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sexta-feira, 23 de julho de 2010

BOAS FÉRIAS!!!


Boas férias para todos os leitores de Katársis.
Vamos neste tempo de Verão andar por aqui, por ali e por além, longe...
Aproveitem! Leiam muito e procurem ser felizes.
Um beijo.

Isa

quinta-feira, 22 de julho de 2010

PEÇAS EM FUGA


"O passado sombra é moldado por tudo o que nunca aconteceu. Invisível, derrete o presente como a chuva no karst. (1) Uma biografia de saudade. Conduz-nos como um magnetismo, um torso do espírito. É assim que ficamos desfeitos por um cheiro, uma palavra, um lugar, a fotografia de um monte de sapatos. Pelo amor que fecha a boca antes de chamar um nome.
Não assisti aos acontecimentos mais importantes da minha vida. A minha história mais profunda tem de ser contada por um cego, um prisioneiro do som. Detrás de uma parede, debaixo da terra. Do canto de uma pequena casa numa pequena ilha, saliente como um osso na pele do mar."

(1)Karst: Área de terreno calcário caracterizada por charcos, ravinas e cursos de água subterrâneos

Extracto retirado do livro, Peças em Fuga de anne michaels. É um livro que me toca pelas reflexões profundas, poéticas, na evocação de imagens da infância. Trata-se da libertação dos traumas da guerra pelo percurso ao mais íntimo de si do poeta grego Jakob Beer que pouco antes de morrer, atropelado em Atenas, em 1993, tinha começado a escrever as suas memórias. "A experiência da guerra não termina com a guerra. O trabalho de um homem, tal como a sua vida, nunca está completo..."
Aconselho a leitura nestas férias....

Peças em Fuga, Anne Michaels, Editorial Presença

quarta-feira, 21 de julho de 2010

BANQUETE DAS ALMAS


" Naquela mesa cercada de cadeiras, com cálices cheios...almas
Na parede uma tapeçaria, tecida a tons de outros tempos idos...
Ali o banquete de almas sem voz, gritam pelo povo tecido sem parede.
Contada a história fica esquecido o povo dos povos com vozes.
Ali vive a minha alma em silêncio e sem história."
JA

terça-feira, 20 de julho de 2010

NÃO !!



Não...
Mas o que é isto?
Quem vagueia pelos palácios construidos com sangue Nobre povo!
Quem são essas gentes de horários nobres que por ai ferem o meu povo?
Quem de tão grande sabedoria se atreve a pedir ao povo para não comer.
Mas o que é isto? Os campos verdes agora parecem castanhos e sem sementes novas.
Dizem alguns vem, vem por aqui, dizem outros vem vem por aqui...
Mas o que é isto? Nao sabem que o povo é uma alma e a voz uma muralha?
Esta é uma tapeçaria tecida pelo povo, e com heróis sem TI...
Isto é alma do povo que sou, e que no mundo semeou outra história...mas não matou os campos de ninguém!
JA

segunda-feira, 19 de julho de 2010

TRILHOS ii...


" Escuta os sons que dentro de ti vivem."

TRILHOS i...


"Deixa fluir cada sentido nos teus passos e repara nos segredos que olham para ti."

TRILHOS...


" Cada passo que demos com a terra, é uma força que nasce em nós"

domingo, 18 de julho de 2010

COLHE CADA MANHÃ


" Colhe cada manhã com aquele sorriso que nasce tímido"
JA.

Calcei as sapatilhas e vou devagar
olhar o chão,
escutar o vento,
vou colher esta manhã o murmúrio do regato,
o silêncio das aldeias.
À tarde quando voltar,
vou trazer um fruto dos meus passos,
um pedacinho do meu céu
e um grão de terra.
Isa.

sábado, 17 de julho de 2010

MOTIVO



Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei.
Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto.
E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E sei que um dia estarei mudo:
- mais nada

Cecília Meireles

quinta-feira, 15 de julho de 2010

SOLAR


E nos intervalos da Filosofia... Leituras de Verão...

