio nos quadris, incorrem em delito de bruxaria e o casamento fica automaticamente anulado.”
Constituição Nacional inglesa (século XVIII)
"As mulheres nada mais são do que máquinas de fazer filhos."
Napoleão Bonaparte (imperador francês, século XIX)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

NO ENTARDECER DOS DIAS DE VERÃO


No Entardecer dos Dias de Verão

No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...
Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão ...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos ...
Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir ...

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLI"

domingo, 20 de junho de 2010

NA ILHA POR VEZES HABITADA


Na ilha por vezes habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a
verdade suportável:
o contorno, a vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

José Saramago

(in PROVAVELMENTE ALEGRIA, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1985, 3ª Edição)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

MARÉS


Marés

Marés de um mar, ausente…
As ondas dos bosques salpicam de
Espuma -algodão a paisagem
Verde-água
E o porto de outro mar navegante
Com cavernas de monstros marinhos.

Nascem luas nas montanhas
E os barcos sulcam os jardins de algas
As árvores são peixes e as flores
São corais…metáforas…
E são bússolas as gotas das
Ondas espumantes.
Pérolas salgadas no corpo do mar
De portos, templos das deusas
Sereias lindas, vibrantes
Tritões etéreos e enigmáticos.

Marés imaginadas de sonhos
Onde os búzios falam,
Antíteses de outro mar presente ….
Marés…ou… metáforas?

Anabela B.

terça-feira, 15 de junho de 2010

MULHER...


Mulher…
Mulher é aquela que ama sem olhar.
É a que escuta sem se pronunciar.
É a que ajuda sem medir.
É a que percebe sem querer entender.
É a que singra sem magoar.
É a que chora por chorar.
É a que ajuda para se alegrar.
É a que se multiplica para executar.
É a que sonha para concretizar.
É a que quer viver para se sentir a completar.

Mariana Masteling - 12ºB

segunda-feira, 14 de junho de 2010

MULHERES FILÓSOFAS ii


Mulheres Filósofas (Hanna Arendt)
Quando olhamos para a história da filosofia à primeira vista temos a impressão que não houve mulheres filósofas. Se considerarmos o papel da mulher na cultura ocidental talvez se encontre uma resposta óbvia para tal. Não há mulheres filósofas tal como, não há mulheres cientistas, escritoras ou pintoras. Todos sabemos que durante muito tempo foi interdito à mulher certas aprendizagens, sendo-lhe vedado até, o acesso ao ensino universitário.
As tarefas domésticas sempre se impuseram como obrigação das mulheres, não lhes deixando tempo para o estudo e para o livre pensamento.
Contudo, é possível verificar a presença da mulher na filosofia ocidental. Se nos debruçarmos na época moderna constatamos que inúmeras mulheres escreveram e publicaram temas filosóficos. Algumas preferiram não publicar o que escreviam como Elisabeth da Boémia e Catherine Cokburn. Anne Conway, por exemplo, filósofa do século XVII, apenas foi redescoberta no nosso tempo, em 1982.
Actualmente a produção filosófica feminina conhece um grande desenvolvimento. Hanna Arendt, Susane Langer, Maria Zambrano, Mary Warnock, entre outras, apresentaram teses inovadoras que ninguém pode desprezar.
Hanna Arendt e Susane Langer são exemplos significativos de uma filosofia no feminino.
Hanna Arendt (1906-1975), judia e perseguida pelo nazismo, aprofundou estudos de filosofia e teologia, construindo teses a partir das suas vivências concretas. A vida de Hanna Arendt foi marcada por duas grandes guerras, pelo desprezo da vida e pela destruição, a uma escala nunca antes vista, de seres humanos e pela banalização do mal.
Fundamentou, neste sentido, um pensamento teórico em situações que observou e viveu. Acompanhou o julgamento de Eichmann, criminoso da segunda guerra mundial, que foi julgado pelos israelitas, verificando que este homem é mais um burocrata do que propriamente um perverso. Parte desta constatação para a construção de uma teoria ética sobre o poder, desenvolvendo um estudo sobre a vulgarização, banalização do mal.
Preocupou-se em articular a vida activa e a vida contemplativa, com a ligação entre a capacidade de pensar bem e a de agir correctamente. Reflecte sobre o que é pensar e conclui que é precisamente uma falha no exercício do pensar que pode conduzir a atitudes semelhantes às de Eichmann.
Na perspectiva desta pensadora, o anti-semitismo ultrapassa a questão judaica, é um fenómeno que permite responder a questões como o totalitarismo e o imperialismo. Uma das suas obras: “The Origins of Totalitarianism”, é uma análise profunda sobre o nazismo e o comunismo soviético, sobre o poder e sobre a violência, desenvolvendo hipóteses sobre estes princípios. Hanna Arendt reflecte sobre a vida política que faz do terror a sua essência. As ideologias dos sistemas totalitários, na sua perspectiva, destroem a capacidade humana de pensar e de sentir.
Hanna Arendt é um sinal bem evidente que nos leva a crer que as mulheres têm capacidade de reflectir, problematizar, argumentar e elaborar teorias, sendo possível falar de uma filosofia no feminino.
Isa.

Fontes: Filosofia pela Rádio, Colecção Philosophica - Debates, edição Antena 2
O que os Filósofos pensam sobre as mulheres, Colecção Philosophica - Debates, CFUL-Organização Maria Luísa Ribeiro

domingo, 13 de junho de 2010

SER POETA


Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca

Este é, na minha opinião, dos poemas mais belos desta grande escritora. Nele reflecte sobre si própria e a sua profissão, fala da influência de um poeta, do dom que ele tem de ver e transformar o mundo num olhar e algumas palavras…
Exprime também o amor e o orgulho que tinha pela sua arte, que fazia questão de “gritar aos quatro ventos”.
Tal como é referido no poema, um poeta é um sonhador ambicioso, que não se contenta com o nada, o pouco ou mesmo o quase tudo. Só o infinito chega até que se conhecem novas coisas.
Tal como Fernando Pessoa, tema do primeiro número da revista Katársis deste ano lectivo, também esta grande senhora das letras fez uma reflexão sobre ela própria com tudo o que isso engloba.
Florbela foi uma grande escritora, que nos deixou obras de grande valor e, graças a isso, permanece e permanecerá na nossa memória de forma indelével.

Raquel Rei, 12ºB

sábado, 12 de junho de 2010

SOPHIA


Sophia de Mello Breyner Andresen: depuração e limpidez
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) nasceu no Porto, no dia 6 de Novembro de 1919. O seu pai, João Henrique Andresen, era neto de um dinamarquês, Jan Henrik. A sua mãe chamava-se Maria de Mello Breyner. Fez os estudos no Colégio Sagrado Coração de Maria, no Porto, e frequentou o curso de Filologia Clássica, na Faculdade de Letras de Lisboa. Com vinte e cinco anos publicou o seu primeiro livro, Poesia, que reune poemas escritos desde a sua adolescência. Casou com Francisco Sousa Tavares, advogado e jornalista, em 1946, passando a residir em Lisboa, onde desenvolveu a sua actividade entre a poesia e a participação cívica, muitas vezes em oposição ao regime de Salazar. Para além da poesia escreveu contos para crianças, inicialmente destinadas aos seus cinco filhos mas que rapidamente se transformaram em clássicos da literatura infantil portuguesa.

Sobre Sophia foi dito:
Foi sempre muito jovem,de carácter irrepreensível e segura de si, mas também distante, como se tivesse chegado de outro país e não tivera tempo de se adaptar àquele em que vivia. (…) tinha esse encanto de quem está sempre em estado de graça. A graça da poesia.
EUGÉNIO DE ANDRADE

Sophia, um nome que se transformou em sinónimo de poesia e de musa da própria poesia. Sophia rima com poesia.
EDUARDO LOURENÇO

Era uma mulher bonita, mais que bonita, elegante e graciosa, mas a sua beleza era um tipo de beleza fria, nórdica. Com virtudes de rainha.
AGUSTINA BESSA-LUÍS

A sua contenção de tom, a sua discreta fluidez, a simplicidade muito pura da expressão, qualidades suas das melhores, enganam quanto à energia, no entanto tão feminina, que os seus poemas contêm…
JORGE DE SENA

Obras de Sophia disponíveis na Biblioteca da Escola, algumas delas de leitura recomendada pelo Plano Nacional de Leitura:
- Poesia
- Dia do mar
- Coral
- No tempo dividido
- Mar novo
- Cristo Cigano
- Livro sexto
- A floresta,
- A noite de Natal
- O rapaz de bronze
- Primeiro livro de poesia
- Histórias da terra e do mar
- Fada Oriana
- O Cavaleiro da Dinamarca

