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sexta-feira, 30 de abril de 2010

ESQUECER PARA MEMORIZAR


" Como todas as coisas do Universo a memória sofre degradação e a desintegração, o que se chama esquecimento. A diminuição da memória é ininterrupta. A própria memória tende a torna-se lacunar, incorrecta, enganadora. Além disso, sofre profundamente o efeito das forças de recalcamento que expulsam a recordação incómoda."
Edgar Morim

Esquecimento é a incapacidade de recordar, de recuperar dados, informações, experiências que foram memorizados. Esta incapacidade pode ser provisória ou definitiva.
Geralmente associa-se ao termo esquecimento um valor negativo, sendo, muitas vezes, considerado uma falha, uma patologia da memória. Contudo, o esquecimento é essencial, é a própria condição da memória: é porque esquecemos que continuamos a reter informações adquiridas e experiências vividas. Seria impossível conservar todos os materiais que armazenamos, tendo o esquecimento a função de seleccionar para podermos adquirir novos conteúdos. O esquecimento tem assim, uma função selectiva e adaptativa: afasta a informação que não é útil e necessária. Afasta também, os conteúdos conflituosos.

" Uma boa memória é útil, mas também o é a capacidade de esquecer."
Meyers

Ser Humano, Psicologia B- 12º Ano, Porto Editora


quarta-feira, 28 de abril de 2010

VIAGEM INICIÁTICA


No princípio era o mito. E assim como o grande Deus fazia poesia na alma dos hindus, gregos e germanos, procurando expressar-se, assim de novo ele fazia poesia, dia após dia, na alma de cada criança. Então, eu ainda não sabia como se chamavam o lago, os montes e ribeiros da minha terra; mas olhava a vastidão lisa, verde-azul do lago ao Sol, recamada de pequenas luzes, as montanhas abruptas em redor, como uma corda espessa, nas gargantas mais elevadas, as falhas reluzentes de neve e as pequenas, minúsculas quedas de água, e no sopé as luminosas veigas salpicadas de árvores de fruto, cabanas e vacas cinzentas dos Alpes. E estando a minha pobre pequena alma tão vazia, silenciosa e anelante, os espíritos do lago e das montanhas escreveram nela os seus belos e ousados feitos. As hirsutas escarpas e rochas falavam, insistentes e plenas de respeito, dos tempos de que descendem e trazem as cicatrizes. Falavam do tempo em que a Terra quebrava e vergava e, do seu seio atormentado, gemendo nas dores do parto, fazia irromper picos e cristas. Montanhas de rocha erguiam-se bramindo e retumbando e, aguçando-se sem medida, partiam; montes gémeos lutavam desesperadamente por espaço, até que um deles vencia, e se elevava, e lançava o seu irmão para o lado, despedaçando-o. Desses tempos, nos desfiladeiros, jaziam ainda aqui e além, cumes partidos, rochas expelidas e fendidas, e de cada vez que a neve derretia, a queda das águas lançava para baixo blocos tão grandes como casas, estilhaçando-os como vidro ou, com golpes colossais, cravava-os profundamente em veigas suaves.

Hermann Hesse, Peter Camenzind, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1992

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O HOMEM DO LEME



O Homem Do Leme

Sozinho na noite
um barco ruma para onde vai.
Uma luz no escuro brilha a direito
ofusca as demais.

E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do
leme...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...

No fundo do mar
jazem os outros,
os que lá ficaram.
Em dias cinzentos
descanso eterno lá encontraram.

E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo,
impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade,
rompendo a saudade,
vai quem já nada teme,
vai o homem do
leme...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...

No fundo horizonte
sopra o murmúrio para onde vai.
No fundo do tempo
foge o futuro, é tarde demais...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...