" Michael Beard é um físico galardoado com o Prémio Nobel cujo trabalho já conheceu melhores dias. Agora vive da sua reputação, proferindo conferências, emprestando o nome a instituições científicas e aceitando - pouco convictamente - presidir a uma iniciativa sobre aquecimento global levada a cabo com dinheiros públicos. Mulherengo compulsivo, Michael vê entretanto ruir o seu quinto casamento. Mas desta feita é diferente: é ela quem tem um caso e ele ainda está apaixonado.
Quando os mundos profissional e pessoal de Michael colidem inesperadamente, conjugam-se as almejadas oportunidades de fugir da confusão conjugal, revitalizar a carreira e salvar o mundo da destruição ambiental.
Solar é um romance inteligente e sombriamente satírico que revela a fragilidade humana confrontada com os mais prementes e complexos desafios do nosso tempo. Uma obra profunda e elegante de um dos escritores maiores da actualidade."

Retirado da contrapaca do livro.
Solar, IAN McEWAN, Gradiva, Março 2010

Comecei ontem a leitura do livro. O tom irónico e satírico que provoca em mim o sorriso, prende-me às páginas inquietantes de IAN McEWAN. Recomenda-se a leitura deste livro...

terça-feira, 13 de julho de 2010

O MUNDO NOCTURNO



Noite Estrelada sobre o Ródano, 1888
Oléo sobre tela
Museu d´Orsay, Paris

(As luzes da cidade reflectem-se em longas linhas no Ródano, e as estrelas cintilam, quais auréolas, no céu nocturno: um relevo de amarelo e azul a dar a impressão da noite.)

Depois do seu regresso de Saintes-Maries, Van Gogh, manifestara, em cartas dirigidas a Theo,(seu irmão) o desejo de finalmente pintar um céu estrelado. Com o auxílio de um candeeiro a gás, pintou, em Setembro de 1888, o céu nocturno na margem do Ródano, virado para a ponte de Trinquetaille. Pinceladas largas do céu azul esverdeado, a cidade ao longe, em azul e lilás, água azul cobalto e um prado verde amarelado em primeiro plano, com um casal de veraneantes, articulam este panorama nocturno em grande formato. As luzes da cidade reflectem-se na água em longas refracções, enquanto as luzes das estrelas, sobretudo na reprodução da Ursa Maior, se difunde de forma cintilante. Pinceladas vogorosas e amplas oferecem um relevo cromático cheio de contrastes.
Mini Guia de Arte, Van Gogh, Dieter Beaujean, Konemann

segunda-feira, 12 de julho de 2010

ESTRUTURA E CONTORNOS


A estrutura, a articulação ou ordenação interna dos elementos como o todo, é um princípio artístico da composição que se torna mais evidente sobretudo nos trabalhos tardios de Van Gogh. A forma mais minúscula dos elementos de composição na pintura, que só no seu conjunto se transformam numa representação, é decerto o pontilhismo. Em trabalhos de Van Gogh, como a Noite Estrelada (1889) estão agrupados tais elementos de composição: linhas enroladas sobre si mesmas transformam-se em estrelas no céu nocturno, pinceladas impetuosas em picos de ciprestes, superfícies curvas tracejadas produzem cumes de montanhas e formas geométricas reproduzem a arquitectura de um lugar. O conjunto de tudo isto é uma noite estrelada, vivida aparentemente em delirantes, embora muito estudados, impulsos e pinceladas de cor.

Van Gogh, Mini Guia de Arte, Dieter Beaujean, Konemann

domingo, 11 de julho de 2010

DIA EM VÃO


A janela está fechada. Subi para me deitar cedo e não tenho sono.
Não falei com ninguém desde há dez dias, excepto uma vez ao homem do cigarro. A noite está extremamente silenciosa. Por toda a parte, à volta do quarto, o vento, o ruído do mar, passos no corredor, latidos de cães, em baixo. No quarto, um silêncio muito denso e no meio o meu coração que bate. Resta-me o meu coração que bate sempre, sempre. Junto do mar, em pleno dia, é diferente. Está-se nas mãos do mar. Sente-se esse prazer de o respirar. Numa ordem que não sente, é-se esse nada de desordem que sente. Uma coisa a constatar o mar. Saboreia-se então com sofreguidão o barulho do coração que bate. No momento em que ele poderia não... Que bate em vão. Ou por um motivo que hoje não tem. Que bate em vão. Porque, de cada vez, hoje é um dia em vão, que não terá outro igual. Está-se em férias de si mesmo ao esperar em vão. Nesse caso vive-se para o prazer; está-se presente nesse presente; as pernas não podem conter-se mais, elas querem mexer-se e estão sufocadas de riso.

