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segunda-feira, 14 de junho de 2010

MULHERES FILÓSOFAS ii


Mulheres Filósofas (Hanna Arendt)
Quando olhamos para a história da filosofia à primeira vista temos a impressão que não houve mulheres filósofas. Se considerarmos o papel da mulher na cultura ocidental talvez se encontre uma resposta óbvia para tal. Não há mulheres filósofas tal como, não há mulheres cientistas, escritoras ou pintoras. Todos sabemos que durante muito tempo foi interdito à mulher certas aprendizagens, sendo-lhe vedado até, o acesso ao ensino universitário.
As tarefas domésticas sempre se impuseram como obrigação das mulheres, não lhes deixando tempo para o estudo e para o livre pensamento.
Contudo, é possível verificar a presença da mulher na filosofia ocidental. Se nos debruçarmos na época moderna constatamos que inúmeras mulheres escreveram e publicaram temas filosóficos. Algumas preferiram não publicar o que escreviam como Elisabeth da Boémia e Catherine Cokburn. Anne Conway, por exemplo, filósofa do século XVII, apenas foi redescoberta no nosso tempo, em 1982.
Actualmente a produção filosófica feminina conhece um grande desenvolvimento. Hanna Arendt, Susane Langer, Maria Zambrano, Mary Warnock, entre outras, apresentaram teses inovadoras que ninguém pode desprezar.
Hanna Arendt e Susane Langer são exemplos significativos de uma filosofia no feminino.
Hanna Arendt (1906-1975), judia e perseguida pelo nazismo, aprofundou estudos de filosofia e teologia, construindo teses a partir das suas vivências concretas. A vida de Hanna Arendt foi marcada por duas grandes guerras, pelo desprezo da vida e pela destruição, a uma escala nunca antes vista, de seres humanos e pela banalização do mal.
Fundamentou, neste sentido, um pensamento teórico em situações que observou e viveu. Acompanhou o julgamento de Eichmann, criminoso da segunda guerra mundial, que foi julgado pelos israelitas, verificando que este homem é mais um burocrata do que propriamente um perverso. Parte desta constatação para a construção de uma teoria ética sobre o poder, desenvolvendo um estudo sobre a vulgarização, banalização do mal.
Preocupou-se em articular a vida activa e a vida contemplativa, com a ligação entre a capacidade de pensar bem e a de agir correctamente. Reflecte sobre o que é pensar e conclui que é precisamente uma falha no exercício do pensar que pode conduzir a atitudes semelhantes às de Eichmann.
Na perspectiva desta pensadora, o anti-semitismo ultrapassa a questão judaica, é um fenómeno que permite responder a questões como o totalitarismo e o imperialismo. Uma das suas obras: “The Origins of Totalitarianism”, é uma análise profunda sobre o nazismo e o comunismo soviético, sobre o poder e sobre a violência, desenvolvendo hipóteses sobre estes princípios. Hanna Arendt reflecte sobre a vida política que faz do terror a sua essência. As ideologias dos sistemas totalitários, na sua perspectiva, destroem a capacidade humana de pensar e de sentir.
Hanna Arendt é um sinal bem evidente que nos leva a crer que as mulheres têm capacidade de reflectir, problematizar, argumentar e elaborar teorias, sendo possível falar de uma filosofia no feminino.
Isa.

Fontes: Filosofia pela Rádio, Colecção Philosophica - Debates, edição Antena 2
O que os Filósofos pensam sobre as mulheres, Colecção Philosophica - Debates, CFUL-Organização Maria Luísa Ribeiro

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