Xutos e Pontapés

domingo, 25 de abril de 2010

"A ILHA"- CLONAGEM VS ÉTICA


“A ilha” Clonagem VS Ética
A ilha é um filme que tem como objectivo apelar aos problemas éticos e morais que a clonagem nos leva a praticar.
Encontramo-nos no ano de 2019, num grande complexo com centenas de pessoas todas elas ansiosas para sair desse mesmo lugar e ir para uma ilha prometida que lhes trará “de novo”, a liberdade e a satisfação de viver com uma vida “supostamente” normal.
O filme apresenta-nos Lincoln como um homem que, certo dia, acorda e se vê aprisionado a uma vida comandada por outros homens, no pressuposto de ser um dos poucos sobreviventes a um vírus que contaminou todo o planeta, excepto a ilha. Esta situação apresenta logo uma contradição aos costumes do homem. A liberdade e a autonomia não são possíveis às pessoas que vivem neste complexo, visto que, estão constantemente condicionadas na forma de vestir e calçar, no que devem comer e mesmo no que devem ou não sentir a nível emocional, psicológico e físico (tudo isso por serem considerados objectos e não seres racionais).
Jordan, um dos clones do complexo, é sorteada com a viagem esperada por todos. Chegara a sua hora de partir para a ilha. Mas Lincoln, que amava Jordan, sabia que ela não iria para a ilha, mas que seria morta, como acontecera com outras pessoas antes dela. Numa tentativa de a salvar, Lincoln e Jordan fogem do complexo. Depois da fuga são perseguidos numa tentativa de morte, mas Lincoln e Jordan são mais fortes do que as dezenas de polícias que os perseguem e resistem a todas as tentativas de detenção. Lincoln conseguiu mesmo que o seu “proprietário”, aquele que servira de “molde”para o seu aparecimento fosse morto por um dos polícias que estava em dúvida em saber qual era o “original” e qual era a “cópia”.
Na situação presente no filme, os dispositivos electrónicos passam a comandar a vida de todos estes clones indicando-lhes mesmo o modo como devem interagir uns com os outros. Neste complexo, todo o tipo de contacto físico é proibido, pois os clones são cópias de pessoas “lá fora” não podendo interagir entre si. E tudo isto, porque fora deste complexo há alguém que investiu uns milhares para ter o seu eu “de reserva” para ocasiões em que seja necessário um fígado, um olho ou mesmo um coração novo, mesmo que para isso, seja necessário destruir a vida de uma pessoa, que não era um robô, mas sim um ser humano racional.
A ambição desmedida de se tornar perfeito e imortal a qualquer situação pode levar o Homem a construir um clone. Esse clone resolveu um dos seus problemas e foi deitado fora como se de um objecto se tratasse. Mas esse clone não resolveu todos os problemas e surge a necessidade de construir um outro clone. Esse clone colmatou mais um problema, mas o homem sente necessidade de construir mais um, e ainda outro, perdendo a noção dos limites entre o que a ciência nos pode proporcionar e os problemas éticos e morais que pode causar com as suas atitudes.
Na actualidade, a situação vista no filme não acontece e ainda está muito distante a possibilidade de a clonagem reprodutiva, produzindo um ser humano completo, ser realizável. Este mostra-nos um ponto drástico que poderemos vir a presenciar com a clonagem, pois o Homem faz qualquer coisa para sobreviver, nem que para isso seja necessário destruir outras vidas, para o seu bem.
Mélanie Lopes, 11ºB

sábado, 24 de abril de 2010

A ILHA


“ A ILHA”
O filme desenrola-se em torno de uma sociedade supostamente sobrevivente a uma contaminação fatal para a maior parte dos habitantes do planeta. Esta sociedade está sujeita a constantes exames físicos e psicológicos e sofrem um controlo extremamente pormenorizado de todos os seus actos.
Todos os habitantes desta sociedade, apresentada como sobrevivente, vivem com o objectivo e com o sonho de ir para a Ilha. A Ilha é mostrada como um paraíso no exterior a qual não fora afectada pela contaminação. A selecção para a ida para a Ilha é feita com base em sorteios. Os sorteios são diários e quem ganha parte para a inesquecível viagem invejada por todos os demais.
No entanto a forte curiosidade do morador Lincoln Six-Echo leva-o a seguir inúmeras pistas que o levaram a descobrir uma terrível verdade: todos os habitantes não passavam de clones cujo único propósito é fornecer parte dos seus organismos para os seus humanos “originais”. Estes humanos são, na maioria dos casos, celebridades famosas com importante papel na sociedade e são vistos como pessoas de elevados valores éticos.
Lincoln acaba, assim, por descobrir que a desejada Ilha afinal não existia e que após os sorteios os premiados seriam mortos. Então, apresentando uma elevada capacidade psicológica (que supostamente não era típica de clones), Lincoln consegue escapar do complexo com a sua predilecta colega Jordan Two-Delta.
Chegados ao mundo exterior, tudo era novo para estes dois clones. Apesar de conseguirem encontrar o humano “original” de Lincoln e pedirem a sua ajuda para denunciar a grande atrocidade que estava a ser cometida com os clones, este acabou por os entregar. No entanto Lincoln num processo de elevada capacidade estratégica conseguiu salvar-se e escapar às autoridades contratadas para eliminar os dois clones evitando, assim, um escândalo de grandes proporções.
Lincoln continuou a mostrar uma grande capacidade racional e conseguiu salvar a maior parte dos clones criados.
A clonagem humana levanta sérios problemas éticos e será certamente um dos maiores problemas do século XXI.
Este filme mostra que os clones adquirem capacidades semelhantes às dos humanos, sendo assim, na minha opinião devem ser tomados como tal.
Os clones transformam-se em pessoas com sentimentos e com sonhos de um futuro. Ao eliminarmos um clone estamos a apagar um conjunto de crenças, desejos e experiências o que na minha opinião é eticamente inaceitável. Esta é a principal mensagem que o filme tenta transmitir.
Na minha perspectiva a clonagem é aceitável se envolver o bem-estar de algumas pessoas mas não prejudicar quaisquer ser vivo, caso contrário é eticamente inaceitável.
Penso que o filme está muito bem realizado e transmite muito bem o problema ético da clonagem no entanto não gostei do fim, uma vez que este é muito previsível e ficamos sem saber a reacção da população mundial á grande atrocidade feita com a existência destes clones.

Bruno Cancela, 11ºB

sexta-feira, 23 de abril de 2010

QUANDO AS CRIANÇAS FILOSOFAREM ii


O Ponto de vista prático

" Se a filosofia está agora a encontrar o seu merecido lugar nas escolas básicas e secundárias, isso deve-se a educadores decididos que descobriram o prazer em que ela consiste para os alunos e de como isso contribui, de forma significativas, para o seu progresso educativo, inclusive na área das competências básicas, como sejam a leitura ou a matemática."
Estas palavras de Lipman remetem-nos para dois aspectos fundamentais quando falamos no trabalho de Filosofia para crianças:
a) o papel da Filosofia em Educação (interdisciplinariedade);
b) o carácter lúdico da Filosofia.
A interdisciplinariedade é um dos aspectos mais significativos do trabalho em Filosofia. Esta característica só é possível porque decorre desta disciplina uma preocupação pelo mundo circunstante que, do ponto de vista material (dos conteúdos), não marca fronteira, não restringe campos de aplicação, transporta, isso sim, hábitos de análise, de interrogação que, embora próprios desta actividade reflexiva, se vão implantar em outros campos do saber. Por outras palavras, do ponto de vista formal, são sobretudo atitudes e comportamentos que constituem a interdisciplinariedade deste trabalho. Esses comportamentos manifestam-se de forma mesclada em que perfis críticos se confundem com os éticos. (...)
Outro aspecto que se torna difícil de isolar na apreciação que as crianças fazem do seu trabalho em Filosofia, é o carácter lúdico que este traz consigo.
" Filosofia é o gosto de desenvolver o nosso pensamento e a nossa cultura geral." (Joana 9 anos)
Talvez seja pelo seu trabalho de (re)construção do Mundo, juntamente com as operações lógicas a ele inerentes - como a feitura de analogias, o estabelecer e classificar relações, detectar ilações e consequências, etc. - e pelo espírito de descoberta que lhes está subjacente, que constituem os ingredientes necessários a esse gosto pelo pensar, e que os faz considerar a Filosofia, simultaneamente, um tempo de divertimento e de dificuldade.
Filosofia pela Rádio, Colecção Philosophica -Debates, Edição Antena 2, Lisboa -1998

quinta-feira, 22 de abril de 2010

QUANDO AS CRIANÇAS FILOSOFAREM


O que tentarei demonstrar, de forma sucinta, é que as crianças são, de facto, capazes de filosofar e o fazem até com gosto. Quando a Escola permitir que a reflexão filosófica tenha o seu merecido lugar no contexto educacional, as crianças, estou disso certa, não deixarão de responder, entusiasticamente, ao desafio.
A questão fulcral, é, pois, esta:

SERÃO AS CRIANÇAS CAPAZES DE FILOSOFAR?