Vida Tranquila, Marguerite Duras, DIFEL, 1989

sábado, 10 de julho de 2010

UM RENQUE DE ÁRVORES


Um renque de árvores lá longe, lá para a encosta.
Mas o que é um renque de árvores?
Há árvores apenas.
Renque e o plural árvores não são cousas, são nomes.
Tristes das almas humanas, que põem tudo em ordem,
Que traçam linhas de cousa a cousa,
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais,
E desenham paralelos de latitude e longitude
Sobre a própria terra inocente e mais verde e florida do que isso!

Alberto Caeiro, XLV - Um Renque de Árvores , in Guardador de Rebanhos

quarta-feira, 7 de julho de 2010

1 Km DE CADA VEZ


Nos intervalos da Filosofia... leituras de férias

O meu fascínio pelos livros de Gonçalo Cadilhe. Com eles viajo "ao sabor do tempo."

Da África Austral às Galápagos, da América Central à Oceânia, da Polinésia à Índia, "1 Km de Cada Vez" leva os leitores numa viagem de 15 meses, desprendida das imposições do tempo, por alguns dos locais mais fascinantes do planeta.
Em "1 Km de Cada Vez", Gonçalo Cadilhe homenageia o "fascínio da viagem". Para além de lugares, a obra detém-se em pessoas e em histórias, permitindo o reencontro com sítios já visitados, com amigos e antigos companheiros de aventura, sem pressa de partir.
Para Gonçalo Cadilhe, este é um livro diferente dos anteriores. "É um olhar mais profundo e maduro sobre a viagem, os encontros, os regressos, uma reflexão sobre esse privilégio imenso que é poder andar pelo mundo sozinho com uma mochila às costas", revela o autor.
Mais do que os locais que percorre, Gonçalo Cadilhe defende que o fascínio de "1 Km de Cada Vez" está "na sua diversidade, no olhar sempre renovado do viajante". "O fascínio é a própria viagem", sublinha.
De resto, nota Gonçalo Cadilhe, o próprio título do livro "recorda essa expressão 'um dia de cada vez', que ensina a não colocar as ânsias, os problemas de amanhã na nossa cabeça hoje". É o viajar pelo viajar, como se para isso houvesse todo o tempo do mundo. Por isso, é entre risos, que responde que o lugar que até hoje mais o tocou é "o próximo". Afinal, é "a curiosidade do Outro, saber o que significa para um habitante de um certo lugar ser desse lugar" que continua a fazer Gonçalo Cadilhe partir para novas viagens e para novos livros, com os quais procura sobretudo "provocar todos os que têm essa curiosidade de ver o que está do lado de lá da fronteira".
Jornalista e cronista de viagens, Gonçalo Cadilhe nasceu na Figueira da Foz. Licenciado em Gestão de Empresas, escreveu para a revista "Grande Reportagem", sendo actualmente colaborador do semanário "Expresso". Entre as obras já publicadas encontram-se "No Princípio Estava o Mar", "Nos Passos de Magalhães", "África Acima", "A Lua Pode Esperar", "Planisfério Pessoal" e "Tournée".

Retirado da Net - Ideias Concertadas

quinta-feira, 1 de julho de 2010

PARIS


Nos intervalos da Filosofia... leituras de férias.

Aqui, o mar protege da sensação de asfixia, de se estar enterrado na cidade. Aqui, Paris surge como se fosse um lapso, um estado inadmissível da cidade. É aí, em Paris, que se encontra o mercado da morte, o da droga e do sexo. É aí que assassinam velhinhas. É aí que se deita fogo ao dormitório dos negros, seis em dois anos. É aí que há toda uma população automóvel que é malcriada a conduzir, grosseira, insultuosa, que assassina com o carro: os novos - ricos dos circuitos financeiros da heroína, os PDG da morte. Andam de Volvo e de BMW. Dantes, estas marcas eram a elegância dos sapatos, dos perfumes, da voz e de falar com amabilidade a toda a gente. Era, se quisermos, o snobismo da discrição. Agora já não apetece comprar estas marcas. Paris, a cidade, a Medina. Onde nos perdemos.

A Vida Material, Marguerite Duras, DIFEL