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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

NEGAÇÃO DE PROPOSIÇÕES


Em qualquer discussão, saber negar ideias ou proposições é muito importante e parece fácil. Mas a negação de alguns tipos de proposições dão origem a confusões e erros.

A negação de uma proposição inverte o seu valor de verdade.

Se a proposição de partida for verdadeira, a sua negação será falsa; e se a proposição de partida for falsa, a sua negação será verdadeira. Se isto não acontecer, não é uma negação.
Veja-se o caso das proposições universais.

Chama-se proposição universal a qualquer proposição da forma« Todo o F é G» ou «Nenhum F é G», ou formas análogas.

O F e o G assinalam os lugares em que devemos inserir nomes de classes de coisas; por exemplo, «gregos», «mortais», ou «livros». Desse modo, forma-se frases como «Todos os gregos são mortais», que exprime a mesma proposição que «Todo o grego é mortal». Um erro comum é pensar que a negação de «Todas as verdades são relativas» é «Nenhuma verdade é relativa». A negação correcta é «Algumas verdades não são relativas».

A Arte de Pensar - Filosofia 10º Ano, Aires Almeida e outros
Didáctica Editora

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O CÉU


O céu colabora na nossa vida íntima, vive connosco, acompanha-nos na mudança do nosso ser; é um confidente, é um consolador; invoca-se, fala-se-lhe. Olhar o céu é, nos nossos climas, uma ocasião de viver: instintivamente, voltamos para ele os nossos olhos. O poeta meridional, cheio de imagens e de cores, contempla-o; o burguês trivial, admira-o; pela manhã, abre-se a janela e vai-se ver o céu! É um íntimo sempre presente na nossa vida; o nosso estado depende dele: enevoado, entristece-nos; claro e lúcido, alegra-nos; cheio de nuvens eléctricas, enerva-nos. É no Céu que vemos Deus... E mesmo despovoado de deuses, é ainda para o homem o lugar donde ele tira força, consolação e esperança. A paisagem é feita por ele, a arte imita-o, os poetas cantam-no.
Eça de Queirós, in 'O Egipto'

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O Ofício Literário


Por que se perde um escritor? O que acontece para que um romancista maravilhoso se afunde para sempre no silêncio como quem se afunda num pântano? Ou ainda pior e mais inquietante: a que se deve o facto de um bom narrador começar de repente a redigir obras pavorosas?
Muitos sem dúvida, partem a espinha com o fracasso. O ofício literário é o que há de mais paradoxal: é verdade que se escreve em primeiro lugar para si próprio, para o leitor que se tem cá dentro, ou porque não se consegue evitar escrever, porque se é incapaz de suportar a vida sem a distrair com fantasias; mas, ao mesmo tempo, precisa-se inevitavelmente de se ser lido; e não apenas por um leitor, por excelente e inteligente que este seja, por muito que se confie no seu critério, mas por mais pessoas, muitas mais, para dizer a verdade, por muitíssimas mais, uma multidão abundante, porque a nossa fome de leitores é uma avidez profunda que nunca se sacia, uma exigência ilimitada que roça a loucura e que sempre me pareceu extremamente curiosa. Sabe-se lá de onde virá esta necessidade absoluta que converte todos os escritores em eternos indigentes do olhar alheio.

Rosa Montero, A louca da casa, Edições Asa