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sábado, 27 de fevereiro de 2010

INTIMIDADE E AMIZADE



A amizade é a base de todas as relações sociais, consideradas positivas. É uma das formas mais significativas da intimidade. Numa relação de amizade requere-se, acima de tudo, confiança, respeito e lealdade mútuas. Definir a amizade é algo difícil, independentemente do número de amigos que se tem ou teve, independentemente da nossa idade ou das relações anteriores.
Entre um sem número de expectativas e características possíveis, o seu grau de relevância varia de pessoa para pessoa, sendo por isso subjectivo falar de amizade, sem referir casos concretos. Os vários tipos e graus de afecto e partilha derivam de um conjunto de factores como a idade, o sexo, o contexto social e/ou as caracterísitcas próprias de cada indivíduo.
Falar de amizade não é, portanto, algo completamente linear. Fazer a distinção entre este e outros tipos de interacções sociais é um bom princípio. A reciprocidade, atracção pessoal, positivismo, confiança, durabilidade, lealdade, informalidade e a intimidade, são alguns dos aspectos que numa relação de amizade se pretende, por forma a facilitar os objectivos que os envolvidos procuram atingir.
E, se há objectivos, existem expectativas. Defender o amigo quando este se encontra ausente, partilhar acontecimentos relevantes, apoiá-lo emocionalmente, de forma espontânea e voluntária, sempre que necessário, confiar e ser verdadeiro para com ele, são algumas delas. É por isto que a amizade é a base do bem - estar em sociedade, pois ela, através da socialização, ajuda-nos a conhecer novas ideias, novas formas de vida e relacionamento, permite-nos ultrapassar obstáculos com a ajuda de amigos e, com a sua existência, haverá uma melhor predisposição para encarar cada dia.
A amizade é algo muito importante que devemos salvaguardar durante toda a vida. Com ela combate-se a solidão, o conformismo, o hospitalismo, os preconceitos e a discriminação. Com a amizade crescemos; com amigos nos formamos.

Ricardo Batista, 12ºB

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

DA RECTA CLARIDADE DOS TEUS PASSOS



Falta a luz dos teus olhos na paisagem:
O oiro dos restolhos não fulgura.
Os caminhos tropeçam, à procura
Da recta claridade dos teus passos.
Os horizontes, baços,
Muram a tua transparência.
Sem transparência.
O mesmo rio que te reflectiu
Afoga, agora, o teu perfil perdido.
Por não te ver, a vida anoiteceu
À hora em que teria amanhecido...

Miguel Torga, Obra Poética

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

HOJE É DIA DE HAENDEL


Nascido em Halle, Alemanha, a 23 de Fevereiro de 1685, Georg Friedrich Haendel era filho de Georg Haendel.
Seu pai ia com freqüência a Wersenfels e certa vez levou o filho. Ao notar o interesse do menino pela música, o Duque João Adolfo aconselhou o pai a contratar um professor de música. Assim o cirurgião contratou Wilhel Zachau, excelente músico, que passou a dar aulas a Haendel: órgão, cravo, violino, oboé e fundamentos de Harmonia. Mas como condição, Haendel prometeu que estudaria Direito.
Em 1696, aos doze anos, escreveu suas primeiras sonatas para oboé e cravo.
Com a morte de seu pai em 1697, Haendel decidiu-se pelo curso de Direito, em memória do velho Georg. Entrou para a Universidade de Halle em 1702. Sem abandonar a música,dividia-se entre os estudos jurídicos, as funções de organista.
Em 1707 apresenta sua primeira ópera em italiano, Rodrigo, em Florença, com êxito. Este sucesso animou-o a prolongar sua viagem até Veneza, um grande centro musical, onde travou conhecimento com o Príncipe Ernest de Hanover e fez amizade com Domenico Scarlatti.
Foi convidado para ser mestre-de-capela da corte de Hanover, cargo que ocupou em 1710.
No início de1711 viajou para a Londres, aceitando um convite. Após a morte de Purcell a música inglesa não se desenvolvera. Tudo era importado da Itália: partituras, libretos e até músicos. Desta maneira ele foi muito bem recebido pela corte inglesa. Em retribuição, escreveu a ópera Rinaldo. No ano de 1714 tornara-se compositor da corte inglesa.
Em 1719, a prosperidade económica da Inglaterra favoreceu a fundação da Academia Real de Música, sendo contratado como director.
Assoberbado de trabalho, esgotado e cheio de preocupações, Haendel sofre um ataque de apoplexia que lhe imobilizou o lado direito, obrigando-o a um período de descanso. Alguns meses mais tarde estava de volta a Londres, dizendo-se recuperado. Retornou a seu antigo ritmo de trabalho: óperas, concertos, a publicação de obras, o projecto de reunir uma nova equipa de artistas e a fundação da "Sociedade de Ajuda a Músicos Pobres. Apesar das dificuldades financeiras, Haendel conservava o seu prestígio e, ainda em 1738 publicou seis Concertos para órgão Opus 4.
Em 1741, o teatro italiano falia efectivamente na Inglaterra. Haendel apresentou as suas duas últimas óperas ( Imeneu e Deidamia ) mas os espectáculos foram boicotados pelo público, sob a influência dos seus opositores.
Magoado, Haendel foi para a Irlanda e lá encontrou calor, reviu amigos e deu inúmeros concertos. Apresentou O Messias, que dedicou aos irlandeses.
Voltou a Londres mais descansado e retomou a rotina de trabalho, dedicando-se à composição de concertos e música de câmara.
Em 1746, pôr ocasião de uma tentativa de invasão a Londres, pelo escocês Charles Edward, que pretendia tomar o poder, Haendel uniu-se aos patriotas ingleses, compondo o "Hino para os Voluntários de Londres". Após a derrota das tropas de Edward, Haendel escreveu "A Song of Victory over Rebels". Estas obras restituíram-lhe a popularidade. Após 35 anos a serviço da Inglaterra, Haendel consagrava-se, finalmente, como seu compositor nacional.
Em 1749, passa a dedicar parte de seu tempo ao Foundling Hospital, fundação para a educação de crianças abandonadas. Contribui com apresentações de concertos e ocupa-se pessoalmente do repertório musical desta instituição.
Mas, quando compunha a obra Jephtah, sente os primeiros indícios da cegueira em 1753.
Profunda tristeza se apossa do velho "Urso Branco", e apenas o reconfortam as notícias de que as suas obras, em particular O Messias, alcançam grande sucesso.
No dia 11 de abril, o compositor, confessa desejar morrer na Sexta Feira Santa. Mas morre no dia 14, Sábado da Ressurreição, e toda a Inglaterra chora. É enterrado na Abadia de Westminstes - no Canto dos Poetas.
Retirado e adaptado da Net, (com algumas alterações na estrutura frásica.)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

