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terça-feira, 15 de julho de 2008

ÉTICA E NEGÓCIOS

É uma ideia corrente que o mundo atravessa uma grave crise económica. Estamos em crise! É igualmente uma ideia corrente que a crise ainda agora começou; prevê-se que ainda vá durar bastante e não há previsão para quando a inversão deste estado de coisas.
E cada um de nós sente, individualmente, a crise. É o aumento constante do preço dos bens essenciais, em primeiro lugar dos alimentos. Há quem vaticine que não mais teremos alimentos baratos, principalmente cereais e seus derivados – e por arrasto a carne, já que os animais alimentam-se fundamentalmente de cereais.
É o aumento constante, quase diário no preço dos combustíveis. Há quem igualmente vaticine que o petróleo jamais descerá abaixo dos 100 dólares o barril e que a tendência é para um aumento constante do preço dos combustíveis. Com o aumento do preço dos combustíveis, todos os outros bens aumentarão, já que o seu transporte provocará o aumentará o seu custo final. Além disso, o aumento do preço dos combustíveis mostra-nos o quanto somos uma sociedade frágil. Bastou 3 dias de paralisação dos camionistas para as prateleiras dos supermercados ficarem vazias de produtos frescos e igualmente vazias ficarem as bombas de gasolina.
É o aumento constante dos juros dos empréstimos, principalmente dos empréstimos para habitação. Hoje em dia, a maior parte dos portugueses, principalmente dos mais jovens, têm crédito à habitação e as prestações mensais em crescendo, fazem com que tenham que frequentemente fazer contas ao ordenado, para ver se ele chega ao fim do mês. Tudo isto faz com que muitas famílias, por razões financeiras, comecem a passar um mau bocado. Isto justifica o aumento dos créditos mal parados, dos créditos de impossível cobrança. Mas se os últimos dados estatísticos nos mostram o aumento dos créditos mal parados, mostram-nos igualmente um aumento de novos pedidos de crédito. Isto parece um contra-senso e é-o efectivamente. Cada vez é mais difícil pagar o que se deve, mas cada vez mais se recorre ao crédito. De quem será a culpa?
Primeiramente das pessoas que não sabem fazer contas e aventuram-se em novos créditos, muitas vezes para coisas fúteis. Quantas vezes não conseguem resistir ao último modelo de telemóvel, ao último modelo de LCD, ou a um novo modelo de automóvel que acabou de sair, ou a umas férias de sonho, que irão tornar a vida futura um pesadelo.
Em segundo lugar a culpa é da sociedade consumista e capitalista em que vivemos que impõe padrões de vida baseados no consumo e exclui quem não quer ou não consegue preencher esses requisitos mínimos. A pressão social é de tal ordem que há pessoas que não olham a meios para atingir os seus fins consumistas.
Em terceiro lugar a culpa é dos bancos. Quando há créditos mal parados quem perde, inicialmente é o banco, que foi este que emprestou o dinheiro e não consegue reavê-lo. Mas se é assim porque continuam a fazer campanhas agressivas ao consumo e ao crédito? Não será porque cobram juros altíssimos, que as perdas que podem ter nalguns clientes são cobertas pelos ganhos obtidos por aqueles que religiosamente pagam as prestações ao fim do mês. Apesar dos créditos mal parados e da crise financeira mundial, os bancos continuam a apresentar lucros avultados e apesar dos seus administradores ganharem vencimentos astronómicos, as famílias desesperam para pagar os seus créditos no final do mês. As refinadoras continuam a ter lucros recordes enquanto as pessoas começam a deixar o carro em casa porque não têm dinheiro para o combustível. As grandes empresas de distribuição continuam a ter lucros obscenos e a abrir cada vez mais centros comerciais, enquanto as pessoas começam a ter dificuldade em comprar os bens essenciais.
O que está a acontecer? A crise não é para todos?
Parece que não, a crise é só para o consumidor, que paga cada vez mais. A crise é para o contribuinte, que desconta cada vez mais. A crise é para o trabalhador que não vê o seu salário aumentado ou vê o seu aumento a ser comido pela inflação.
O que faz falta?
Um pouco de ética no consumo. As pessoas têm de ter uma ideia correcta dos limites do seu consumo.
Uma ética nos negócios. As empresas devem saber repartir os lucros com aqueles que lhes possibilitam esses mesmos lucros: os trabalhadores e os consumidores. Repartir os lucros é atribuir salários dignos aos trabalhadores e fazer uma política ética de preços aos consumidores.
Uma sociedade calvinista, sem ética, onde a regra que impera é a regra cega do mercado ou mais correctamente a regra do vale tudo, é uma sociedade condenada ao fracasso. E o fracasso está a um passo pequeno.
António Paulo Gomes Rodrigues
Publicado no Terras do Baroso

1 comentário:

EUGÉNIO OLIVEIRA disse...

boa tarde
sendo uma escola onde já leccionei e onde fui muito feliz, digo q a vossa pagina está boa e deixo a minha para voces também consultarem: www.consultoriaetica.blogspot.com