Pesquisa: Maria João

sexta-feira, 11 de junho de 2010

SIMONE DE BEAUVOIR


Simone de Beauvoir
Simone Lucie-Ernestine-Marie-Bertrand de Beauvoir foi uma escritora e filósofa francesa que nasceu a 9 de Janeiro de 1908 e faleceu a 14 de Abril de 1986 em Paris.
Estudou na antiga Universidade de Paris - Sorbone onde, em 1929, concluiu Filosofia e conheceu Jean-Paul Sartre (Filósofo), de quem se tornou companheira.
Escreveu novelas, ensaios, biografias e monografias sobre temas políticos e sociais mas os temas principais recaíram sobre o existencialismo. Em 1945, Simone e Sartre fundaram e editaram Les Temps Modernes, uma revista mensal, da qual eles foram os principais colaboradores.
Simone de Beauvoir foi severamente criticada pelo seu tratado Le Deuxiéme Sexe (O Segundo Sexo 1949) no qual fala sobre o corpo da mulher e a sexualidade feminina quebrando importantes tabus da sua época.

Maria João

quinta-feira, 10 de junho de 2010

FINAL...


Editorial da Revista Katársis
Final…
Quando pensamos em “Fim” associamo-lo quase sempre a algo negativo ou triste. Mas, não poderá o “Fim” ser o início de algo novo?
Com esta edição chega-se ao fim um ciclo e de uma certa forma de vida. A partir de agora tudo será diferente…
Para alguns de nós já não haverá a Katársis para publicar, não haverá mais um professor apaixonado por cogumelos sempre a pedir-nos textos, não haverá mais uma relação professor – aluno tão próxima que se assemelha à relação de dois amigos.
Ficarão as saudades e as recordações.
As recordações de um primeiro embate não muito feliz com a filosofia, das aulas que nos levaram a melhorar continuamente as nossas capacidades de argumentação, o incentivo ao gosto pela escrita com os pedidos de textos para a revista e a conservação da relação de amizade, mesmo não havendo aulas em comum.
Apesar de a nossa caminhada nesta escola acabar dentro de pouco tempo, a amizade que criámos com professores, colegas e funcionários irá manter-se, tal como a colaboração com textos para a revista, se assim o autorizarem (E quiserem, claro!).
Por tudo isto, e por mais alguma coisa que agora podemos não nos lembrar, o nosso obrigada ao professor Jorge Marques.
Sendo nós duas meninas e depois de duas revistas sobre dois ilustres homens, aqui chega a nossa vez Mulheres. Uma revista ma sua maioria dedicada ao feminismo e à mulher na sua beleza, plenitude e amor.
Até sempre…
Raquel e Mariana 12ºB

quarta-feira, 9 de junho de 2010

MULHERES FILÓSOFAS



Hipácia de Alexandria
Nasceu em 355 d.C e morreu em 415 d.C.
Era filha de Theon, um importante filósofo, astrónomo e matemático, o que contribuiu para que crescesse num ambiente repleto de ideias e filosofia. Estudou na Academia de Alexandria, sendo na mesma que, mais tarde, viria a ser professora.
Hipácia foi reconhecida pelo seu fascínio pela lógica, matemática e astronomia. Não aceitava o cristianismo chegando a afirmar que a sua fé estava na filosofia e que o seu casamento era com a verdade o que gerou um descontentamento por parte do patriarca cristão Cirilo, que a passou a encarar como uma herege. Em 415 d.C, Hipácia foi reconhecida na rua e atacada por um grupo de cristãos enfurecidos que a arrastaram pelas ruas da cidade até uma igreja, onde o seu corpo foi dilacerado e lançado para uma fogueira.
Professora Maria João

REVISTA KATÁRSIS II


A revista katársis II é um projecto do grupo de Filosofia da Escola EB23/Secundária de Oliveira de Frades. Já vai no terceiro ano e consiste na divulgação de textos, poemas e coisas afins... dos alunos e professores. Na terceira e última revista deste ano destaca-se como tema fundamental: A Filosofia no Feminino. Muitas vezes os alunos questionam se não houve ou não há mulheres filósofas. Quisemos provar que é possível verificar a presença da mulher na filosofia ocidental. Hoje é inegável a produção filosófica feminina. Nos próximos dias irei divulgar textos e poemas de alunos e professores que participaram na concretização da Revista.

