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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O Ofício Literário


Por que se perde um escritor? O que acontece para que um romancista maravilhoso se afunde para sempre no silêncio como quem se afunda num pântano? Ou ainda pior e mais inquietante: a que se deve o facto de um bom narrador começar de repente a redigir obras pavorosas?
Muitos sem dúvida, partem a espinha com o fracasso. O ofício literário é o que há de mais paradoxal: é verdade que se escreve em primeiro lugar para si próprio, para o leitor que se tem cá dentro, ou porque não se consegue evitar escrever, porque se é incapaz de suportar a vida sem a distrair com fantasias; mas, ao mesmo tempo, precisa-se inevitavelmente de se ser lido; e não apenas por um leitor, por excelente e inteligente que este seja, por muito que se confie no seu critério, mas por mais pessoas, muitas mais, para dizer a verdade, por muitíssimas mais, uma multidão abundante, porque a nossa fome de leitores é uma avidez profunda que nunca se sacia, uma exigência ilimitada que roça a loucura e que sempre me pareceu extremamente curiosa. Sabe-se lá de onde virá esta necessidade absoluta que converte todos os escritores em eternos indigentes do olhar alheio.

Rosa Montero, A louca da casa, Edições Asa

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