Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A FILOSOFIA NO FEMININO




O que significa “a filosofia no feminino?” Habitualmente não falamos de filosofia no masculino ou no feminino mas falamos de Filosofia. Será que podemos defender que há uma forma específica feminina de pensar o mundo e os seus problemas?
Mary Warnock,(1924 -) pensadora inglesa considera que a diferença de sexo não é importante para fazer Filosofia. Tal como na Ciência, também na filosofia o sexo é irrelevante. Mary Warnock considera que há diversas maneiras de fazer filosofia, salientando que não há similitude de perspectivas na filosofia das mulheres.
Contudo, parece haver semelhanças no discurso filosófico das mulheres, quer a nível da forma, quer a nível dos conteúdos.
A nível da forma, as mulheres não produzem grandes tratados, nem grandes sistematizações. As mulheres exprimem melhor a sua forma de entender o mundo através do ensaio. A maneira como argumentam também é diferente em relação aos homens, problematizando os temas sem derrubarem sistematicamente as teses.
Na história da filosofia a mulher tem-se manifestado uma grande leitora de obras de filósofos e também uma grande interlocutora. A Princesa Elisabeth da Boémia ( 1596 -1662), é exemplo disso. Correspondeu-se com Descartes que a considerava tão dotada para as matemáticas como para a metafísica. Se houve uma viragem no pensamento de Descartes deve-se a ela pois questionou-o e levantou dúvidas sobre a concepção dualista de homem, levando o filósofo a rever a sua posição, enveredando assim, pelo caminho antropológico e ético que no início não estavam nos propósitos do pensador.
Com o exemplo de Elisabeth da Boémia verificamos que as mulheres interpretam o pensamento dos outros, descobrindo falhas, inconsistências e raciocínios pouco lógicos que os seus autores não tinham reparado.
Damaris Cudworth (1659-1708), conhecida por Lady Masham, filósofa da época moderna, foi correspondente de Lock e de Leibniz e levantou diversas objecções ao pensamento destes filósofos, contribuindo assim, para o esclarecimento da filosofia dos pensadores em causa.
É possível encontrar temáticas e conteúdos específicos nos textos filosóficos escritos por mulheres. Na época contemporânea, a ética e a política (não universalizando), parecem ser temas que agradam às mulheres filósofas. Nos séculos XVII e XVIII as temáticas incidiam sobre problemas éticos, religiosos e políticos. Outra dimensão da filosofia em que as mulheres se mostraram perspicazes foi na interpelação crítica de teses filosóficas que estavam na “moda”. Algumas levantaram dúvidas à dicotomia antropológica e à importância dada à alma. É o caso de Anne Conway ( 1631-1679), que valoriza o papel do corpo no conhecimento. Margaret Cavendish (1661-1717) critica as teses cartesianas, no que respeita à teoria dos animais máquinas. Demonstrou quanto absurda é a tese dos animais desprovidos de sofrimento e defendeu uma inteligência animal, admitindo que os animais são seres com um grau de racionalidade. Seria assim pioneira da ética animal, temática oportuna e do agrado de alguns pensadores actuais.
Para finalizar podemos dizer que a produção filosófica feminina no nosso tempo conhece grande desenvolvimento. Hanna Arendt (1906-1975), Susane Langer (1895-1985), Maria Zambrano ((1904-1996) Iris Murdoch (1919-1999) por exemplo, são nomes ligados a temas inovadores que ninguém com o mínimo de informação pode desprezar.
Isa.

Fontes: A Filosofia pela Rádio, Colecção Philosophica -Debates

O que os Filósofos pensam sobre as mulheres, Colecção Philosophica -Debates, Organização Maria Luísa Ribeiro Ferreira

Sem comentários: