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quinta-feira, 31 de julho de 2008

Noite de Verão (Inger à Beira Mar), 1889


“Eu não pinto o que vejo, eu pinto o que tenho visto.”
O ano de 1889 é determinante na vida artística de Munch. O século XX aproxima-se, os ventos de mudança da arte europeia fazem sentir-se na obra Noite de Verão (Inger à Beira Mar).
A atmosfera densa e escura onde se respira doença, os tons cinza e castanho dos quadros anteriores, dão lugar ao contraste sublime do branco pérola do vestido, ao azul do mar e ao verde das rochas graníticas.
Munch, tinha pintado a sua irmã Inger com um pesado vestido preto, símbolo da tradição norueguesa do século XIX, cinco anos antes. Agora, com o vestido pérola, a jovem resplandece sentada de perfil a olhar serenamente a profundidade do mar. Os traços finos do rosto revelam a sua beleza que ainda sobressai mais com os olhos fixos na água.
O oceano azul com reflexos brancos e avermelhados das nuvens, mostra as cores esbatidas do anoitecer que se aproxima. A noite que vem do interior das rochas quase toca a bainha do vestido, querendo tingi-lo de negro. Há penedos graníticos que ainda se deleitam com os últimos raios de luz, exalando uma suavidade de cores que se misturam com a tranquilidade do mar. Neste, se olharmos bem, vemos movimento humano. Atrás das costas de Inger, há um barco de pesca e uma linha de canas que sombreia as redes onde os peixes se debatem aprisionados.
A delicadeza da luz, das cores e da figura, harmonizam-se numa totalidade, levando a afastar-me devagarinho, depois da contemplação, para não perturbar o que está aí - um acto criativo sobre a solidão e a angústia que faz parte da existência humana.
Isabel Laranjeira

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