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terça-feira, 4 de novembro de 2008

ENSAIO


A família Simões tem um filho de 7 anos que tem uma doença grave. Leucemia num estado adiantado. Ninguém da família é compatível e apesar da oferta de muitas pessoas, não aparece ninguém que tenha medula compatível.
A família Simões resolveu então conceber outro filho e com o auxílio da engenharia genética, puderam escolher um embrião completamente compatível com o filho mais velho. Assim nasceu a Joana, cujas células estaminais presentes no seu cordão umbilical salvaram a vida do João, o irmão.
Podemos considerar ético o comportamento dos pais em relação à Joana? Como se deve sentir a Joana sabendo que foi concebida unicamente para salvar o irmão?

Sim ou Não
Entende-se perfeitamente o facto de os pais quererem que o filho seja saudável, sendo totalmente natural, estes quererem o seu melhor e fazer de tudo para isso. Mas em jogo não está apenas a vida de um novo ser, mas a sua própria dignidade enquanto pessoa (Joana). Ao clonar-se as células do João, destrói-se a própria identidade da Joana, ou seja, a clonagem humana recebe um juízo negativo no que diz respeito à dignidade da pessoa clonada, que virá ao mundo em virtude do seu ser «cópia» (embora apenas cópia biológica) de outro indivíduo: esta prática gera as condições para um sofrimento radical da pessoa clonada, cuja identidade psíquica corre o uso de ser comprometida pela presença real, do seu «outro». E não vale a hipótese de se recorrer à conjura do silêncio, porque, seria impossível e igualmente imoral: visto que o ser clonado foi gerado para se assemelhar a alguém que «valia a pena» clonar, sobre ele recairão expectativas e atenções tão nefastas, que constituirão um verdadeiro e próprio atentado à sua subjectividade pessoal. No plano dos direitos do homem, uma eventual clonagem humana representaria uma violação dos dois princípios fundamentais sobre os quais se baseiam todos os direitos do homem: o princípio da paridade entre os seres humanos e o princípio da não-discriminação. A Joana poderia um dia mais tarde, reflectir sobre o assunto e chegar à conclusão que não passou de um objecto, mas também poderia pensar, que se não fosse a sua existência outro ser não teria uma «vida normal». Para os que entendem que o clone não implantado não é um embrião, os problemas éticos não têm relevância, já que o objectivo será melhorar ou curar doenças graves, o que em si é ético e louvável. Para os que não vêem diferenças entre o embrião “normal” ainda não implantado e o clone ainda não implantado, o problema ético é grave embora os fins sejam nobres. Em suma, o projecto da «clonagem humana» demonstra o desnorteamento terrível a que chega uma ciência sem valores, e é sinal do profundo mal-estar da nossa civilização, que busca na ciência, na técnica e na «qualidade da vida» os sucedâneos do sentido da vida e da salvação da existência. Eu pessoalmente, sentir-me-ia desconfortável se fosse um clone.
Ricardo Ferreira 12º A

1 comentário:

Anónimo disse...

Ricardo

Independentemente da minha perspectiva sobre a engenharia genética, felicito-te por este texto. Escreves muito bem e respeitas as regras do ensaio.
Isabel