domingo, 6 de junho de 2010

OUTRAS REGIÕES, OUTRA LUZ


Crepúsculo em Veneza, 1908
O Noroeste de França, os cumes e as vastas pradarias da Normandia, as costas da Bretanha eram as regiões preferidas de Monet. O artista tinha-as percorrido em todos os sentidos de paleta e cavalete em riste. Todavia, algo o impele a deixar estas paisagens familiares para as substituir por outras, desconhecidas e de vegetação nova. Ele parte em busca de uma outra luz. Os pinheiros e as palmeiras da Riviera, a costa florida que brilha sob o sol de Inverno, a solidão dos dias brancos da Noruega, Londres imersa no nevoeiro e essa pérola irisada que é Veneza cativam o pintor. Sensível a tudo, mais ainda do que ao seu próprio território, encontra novos temas, novas sensações e descreve o seu entusiasmo aos que deixou em casa.

Monet, TASCHEN, Christoph Heinrich

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O QUE É A CIÊNCIA?


Paul Davies
A ciência tem de envolver mais do que a mera catalogação de factos e do que a descoberta, através da tentativa e erro, de maneiras de proceder que funcionam. O que é crucial na verdadeira ciência é o facto de envolver a descoberta de princípios que subjazem e conectam os fenómenos naturais.
Apesar de concordar completamente que devemos respeitar a visão do mundo de povos indígenas não europeus, não penso que coisas como a astronomia maia, a acupunctura chinesa, etc., obedeçam à minha definição. O sistema ptolemaico de epiciclos alcançou uma precisão razoável ao descrever o movimento dos corpos celestes, mas não havia qualquer teoria propriamente dita subjacente ao sistema. A mecânica newtoniana, pelo contrário, não apenas descrevia os movimentos dos planetas de modo mais simples, conectava o movimento da Lua com a queda da maçã. Isto é verdadeira ciência, pois revela coisas que não podemos saber de nenhuma outra maneira.
Terá a astronomia maia ou a acupunctura chinesa alguma vez conduzido a uma previsão que não tenha falhado nem seja trivial e que tenha conduzido a novos conhecimentos sobre o mundo? Muitas pessoas tropeçaram no facto de que certas coisas funcionam, mas a verdadeira ciência consiste em saber por que razão as coisas funcionam. Tenho uma atitude de abertura em relação à acupunctura, mas se tal coisa funcionar, apostaria muito mais numa explicação baseada em impulsos nervosos do que em misteriosas correntes de energia cuja realidade física nunca foi demonstrada.
Por que razão nasceu a ciência na Europa? Na época de Galileu e Newton a China era muito mais avançada tecnologicamente. Contudo, a tecnologia chinesa (como a dos aborígenes australianos) foi alcançada por tentativa e erro, refinados ao longo de muitas gerações. O boomerang não foi inventado partindo da compreensão dos princípios da hidrodinâmica para depois conceber um instrumento. A bússola (descoberta pelos chineses) não envolveu a formulação dos princípios do magnetismo. Estes princípios emergiram da (verdadeira, segundo a minha definição) cultura científica da Europa. Claro que, historicamente, surgiu também alguma ciência de descobertas acidentais que só mais tarde foram compreendidas. Mas os exemplos mais óbvios da verdadeira ciência — tais como as ondas de rádio, a energia nuclear, o computador, a engenharia genética — emergiram, todos eles, da aplicação de uma compreensão teórica profunda que já existia — muitas vezes há muito tempo — antes da tecnologia que se procurava.
As razões que determinaram que tenha sido a Europa a dar à luz a ciência são complexas, mas têm certamente muito a ver com a filosofia grega e a sua noção de que os seres humanos podiam alcançar uma compreensão do modo como o mundo funciona por intermédio do pensamento racional, e com as três religiões monoteístas — o judaísmo, o cristianismo e o islamismo — e a sua noção de uma ordem na natureza, ordem essa que era real, legiforme, criada e imposta por um Grande Arquitecto.
Apesar de a ciência ter começado na Europa, é universal e está agora à disposição de todas as culturas. Podemos continuar a dar valor aos sistemas de crenças das outras culturas, ao mesmo tempo que reconhecemos que o conhecimento científico é algo de especial que transcende a cultura.

Paul Davies,
Tradução de Desidério Murcho, retirado de Crítica na rede