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segunda-feira, 30 de junho de 2008

Indomável – Uma Luta pela Liberdade

Indomável – Uma Luta pela Liberdade
Wangari Maathai, Bizâncio - Lisboa, 2007

“Indomável – Uma Luta pela Liberdade” é um livro surpreendente e verdadeiro sobre a vida de Wangari Maathai (Prémio Nobel da Paz em 2004).
No dia um de Abril de 1940 nasce esta voz de esperança mundial, num lugar recôndito das terras altas centrais do Quénia. Nesse tempo as árvores eram frondosas, a terra ainda era verde, fértil e fonte de subsistência. O solo era rico e húmido. Havia extensos campos de milho, feijão, trigo e legumes. A fome era praticamente desconhecida. É por esta terra verde que Wangari vai lutar toda a vida.
Para os locais, o Monte Quénia, conhecido como o Sítio da Claridade, o segundo mais alto do Quénia, era um local sagrado. Tudo o que era bom provinha de lá: as chuvas, os rios, os riachos, água potável. A vida era protegida pelos deuses do Monte Quénia. Mas este mundo começa a desaparecer ainda na infância de Wangari.
Os europeus tinham chegado ao Quénia no tempo dos seus avós, finais do século XIX. A Grã-Bretanha adquiriu o Quénia e os colonos recebiam títulos de propriedade para se instalarem nas terras de cultivo de trigo, milho, café, chá e de criação de gado. Muitas populações foram desalojadas e os nativos que se recusavam a ceder as terras eram levados pelos colonos para outros sítios. O tipo de economia assentava agora no dinheiro e os naturais vêem-se obrigados a trabalhar para poderem pagar os impostos. É neste contexto que se passa a primeira infância de Wangari. Os pais trabalham numa fazenda de Britânicos. As primeiras memórias da criança ocorrem a ajudar a mãe na fazenda a semear, a mondar e a fazer a colheita. Gostava sobretudo de “espreitar” as sementes para observar a germinação.
Por volta de 1947, uma transformação profunda começou a ocorrer. O governo colonial decidiu penetrar na floresta e estabelecer plantações de árvores exógenas – pinheiros, acácias predominantemente. Wangari recorda-se de enormes queimadas que destruíam as florestas naturais. Nas décadas seguintes os recursos hídricos do subsolo decresceram e por fim, os rios e os cursos de água secaram.
Wangari era uma criança mas quando regressava da escola não havia nada mais belo do que ver as sementes a germinar, as plantas a crescer até à maturação na fazenda onde os pais trabalhavam. Ficava encantada com a germinação do milho.
A capacidade de trabalho, organização e determinação levaram os pais a inscrevê-la numa escola dirigida pelas Irmãs da Consolata de Itália. Neste tempo poucas crianças tinham acesso à educação e foi com o maior gosto e facilidade que Wangari aprendeu a ler e escrever. Aprendeu inglês, geografia, história e matemática. Estes conhecimentos abriram-lhe os horizontes para a vida. Teve muitos bons resultados nos exames finais e em 1956 foi estudar para a Escola Secundária de Loreto, perto de Nairobi, capital do Quénia. Quando concluiu os estudos secundários em 1959, estava no fim a era colonial e foi necessário preparar jovens para cargos públicos e governamentais. É neste espírito que Wangari vai estudar para os Estados Unidos, ao abrigo de programas financiados por este país. Uma fundação dirigida pelo senador Kennedy responsabilizou-se por dar estudos superiores a vários jovens do Quénia. Wangari fazia parte destes jovens. Termina os estudos superiores e uma pós-graduação na área da biologia e regressa ao Quénia.
A estadia na América transformou Wangari. Começa uma nova fase. Para além do trabalho na Universidade de Nairobi, estava envolvida em organizações cívicas, entre elas, a Cruz Vermelha e o Centro de Ligação Ambiental. Gradualmente crescia nela uma consciência ambiental e a necessidade de agir urgentemente na sociedade civil.
Quando se deslocava ao campo, já não via os regatos da sua infância mas poças de lama e lodo. Os solos estavam em erosão. A vegetação era escassa, e as pessoas estavam desnutridas. Os deslizamentos de terra começavam a tornar-se frequentes e as fontes de água potável eram cada vez mais raras. Tal como na infância via as plantas a germinar, germinou na sua cabeça uma ideia: PLANTAR ÁRVORES. Sim, plantar árvores. Fundou o Movimento Green Belt. Ensinou as mulheres dos campos a plantarem árvores. Nem tudo foi fácil no inicio. Teve que lutar contra a ignorância, a ganância e a corrupção. Mais tarde surgiram apoios da ONU e estabeleceu parcerias com a Suécia.
Hoje este movimento está em acção em muitos países de África. Wangari e o movimento Green Belt plantaram trinta milhões de árvores. Cada árvore representa a luta de uma mulher que sempre viu no fracasso um desafio para seguir em frente. Esteve presa por contestar o projecto de construção de arranha-céus na maior cintura verde de Nairobi. Conseguiu evitar este erro imobiliário e devolveu, com a sua persistência, o parque às populações.
O seu lema é: “Levanta-te e Caminha”. Hoje continua a vestir a Terra “nua” mas não está sozinha. Pelo mundo fora muitas pessoas preocupadas com o planeta seguem-lhe os passos.
Pela sua contribuição para o desenvolvimento sustentável, democracia e paz, a Academia Sueca reconheceu o trabalho ímpar desta mulher e do Movimento Green Belt, atribuindo-lhe o Prémio Nobel da Paz em 2004.
Hoje continua a intervir activamente nos problemas sociais, políticos e ambientais de África e de todo o Planeta.
A árvore é um símbolo de paz em África. Wangari quando soube que lhe tinham atribuído o Prémio Nobel da Paz, fez o que melhor sabe fazer: Plantou uma árvore.
O livro que acabei de resumir é a biografia desta força da Natureza que não desiste perante as adversidades da vida.
Leiam este livro e divulguem-no, desta forma estão a contribuir para a construção de um Mundo Melhor.
Isabel Laranjeira, docente de Filosofia da Escola Frei Rosa Viterbo - Sátão

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