MUNCH


" Pintei os traços e as cores que afectaram o meu olhar interior. Pintei de memória sem nada acrescentar, sem os pormenores que já não via à minha frente. É esta a razão da simplicidade das minhas telas, do seu óbvio vazio. Pintei as impressões da minha infância, as cores esbatidas de um dia esquecido."

Eduard Munch

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

MÃOS DO SAPATEIRO


No clandestino recanto
em que sentado labuto
os pespontos do meu canto,

neste perdido reduto
em que as mãos amadurecem
a peça que fugirá
das mãos dos que não merecem
para andar ao deus-dará
num universo de espanto

em que o amor vai curtido,
calado, surdo, tingido
de uma cor que é o sentido
da salvação que acalento

aqui me caio e levanto

in... O Livro do sapateiro - Pedro Tamen, Dom Quixote

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

IMMANUEL KANT


Immanuel Kant(1724–1804)

Filósofo alemão, fundador da filosofia crítica. Filho de um seleiro, Kant nasceu e estudou em Königsberg (Kaliningrado), na Prússia oriental. Depois de acabar a universidade, foi preceptor durante alguns anos, mas ao alcançar o grau de mestre em 1755, começou a ensinar vários assuntos como Privatdozent. As primeiras obras de Kant tratam de física e astronomia: a sua Allgemeine Naturgeschichte und Theorie des Himmels (1755, trad. ing. Universal Natural History and Theory of the Heavens, 1969) previa a existência do planeta Urano, mais tarde descoberto por Herschel em 1881. Em 1770 foi nomeado para a cadeira de lógica e metafísica em Königsberg. Foi depois disto que entrou no seu aclamado período "crítico". A sua vida era de uma regularidade caricatural: nunca deixou Königsberg e nunca casou.
A paisagem intelectual na qual Kant começou a sua carreira era em grande parte dominada por Leibniz, se bem que filtrada por Wolff, que tinha erigido um sistema ordenado e metódico a partir do pensamento daquele. Wolff acreditava que o princípio da razão suficiente, assim como muita da metafísica resultante, poderiam ser conhecidos a priori, apesar de o estatuto deste conhecimento ter sido já nessa altura colocado em dúvida por homens como Crusius. Contudo, achava-se em geral que a "intuição" nos fornecia conhecimento e que era além disso garantida por Deus, de maneira que estava tudo bem. Na sua obra pré-crítica Sonhos de Um Visionário (Träume eines Geistersehers, 1766), a mais hostil à metafísica de todas as suas obras, Kant trata as especulações de Crusius e Wolff, tal como as imagens espirituais de Swedenborg, como algo que gira à volta de nada. O primeiro passo em direcção à filosofia crítica foi a Dissertação de 1770 (título latino: De Mundi Sensibilis atque Intelligibilis Forma et Principiis), na qual Kant revela pela primeira vez a sua ideia de que só podemos ter conhecimento a priori do espaço e do tempo porque estes são formas impostas à experiência pela nossa própria mente. O espaço é um "esquema, assegurando por uma lei constante da natureza da mente a coordenação de todo e qualquer sentido externo". A Dissertação prenuncia temas que seriam aprofundados ao longo dos dez anos seguintes: a origem subjectiva do esquema do espaço e do tempo, a distinção que ela cria entre as coisas tal como são em si e tal como são para nós, e a distinção entre experiência e pensamento.
A Crítica da Razão Pura (Kritik der reinen Vernuft, 1781, conhecida como a primeira Crítica) expande estes temas de maneira a abranger todas as categorias usadas no pensamento. O seu objectivo é "assegurar à razão as pretensões a que tem direito, e afastar quaisquer pretensões sem fundamento, não através de decretos despóticos, mas de acordo com as suas próprias leis eternas e inalteráveis" (Prefácio à primeira edição). Em resposta à sua questão orientadora (como é possível o conhecimento sintético a priori?), a primeira parte da obra isola categorias legítimas e fornece-lhes uma "dedução transcendental", garantindo a sua aplicabilidade objectiva ao mostrar que sem elas a própria experiência é impossível. Um dos passos centrais de Kant é argumentar que a unidade da consciência pressupõe uma experiência organizada segundo leis universais e necessárias. É esta parte da sua obra que constitui a tentativa de resposta ao cepticismo indutivo e à subjectividade da causalidade, ambos deixados por Hume. (A famosa observação de Kant que terá sido Hume a despertá-lo do seu sono dogmático aparece em 1783 nos Prolegómenos a toda a Metafísica Futura, mas na verdade a influência de Hume sobre a primeira Crítica é bastante pequena.) Uma vez estabelecida a origem e autoridade legítima da razão, Kant volta-se, na secção da primeira Crítica intitulada Dialéctica, para os casos em que as pretensões da razão saem frustradas, produzindo assim a metafísica dogmática que procura estabelecer doutrinas sobre a natureza do eu, a constituição do espaço e do tempo como uma ordem independente, e a possibilidade de conhecer de Deus.
