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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A MEMÓRIA


A meio caminho do social e cognitvo certos estudos mostram que o indivíduo reconstrói a sua própria história, num sentido que lhe é favorável. Como diz Elisabeth Loftus, "a nossa memória sofre de um complexo de superioridade". Num artigo intitulado "O ego totalitário", Anthony G. Greenwald põe em evidência três tipos de manipulações da percepção da realidade ( e mais particularmente das recordações), visando assegurar-nos a melhor imagem possível de nós próprios; consideramo-nos melhor do que os outros e desempenhando um papel social mais importante; temos tendência a fazer jogar os sucessos a nosso favor e a recusar uma responsabilidade nos fracassos (por exemplo, os condutores de automóveis são frequentemente renitentes em reconhecer que estiveram na origem de um acidente); procuramos geralmente preservar a justeza da nossa maneira de pensar, mesmo deformando a realidade ( por exemplo, pode acontecer que modifiquemos uma recordação a fim de que possa estar mais de acordo com a nossa situação ou as nossas convicções actuais).
Esta tendência do indivíduo em reconstituir o passado em função do presente manifesta-se igualmente no seio dos grupos sociais. A sociologia da memória colectiva estuda o modo como as sociedades "comemoram" os factos notáveis. Os acontecimentos passados são modificados, intencionalmente ou não provavelmente para que o grupo social possa manter a sua coesão interna. Nível de responsabilidade, número de mortos... são reduzidos ou aumentados de acordo com o lado de onde se fala. Os manuais escolares são muitas vezes testemunhos impassíveis desta reescrita do passado, que por vezes pode mesmo conduzir a uma verdadeira amnésia.

Lecomte, J., "la Mémoire Déchiffrée", Sciences Humaines, nº 43, 1994, p.19
in, Dossier do aluno, Psicologia B - 12º ANO, Porto Editora

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