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sexta-feira, 11 de julho de 2008

As Beguinarias Flamengas

No século XII surgiram comunidades semi-religiosas semi -laicas nas cidades do Norte da Europa, nomeadamente na Flandres. Não se sabe concretamente a origem das “beguinas” – mulheres piedosas e devotas. Há estudiosos que atribuem o termo “beguino” a Santa Beggue, que teria fundado um mosteiro na Flandres em 961. Outros consideram que teria sido o Padre Lamberto de Breges, falecido em 1177, o fundador das beguinarias. Há também quem considere que a palavra “beguino” poderia ter vindo do germano, de beggen, que significa orar, mendigar.
Estas comunidades eram constituídas por mulheres, muitas delas cultas, viúvas e deserdadas que procuravam a vida contemplativa. Distinguiam-se das ordens monásticas e apenas o bispo exercia vigilância sobre elas. Eram mulheres que tinham liberdade de acção e de pensamento, reunindo-se para orar e praticar o bem. Faziam votos de obediência e de castidade, contudo, podiam subtrai-se a estes votos se o desejassem sem serem condenadas ou banidas como as religiosas das ordens monásticas. Não faziam votos de pobreza. Muitas eram ricas, possuindo propriedades e bens que administravam a favor dos necessitados. Estas piedosas mulheres teciam, lavavam e tingiam roupa com abnegação a fim de aumentarem a riqueza que revertia a favor dos pobres. Faziam primorosamente renda de bilros e croché, que se tornou tradição na Flandres, observando-se ainda hoje, em muitas janelas das casas, cortinados de fino croché. As mulheres que integravam as comunidades tornaram-se célebres pelas suas boas acções. Ajudavam os idosos, os doentes e acolhiam os necessitados.
Desde manhã até ao pôr-do-sol as portas das beguinarias encontravam-se abertas, no sentido de aí entrar quem necessitasse de ajuda.
Estas peculiares comunidades de devotas mulheres eram governadas por uma “grande-dama” ou groote juffrouw. As beguinarias maiores tinham por vezes quatro “grandes-damas”, como a de Louvaina, que hoje está integrada na Universidade.
As “beguinas” foram descritas como “quadros românticos” pela literatura flamenga.
Hoje, essas mulheres devotas já não ocupam as beguinarias, restam poucas sobreviventes que, preocupadas, não sabem o futuro destas comunidades quando falecerem.
A Unesco considerou as beguinarias flamengas Património Cultural em 1998.
Se hoje já não há mulheres virtuosas que perpetuem o legado do passado das “beguinas”, fica na memória do viajante e nas fotos de um instante, um quadro romântico destas comunidades de mulheres, que nunca mais se apagará.
Isabel Laranjeira docente de Filosofia da Escola Secundária Frei Rosa Viterbo - Sátão

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