A primeira Crítica é uma preparação para o problema da razão prática, sobre o qual deteve depois a sua atenção. Uma vez lançados os fundamentos para uma filosofia crítica, Kant produziu a Fundamentação da Metafísica dos Costumes (Grundlegung zur Metaphysik der Sitten, 1785, trad. 1960) e a Crítica da Razão Prática (Kritik der praktischen Vernunft, 1788, trad. 1985 e conhecida como a segunda Crítica). Kant afirmou que "duas coisas inspiram à mente uma admiração e um temor tanto maiores quanto mais vezes e mais detidamente reflectimos sobre elas: o céu estrelado por cima de nós, e a lei moral dentro de nós" (conclusão da segunda Crítica; uma fórmula idêntica pode encontrar-se em S. João Crisóstomo, que deriva por sua vez do Salmo 19). A sua ética é baseada, sem quaisquer compromissos, na procura de um único princípio supremo da moralidade, um princípio, para mais, com autoridade racional, conduzindo as paixões, em vez de se deixar conduzir por elas, e a si sujeitando todas as criaturas racionais. A origem de todas as acções encontra-se num princípio subjectivo, ou máxima, e o valor moral de um indíviduo depende inteiramente da máxima da sua acção consistir no respeito pela lei e no dever de obedecer ao imperativo categórico. As aplicações que o próprio Kant faz deste teste proíbem a mentira, o suicídio, a revolta contra a ordem política estabelecida, o sexo solitário e a venda do nosso próprio cabelo para fazer perucas, mas a questão de saber até que ponto se consegue destrinçar a sua ética da sua matriz luterana é controversa. A restrição do valor moral a um tipo específico de preocupação como o dever, efectuada por Kant, parece frequentemente denegrir as virtudes humanas normais, tais como a benevolência, mas os comentadores tentam encontrar um Kant mais humano por detrás da ética severa e rigorosa do respeito pela lei. A associação da liberdade com a capacidade de autocontrolo e autolegislação, e a necessidade prática de pensar em termos de um Deus justo que sustenta a ordem moral são alguns dos outros componentes contestados do seu sistema ético.
A terceira Crítica, a Crítica da Faculdade do Juízo (Kritik der Urteilskraft, 1790) confronta a dificuldade de tornar objectivos os juízos estéticos, quando eles não são feitos de acordo com uma regra, mas em resposta ao prazer subjectivo. Kant relaciona o nosso direito de exigir o acordo das outras pessoas em tais matérias com uma concepção teleológica da natureza, orientada por fins, uma ideia partilhada pelo romantismo deste período, e ao qual ele emprestou a sua enorme autoridade (ver também estética). A preocupação de Kant com as bases da metafísica e do conhecimento não tinha no entanto desaparecido, uma vez que foi nesta altura que ele produziu os Fundamentos Metafísicos da Ciência da Natureza (Metaphysishe Anfangsgründe der Naturwissenschaft, 1786). Esta obra trata da natureza do movimento, da matéria e da massa, e expõe uma espécie de teoria de campo que acabaria por exercer alguma influência na física do século XIX. A Religião nos Limites da Simples Razão (Die Religion innerhalb der Grenzen der bloßen Vernunft, 1793, trad. 1992), com a qual Kant acabaria por ter problemas com a censura religiosa repressiva de Frederico Guilherme II da Prússia, a Paz Perpétua (Zum ewigen Frieden, 1795) e Die Metaphysic der Sitten, 1797 (trad. geralmente como A Metafísica dos Costumes, mas que muitas vezes aparece em duas partes distintas: Princípios Metafísicos do Direito e Princípios Metafísicos da Virtude), são algumas das suas últimas obras.
Apesar da dificuldade notória de ler Kant, tornada mais aguda pela sua tendência para a sistematização escolástica e para a terminologia obscura, o seu lugar como o maior filósofo dos últimos três séculos é indisputável. Foi ele que rompeu pela primeira vez decisivamente com o empirismo sensacionista que prevaleceu no século XVIII, mas sem no entanto se refugiar num racionalismo indefensável. Apesar de a sua confiança no a priori e na estrutura do seu idealismo terem sido largamente rejeitados, não estaremos a exagerar se dissermos que toda a epistemologia, metafísica e até a ética modernas foram implicitamente afectadas pela arquitectura por si criada.
Simon Blackburn - Universidade de Cambridge
Texto de Dicionário de Filosofia (Lisboa: Gradiva, 1997).
Retirado de Textos de apoio ao Manual A Arte de Pensar, 10ºAno - Didáctica Editora

