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sexta-feira, 30 de maio de 2008

CONHECEMOS A DOR DOS OUTROS?

A dor corresponde a uma actividade neurobiológica específica. Sempre que tem uma dor de dentes, há qualquer coisa que se passa num local preciso do seu cérebro. Suponhamos que um extraterrestre inspecciona o seu cérebro no momento em que tem uma dor de dentes. Esse extraterrestre teria como particularidade ignorar tudo acerca da dor enquanto algo que, por vezes, sentimos subjectivamente (do “interior”) e, inversamente, tudo saber da dor sob um ponto de vista objectivo: saído de uma civilização dotada de um saber neurobiológico total, esse extraterrestre seria o melhor especialista do universo da dor no sentido objectivo ou neurológico do termo. Ao inspeccionar o seu cérebro, ele não só poderia dizer que você está a sofrer, como saberia a intensidade da sua dor. No entanto, fará ele a mínima ideia do que é uma impressão de dor? Claro que não, por definição. Não obstante os seus conhecimentos prodigiosos, esse extraterrestre não saberia nada do que é essencial para si na sua dor de dentes. Ele seria capaz de descrever e explicar muitas coisas, ele até poderia fazer um relatório com mais de mil páginas sobre a sua dor de dentes. Mas isso não lhe permitiria saber o que é ter uma dor de dentes no sentido em que habitualmente utilizamos esta expressão. A fortiori, ele seria incapaz de saber o que é que uma dor de dentes provoca em si.
FERRET, Stéphane, Aprender com as Coisas – uma iniciação à filosofia, 1ª edição, 2007. Lisboa: Edições Asa, p.73

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