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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

AS FANTASIAS DA MÃE FACE AO BEBÉ


Lá está ele tão pequenino dentro da barriga da mãe, a mãe que só pede que ele seja perfeitinho, já nem quer saber o sexo, mas já agora, se não for pedir muito, que seja uma menina, que puxe a pele morena do pai, os sedutores olhos verdes da avó, o contagiante sentido de humor do avó, o narizinho engraçado do tio, bem e a beleza da mãe.
São nove meses de um verdadeiro estado de graça. A mãe flutua num mundo que apenas pertence a si e ao bebé, ao seu bebé, ao seu filho, sangue do seu sangue, corpo do seu corpo. E contagia toda a gente lá de casa, mesmo a pequena ciumenta que de repente vê todas as atenções viradas para o irmãozinho que dizem que está na barriga da mãe, mas como é que pode estar um bebé lá dentro, e se agora não lhe ligam nenhuma está para ver como será depois, até ela já se rende e faz as delícias da mãe quando primeiro pede para dar um carinho na barriguinha, depois um beijinho, e quando sente um pontapé avisa logo que não vai jogar futebol com ele, que não gosta dessas coisas de rapazes.
Ao filho que carrega no seu ventre, tão pequeno e já tão amado, e que dali a não muito tempo vai poder segurá-lo nos braços, passeá-lo pelo parque, ensinar-lhe as primeiras palavras, os primeiros passos, entre tanta, tanta coisa, confessa-lhe que um dia será um grande homem ou uma grande mulher, como sabemos que a mãe prefere. Será o seu orgulho, o seu pequeno anjo, o seu pequeno grande amor.
Bem, e no meio de tantas fantasias como quem chega e diz, “basta, quero sair!”, chega a hora do nascimento, a mamã dá a luz e afinal não é uma menina, nem tem a pele morena do pai, o narizinho não é o do tio e como grita não parece ter herdado a boa disposição do avô. Mas porque nós sabemos que amor de mãe é incondicional e eterno, ela pede que o deitem sobre o seu peito, jorram lágrimas de incontrolável alegria, e segreda-lhe ao ouvido, “amo-te, meu filho. Bem-vindo”.
O bebé idealizado na gravidez dá lugar ao bebé real com os caracteres que lhe são específicos. O vínculo que unia a mãe a um bebé imaginário, ajusta-se após o nascimento, ao bebé real.
Antea Gomes, nº 5 - 12ºC

4 comentários:

Patrícia Cruz disse...

De facto não podia ter sido escrito por outra pessoa. Excelente texto!
Uma mãe idealiza sempre um bebé perfeito, por vezes, no entanto, o bebé real não corresponde o que a leva a ter de se adaptar a essa nova criança, o que, contudo, nem sempre é fácil e pode mesmo levar a graves depressões. Fica um beijinho especial para todas as mães que mantêm sempre o sorriso e a certeza de que o seu filho é e sempre será o seu menino(a).

Patrícia Cruz

LIA disse...

Fiquei muito emocionada com este texto porque sou mãe e sei o dom da divindade que me habitou, enquanto estive grávida.
Parabéns

Isabel disse...

Patrícia
Obrigada pelo comentário. Espero por textos teus neste espaço.
bjinhos. Até amanhã.

Lia
Nem a propósito, parece que combinámos. Hoje o teu texto referia as fantasias, os monólogos que escreveste à tua filha durante a gravidez. Que tesouro ela hoje conserva. Ser mãe, de facto, é o maior dom da natureza.
Bjinhos. Até breve.

Antea Gomes disse...

Muito obrigada pelos comentários, deixaram-me com um grande sorriso no rosto.
Partilho o beijinho da Patrícia para todas as mães, elas são verdadeiramente GRANDES.

Beijinhos, Antea Gomes.