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

JOHN STUART MILL


John Stuart Mill(1806–1873)
Simon Blackburn
Universidade de Cambridge
Filósofo e economista inglês, é o pensador liberal mais influente do século XIX. Filho de James Mill, John Stuart recebeu uma educação particular intensiva, a qual o iniciou no grego com três anos de idade e no latim (bem como em seis dos diálogos de Platão) com oito anos de idade (o próprio Mill comenta que o Teeteto talvez tenha sido um pouco demais para ele). Viveu a sua adolescência imerso nos interesses filosóficos e políticos do seu pai, até que um colapso nervoso, aos vinte anos de idade, o conduziu a uma reavaliação e a uma moderação da sua posição benthamiana. Daí em diante, influenciado por Saint-Simon e por outros, Mill defendeu uma apreciação mais sofisticada da influência das forças históricas na formação das ideias das pessoas e uma perspectiva menos cínica sobre as forças de reacção. A partir de 1831, a sua amizade com Harriet Taylor, uma senhora casada, foi determinante para a sua vida. Em 1849, após a morte do seu marido, casaram. Harriet Taylor morreu em 1858, em Avignon. A natureza da sua influência no pensamento de Mill é interessante e complexa.
Na filosofia em geral, Mill era um empirista cujo objectivo consistia em construir um sistema de conhecimento empírico genuíno, para uso tanto nas questões sociais e morais como na ciência. Com este fim em vista, começou por resgatar a doutrina das suas reminiscências cépticas humianas. A sua principal discussão acerca dos fundamentos do conhecimento e da inferência está patente na obra System of Logic (1843), cujos seis livros tratam da inferência dedutiva em geral, do conhecimento matemático, da indução, da observação, da abstracção e classificação, das falácias e finalmente das ciências sociais, políticas e morais. A sua distinção entre conotação e denotação, e entre termos gerais e termos singulares, influenciaram a semântica posterior de Frege (que, contudo, rejeitou inteiramente a sua concepção empirista "vulgar e de mau gosto" da aritmética), enquanto a sua obra acerca da indução constitui ainda o fundamento das metodologias de descoberta de leis causais. Como se pode ver numa das suas últimas obras, Examination of Sir William Hamilton's Philosophy (1865), o projecto de Mill pertence ao que viria mais tarde a ser baptizado como epistemologia naturalizada: a tentativa de compreender as operações mentais como o resultado da acção de leis conhecidas da psicologia sobre os dados da experiência.
Na ética, Mill é conhecido sobretudo pelas suas obras Utilitarianism (1861 na Fraser's Magazine, 1863 numa publicação separada, trad. Utilitarismo, 1976) e On Liberty (1859, trad. Ensaio sobre a Liberdade, 1964). Cada uma delas é um clássico do seu género, embora o Utilitarismo padeça de uma tensão vitoriana, pela sua combinação de hedonismo com distinções de qualidade entre os prazeres, bem como pela difícil mistura entre elementos de utilitarismo dos actos e utilitarismo das regras. Foi o principal alvo de todos os críticos do utilitarismo posteriores, e especialmente dos idealistas Green e Bradley. Da Liberdade é a defesa clássica do princípio da liberdade de pensamento e de discussão, argumentando que o "único fim pelo qual a humanidade está autorizada, individual ou colectivamente, a interferir na liberdade de acção de qualquer um dos seus é a sua própria protecção". Entre outras obras, Mill escreveu Principles of Political Economy (1848) e Subjection of Women (1861, publicado em 1869).
Simon Blackburn
Dicionário de Filosofia, (Lisboa: Gradiva, 1997).
Retirado de Textos de Apoio ao Manual A Arte de Pensar- Didáctica Editora

domingo, 14 de fevereiro de 2010

MORRESTE-ME


"É o teu rosto que encontro. Contra nós, cresce a manhã, o dia, cresce uma luz fina. Olho-te nos olhos. Sim, quero que saibas, não te posso esconder, ainda há uma luz fina sobre tudo isto. Tudo se resume a esta luz, fina a recordar-me todo o silêncio desse silêncio que calaste. Pai. Quero que saibas, cresce uma luz fina sobre mim que sou sombra, luz fina a recortar-me de mim, ténua, sombra apenas. Não te posso esconder, depois de ti, ainda há tudo isto, toda esta sombra e o silêncio e a luz fina que agora és.
Pai. Eu, a minha mãe. A madrugada. Desinteressado do nosso cansaço, o sol levantou-se no céu. E parou. O sol parou. Entre mim e ela deixou de haver tempo. Parou o tempo. Nos meus olhos, a tua mulher sem ti, a tua viúva. Nos seus olhos, eu. E sobre nós, em nós, tu, a tua presença, a tua ausência. E separados por nada, os olhares maciços, um dentro do outro e esse dentro do primeiro; os dois olhares na unidade fixa de um único."

José Luís Peixoto, morreste-me - Temas e Debates, Maio de 2000

José Luís Peixoto
Nasceu em 1974, em Galveias, concelho de Ponte de Sôr (Portalegre). É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Inglês e Alemão) pela Universidade Nova de Lisboa. Publicou, durante vários anos, textos de poesia e prosa no suplemento DN Jovem. Foi, durante alguns anos, professor do ensino secundário, tendo dado aulas na Lousã, em Oliveira do Hospital e na Cidade da Praia, em Cabo Verde.
Vencedor do Prémio Jovens Criadores do Instituto Português da Juventude nos anos de 1998 e 2000, tinha já publicado, antes de Nenhum Olhar, vários conjuntos de poemas, nos cadernos Átis, e a ficção breve Morreste-me, dada à estampa em Maio de 2000, numa edição de autor rapidamente esgotada.
Em Outubro de 2000 publicou, na Temas e Debates, o seu primeiro romance, Nenhum Olhar, que lhe valeu de imediato um largo reconhecimento da crítica, plenamente confirmado com o facto de ter vencido, no ano seguinte o Prémio José Saramago, da Fundação Círculo de Leitores, e foi considerado finalista para a atribuição de dois dos mais importantes prémios literários desse mesmo ano: o Grande Prémio de Romance e Novela da APE e o Prémio do Pen Club.
Foram estes dois livros que, já traduzidos em quatro línguas e em negociação para várias outras, lhe garantiram o lugar que hoje ocupa como um dos jovens romancistas de maior destaque na Europa.
O livro de poesia A Criança em Ruínas, lançado em 2001 e com edições sucessivas, constituiu um novo êxito de público e de crítica.
O lançamento de Uma Casa na Escuridão (romance) e de A Casa, a Escuridão (poemas), feito em simultâneo em Outubro de 2002, é outro marco importante no percurso do autor, pela originalidade de uma ficção e de um livro de poemas que remetem para um mesmo e fortíssimo universo ficcional.
Tendo representado Portugal em diversos eventos literários internacionais (Paris, Madrid, Frankfurt, Zagreb, entre outros), foi em 2002 o primeiro autor português convidado para a residência de escritores na Ledig House, em Nova Iorque.
É colaborador regular de vários jornais e revistas como o DNA (Diário de Notícias), e o Jornal de Letras.
Retirado da Internet -Wook

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

NELSON MANDELA


Passam hoje vinte anos sobre a libertação de Nelson Mandela. No dia onze de Fevereiro de 1990, foi libertado saíndo da prisão onde viveu mais de um quarto da sua vida.
Para compreenderes melhor a vida deste Homem, divulgo um texto retirado do Jornal Público.

"O que mais surpreendeu Nelson Mandela, no dia da sua libertação, foi ver tantos brancos, juntos nas ruas com os negros, a festejar a sua saída. Disse-o no dia seguinte, na residência do arcebispo Desmond Tutu no primeiro amanhecer em liberdade depois de 27 anos na prisão. Estava "absolutamente surpreendido" por perceber que tantos sul-africanos se identificavam com o que estava a acontecer na África do Sul, um novo país que nascia e onde, dizia Mandela, havia lugar para todos. Confessou não ter palavras para transmitir o que sentira no momento em que passou os portões da prisão de Victor-Verster, há precisamente 20 anos. "Sou incapaz de descrever os meus próprios sentimentos. Foi de cortar a respiração. É tudo o que posso dizer."
Falava com ar calmo, nessa sua primeira conferência de imprensa, frente a 200 jornalistas. Quando foi preso, em 1964, não havia televisão na África do Sul. E em 1961 dera clandestinamente uma entrevista a um jornalista britânico do canal ITN. Mas esta era a sua primeira vez nas televisões da África do Sul e do mundo inteiro. A única imagem que dele existia de todos esses anos - a única tirada com a sua autorização e depois divulgada, pelo menos - era uma fotografia feita no pátio da cadeia junto ao seu companheiro de luta e de prisão Walter Sisulu, em 1964, nos primeiros tempos em Robben Island.
Durante todo esse tempo, a divulgação da sua imagem fora proibida. Por isso, no dia da sua libertação, à euforia e aos cantos de alegria juntou-se o espanto de ver um homem envelhecido, digno e sereno caminhar sem sinais de rancor. Com 71 anos, Mandela tinha passado mais de um terço da sua vida preso. Muitos não sabiam o que ver no homem de quem o Governo tinha banido qualquer imagem, qualquer mensagem.
Só em 1985, num comício no Soweto, em Joanesburgo, a sua filha Zindzi pôde passar a mensagem que trazia de uma das raras visitas autorizadas ao pai. No discurso que ela leu, Mandela, a quem as autoridades tinham oferecido a hipótese de uma saída da prisão sob estritas condições, queria deixar claro que só o aceitaria quando os outros presos políticos fossem libertados, o povo livre e o seu movimento, o Congresso Nacional Africano (ANC), legalizado. "A vossa liberdade e a minha liberdade são inseparáveis", dizia.
No dia em que foi libertado, muitos sul-africanos, sobretudo os mais jovens, nunca tinham visto o dirigente do ANC. Antes de ser condenado a prisão perpétua por traição e sabotagem, Mandela passara vários anos na clandestinidade, tornara-se invisível.
Tinha criado a ala militar do ANC e defendia a luta armada (mas nunca tendo como alvo a população civil) como única forma de resistir a um regime que usava a força contra o povo. Era considerado de tal modo perigoso pelo Governo que este o deixou preso, escondido e sem ser fotografado durante 27 anos, primeiro na prisão de alta segurança de Robben Island, numa ilha ao largo da Cidade do Cabo, depois na prisão de Pollsmoor, e, finalmente, na cadeia de Victor Verster.
A ideia de Mandela que o Governo do apartheid fazia passar era a do líder de um movimento terrorista. E era ainda mais perigoso porque inteligente. Ele próprio, advogado, assumira a sua defesa no julgamento de Rivonia. E aí, como depois no discurso da Cidade do Cabo, disse que lutava contra a dominação branca, da mesma forma que combatia a dominação negra. Acreditava numa nação com oportunidades iguais para todos, com eleições livres em que a cada homem correspondesse um voto.
Para muitos jovens era um símbolo. De uma luta.
Símbolo de coragem
Com as mudanças políticas e o anúncio, nove dias antes, a 2 de Fevereiro de 1990, do Presidente F. W. De Klerk de que seria libertado incondicionalmente, Mandela passou de símbolo da opressão a símbolo da coragem.
E porque escolheu quando e como saiu da prisão, porque caminhou e não foi transportado de carro da prisão, porque não exultou à saída nem se queixou dos anos de privações, porque não trazia na sua expressão nenhuma das marcas de um homem que tinha estado atrás das grades mais de um quarto de século, Mandela tornou-se maior que o símbolo. E mostrou que uma lenda fica maior e não mais pequena quando se torna humana, escreveu o ensaísta irlandês Fitan O"Toole, numa homenagem a Mandela.
"Não sabíamos como ele seria. Mas o simples facto da sua libertação representava tudo aquilo que tínhamos querido alcançar", testemunhou à BBC a jornalista da estação Audrey Brown, que já em 1990 trabalhava num pequeno jornal anti-apartheid. "Ri-me e entreguei-me a uma alegria delirante porque tudo, de repente, parecia possível, como sabíamos que seria quando, em crianças, lançávamos pedras ao gigante que era o apartheid", disse, acrescentando: "E chorei porque tantos amigos e familiares tinham morrido a tentar concretizar isto, à espera disto."
Para muitos jovens este era o momento em que viam Mandela pela primeira vez. O verdadeiro Mandela, não o do slogan em t-shirts ou posters que começaram a aparecer nas semanas que antecederam a sua libertação ou o do ar desafiador que a propaganda do apartheid difundira para sustentar a tese de que era o líder de um movimento terrorista.
"Foi a primeira vez na minha vida que realmente vi o homem. Foi uma experiência verdadeiramente comovente", disse à AFP Siraaj Cassiem, na altura um activista anti-apartheid de 18 anos. David Teek tinha 23 anos e também nunca tinha visto uma fotografia de Mandela dos tempos da prisão. "E, no entanto, ele parecia tão longe do monstro assustador que era como o Estado o tinha retratado", disse num dos vários testemunhos recolhidos pela BBC. "Ouvi-lo falar foi um momento incrivelmente emocionante. Pouco depois da queda do Muro de Berlim [em 1989], os anos 1990 pareciam-nos a todos como um momento de viragem."
Imagens interditas
Mandela tinha estado preso e interdito - não era possível citá-lo nem mostrar as suas fotografias. Ao apagar-se a imagem tentou fazer-se desaparecer o homem. Mas terá esse interdito jogado a seu favor, ampliando o mito? Ou, como hoje, o líder não existiria, se dele não se vissem imagens?
"A imagem de Mandela [a sair da prisão] teve uma força imensa, talvez até maior porque o desconhecíamos", diz Diana Andringa, que esteve presa pela PIDE, e que além de jornalista e realizadora de vários documentários está ligada ao movimento Não Apaguem a Memória. "Esse mistério aumentou muito a emoção no minuto em que ele sai." A sua invisibilidade pode ter ampliado "a aura romântica do preso", explica.
Apesar da tensão e dos riscos que muitos sentiam, num país à beira de uma guerra civil, Mandela saiu a caminhar, acompanhado da mulher, Winnie, antes de entrar num carro que os levou à Cidade do Cabo, a cerca de 60 quilómetros dali. Pouco passava das quatro da tarde na África do Sul. Era domingo e estava um calor abrasador. "Lembro-me que ele saiu da prisão com um sorriso", disse à BBC Deborah Jane Cairns, que na altura tinha 11 anos.
Milhões de pessoas no mundo acompanhavam o momento pela televisão. E milhares de sul-africanos tinham ido a pé ou de autocarro para ouvir o seu primeiro discurso em liberdade na varanda da Câmara Municipal da Cidade do Cabo. Para o verem.
Para a realizadora Susana Sousa Dias, "este interdito sobre a imagem de Mandela acaba por ser um acto de violência que ganha uma grande relevância com os 27 anos de prisão". Porém, reconhece: "Ele podia estar presente através da imagem e esteve, afinal, omnipresente."
"O Governo sul-africano tentou apagar Mandela, favoreceu o desaparecimento [da sua imagem]. E fez isso justamente devido à importância da imagem", continua Susana Sousa Dias, também professora da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa. "Se tivéssemos imagens de Mandela, tínhamos o reflexo da pessoa, a dimensão humana. E era isso que o Governo sul-africano queria evitar a todo o custo."
Mais de 500 mil pessoas encheram as ruas, descreveu o repórter da BBC que acompanhou as horas da libertação. A alegria em townships como o Soweto contrastou com a tensão e os motins nalguns bairros de brancos onde entraram negros. "Entrámos nas ruas de Joanesburgo, desafiando a polícia, entoando os nossos cânticos de vitória. Eles expulsaram-nos e bateram-nos", contou ainda a jornalista da BBC Audrey Brown.
À alegria visível e à tensão latente juntou-se o medo de que Mandela pudesse ser assassinado por algum grupo extremista. O atraso e a espera contribuíram para os receios.
Firmeza no discurso
Mandela chegou à Câmara Municipal da Cidade do Cabo para o discurso cinco horas depois do previsto. E quando tomou a palavra em público, pela primeira vez em pelo menos três décadas, não olhou para o passado. Mas também não foi tão apaziguador como se esperava. Deixou clara a sua lealdade ao ANC e manteve o desafio ao Partido Nacional do Presidente Frederik De Klerk para cumprir a promessa e prosseguir a negociação que levaria às primeiras eleições livres de 1994. "A nossa luta atingiu um momento decisivo. A nossa marcha para a liberdade é irreversível", afirmou.
Mandela defendia uma continuação da luta armada e das sanções internacionais ao regime, se persistissem as razões que tinham originado ambas. Nos dias que se seguiram, iniciou um périplo por várias cidades sul-africanas. Num grande comício no estádio do Soweto, milhares de pessoas entoaram o hino dos movimentos de libertação negros, Nkosi Sikelele iAfrika (Deus abençoe África), até então proibido.
"Toda a gente queria saber o que este homem tinha para dizer e o que planeava fazer agora que estava livre", disse num testemunho à BBC Kevan Heesom, que era criança quando Mandela foi libertado. Vinha de uma família inglesa branca e frequentava uma escola numa área "muito africânder", contou, onde os professores proibiram os alunos de ver televisão e ouvir rádio nas semanas que antecederam o dia da libertação. Também o discurso de De Klerk a anunciar a libertação incondicional de Mandela, dias antes, tinha sido transmitida em directo para os Estados Unidos, mas em diferido e apenas por excertos na televisão estatal sul-africana. Esse discurso foi mais tarde descrito como o princípio do fim do regime segregacionista, "os 30 minutos que fizeram ruir o apartheid".

Retirado do Jornal Público, 11de Fevereiro de 2010

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

CONCURSO DE FOTOGRAFIA


Se gostas de fotografia,
Se gostas de estar atento à singularidade da vida,
Se gostas de captar e eternizar imagens,
participa no CONCURSO de FOTOGRAFIA lançado pelo Clube.

REGULAMENTO
Objectivos:
O Concurso é uma iniciativa do Clube de Fotografia, que tem por objectivos a procura da fotografia enquanto forma de expressão artística e estímulo da criatividade daqueles que gostam de captar e fixar imagens.

Art. 1
O Concurso é aberto a toda a Comunidade Educativa.
Aos membros do júri é vedada a participação.

Art.2
O tema do Concurso é : A Biodiversidade

Art. 3
Trabalhos
Os trabalhos poderão ser a cores e/ou a preto e branco (p&b).
Cada participante pode apresentar até três trabalhos.
Os trabalhos deverão ser apresentados em formato 20 x 15 cm.
Os trabalhos deverão ser entregues em subscrito fechado, em cujo exterior figurará apenas o pseudónimo do concorrente. No verso de cada trabalho deverá constar em letra legível o título da fotografia e a indicação do local de recolha da imagem.
Juntamente com os trabalhos deverá ser entregue um subscrito fechado contendo o nome, e-mail e no exterior a indicação do pseudónimo.

Art. 4
Prazo de entrega
Os trabalhos deverão ser entregues em mão, até ao dia 19 de Março de 2010 aos professores: Jorge Marques, Isabel Laranjeira, Maria João Vieira, Francisco Matos e Vítor Lino ( a qualquer um deles).

Art. 5
Júri
a) O Júri será constituído por cinco elementos:
- Um fotógrafo;
-Um representante da Direcção da Escola;
-Um aluno;
-Dois professores do Clube de Fotografia.
A decisão do Júri é final e irrevogável.

Art. 6
Prémios
Serão atribuídos prémios aos três trabalhos vencedores no valor de vinte euros cada.
Entre todos os trabalhos entregues serão seleccionados alguns para participar numa exposição que decorrerá no Dia Aberto, na Escola.

Clube de Fotografia, Fevereiro 2010

HOMENS EM TEMPOS SOMBRIOS


Hannah Arendt nasceu em 1906 e viveu os tempos sombrios de duas guerrras mundiais. Foi aluna de Heidegger e de Jaspers e formou-se em Heidelberg.
Deixou a Alemanha após a chegada dos nazis ao poder, tendo-se fixado nos Estados Unidos, onde faleceu em 1975.
Entretanto era reconhecida como uma das figuras mais importantes do pensamento político contemporâneo.
Os textos aqui reunidos são biografias comentadas de homens e mulheres tão diferentes como Hermann Broch e João XXIII, Rosa Luxemburgo e Jaspers, Karen Blixen e Walter Benjamin. O resultado é uma reflexão apaixonada do comportamento dos "homens em tempos sombrios."

"Escrita ao longo de um lapso de tempo de doze anos, ao sabor da ocasião ou da oportunidade, esta colectânea de ensaios e artigos ocupa-se principalmente de pessoas - como viveram as suas vidas, como andaram pelo mundo e de que modo foram afectadas pelo tempo histórico. As pessoas aqui reunidas dificilmente poderiam ser mais diferentes umas das outras (...). Compartilham a época em que as suas vidas se situaram, o mundo da primeira metade do século XX, com as suas catástrofes políticas, as suas calamidades morais e o seu extraordinário desenvolvimento das artes e das ciências. E, se bem que esta época tenha matado alguns deles e determinado a vida e obras de outros, alguns houve que mal sentiram os seus efeitos e nenhum de quem se possa dizer que foi por ela condicionado."

Homens em Tempos Sombrios, Hannah Arendt -Relógio D´Água, 1991

sábado, 6 de fevereiro de 2010

ESCUTO MAS NÃO SEI


"Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou deus

Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra a fita

Apenas sei que caminho como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco"

in, Escuto (Sophia de Mello Breyner Andresen)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

AQUELE QUE MANTÉM A CALMA


Aquele que mantém a calma diante de todas as adversidades da vida mostra simplesmente ter conhecimento de quão imensos e múltiplos são os seus possíveis males, motivo pelo qual ele considera o mal presente uma parte muito pequena daquilo que lhe poderia advir: e, inversamente, quem sabe desse facto e reflecte sobre ele nunca perderá a calma.
Arthur Schopenhauer (1788-1860), in 'A Arte de Ser Feliz'

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

NO PRINCÍPIO ESTAVA O MAR


"Descrições fabulosas da alegria do surf, da excitação de deslizar numa onda, da liberdade de viajar condicionado pelo peso de uma prancha às costas, entrelaçam-se com reflexões subtis mas profundas sobre empenho social, gastronomia, racismo, ecologia, paternidade, o próprio sentido da vida, entre muitas outras.
"No Princípio estava o Mar" é um convite a aproveitar o oceano, a desfrutar plenamente a Natureza, a dar corda livre aos sonhos de errância e aventura, a não deixar para amanhã o que se pode viver hoje."

"Várias vezes tive a sorte de me sentir leve e espiritual na minha vida. Nesse Verão dos 11 anos a subir árvores no parque, anos depois a caminhar com os escuteiros de madrugada nas montanhas, já na idade adulta no deserto da Namíbia à volta duma fogueira a olhar para as estrelas, ou simplesmente em casa a observar a chegada do outono, uma noite de luar a navegar, Mozart por acaso na rádio. Mas as experiências mais intensas, mais leves, mais espirituais que eu atravessei passaram-se dentro de água a fazer surf."

Gonçalo Cadilhe, No Princípio Estava o Mar - Prime Books, 3ª edição, Fevereiro 2008