O ponto de vista teórico

" Quando entram na escola, todas as crianças normais são capazes de evidenciar as suas competências de seres pensantes e de utilizadores de linguagem de forma a merecerem o nosso respeito, uma vez confrontadas com situações que encontrem o sentido real da vida e em relação às quais demonstrem os seus propósitos e intenções e nelas sejam capazes de reconhecer semelhantes propósitos e intenções pela parte dos outros. (...) Estas intenções humanas constituem a matriz estrutural do pensamento da criança."
Esta citação chama-nos a atenção para três aspectos fundamentais:
a) o conceito de "situação";
b) a componente ética da reflexão;
c) o papel da experiência em Educação;

a) "Situação" terá de ser vista aqui num duplo aspecto: situação com / de sentido, que quando usada como objecto de reflexão, faz com que o mundo adquira significado; e, situação de aprendizagem, isto é, quando estão reunidas as condições para que a reflexão emerja.

b) A componente ética da reflexão diz respeito a uma forma intencional de olhar a realidade e de ser capaz de detectar nela formas intencionais de a encarar, pela parte do outro. A nossa visão da realidade não é neutra, mas interessada. Ter disso consciência, torna-se, pois, fundamental.

c) O papel da experiência consiste não apenas em recriar o Mundo, mas, de uma forma mais radical, em construí-lo. O mundo só é mundo se houver sentido, o sentido só é sentido se houver uma vivência que o faça tal.
" uma onda de experiência vale mais que uma tonelada de teoria, porque é somente através da experiência que qualquer teoria adquire sentido passível de verificação (...) quando separada da experiência uma teoria não pode ser totalmente apreendida, mesmo como teoria."
Se tomarmos como exemplo o programa educacional por Lipman nos finais da década de 70 - Philosophy for Children -, Filosofia está longe de desempenhar um papel teórico de um corpo de conhecimentos a ser transmitido, e captado de forma acrítica por parte dos alunos. Assume, muito pelo contrário, um aspecto eminentemente prático, de algo que é feito, construído, trabalhado, por oposição a algo que é passivamente assimilado e decorado.
" A filosofia é entender o porquê das coisas do mundo em que habitamos." ( Teresa, 9 anos)

Maria José Figueiroa Rego
Filosofia pela Rádio, Colecção Philosophica - Debates, Antena 2 - Lisboa, 1998

quarta-feira, 21 de abril de 2010

OS PORTUGUESES TAMBÉM FILOSOFAM


Quando se encara o panorama da Cultura Portuguesa, dificilmente se alcança a presença da filosofia, sobretudo quando comparada com a força de outras manifestações, nomeadamente da poesia e da literatura. A que se deve essa situação?

Naturalmente que não venho aqui fazer a apologia da minha arte, mas não será difícil compreender que a audiência e a repercussão pública da filosofia, tal como é comummente entendida, seja qual for o seu valor intrínseco, dificilmente consegue ombrear com as disciplinas que enumerou. A identificação entre um leitor e uma obra literária é por vezes mais imediata do que com uma obra de filosofia, no sentido em que eu posso apreciar, até um determinado grau de profundidade, um romance ou uma obra poética sem ser especialista em teoria da literatura, sendo também certo que o domínio da teoria literária me abre novos e mais ricos horizontes de compreensão.
O mesmo já não sucede com a filosofia, onde se requer, em qualquer caso, o domínio de um conjunto alargado de textos, a que por comodidade chamaria "clássicos", pois grande parte do universo da filosofia gira em torno de um diálogo sobre um leque de questões que vão merecendo abordagens sucessivas ao longo da história, e daí a importância do domínio dessa mesma história.
Caberia talvez, exemplificar, para que me não limite a abordagens em abstracto. Veja-se o caso de Antero de Quental. Como é possível compreender o que quer que seja da sua prosa filosófica - fixando-nos por enquanto apenas na prosa - sem ter lido Hegel, Kant ou Leibniz? Seria uma espécie de viagem perdida! Mesmo no caso do nosso iluminismo da segunda metade do século XVIII, não se compreendem minimamente as suas propostas e conteúdos doutrinários sem dominar todo o universo a que pretendeu opor-se, o qual emana do aristotelismo escolástico da Companhia de Jesus. Veja-se, para terminar, o ensaísmo filosófico de António Sérgio, cujo o núcleo nos escapa sem luzes de geometria e um pouco de epistemologia da matemática... Tudo isto para dizer que importa, no campo específico da filosofia, um percurso paciente e constante de formação intelectual, que, uma vez alcançado, num determinado grau de maturação, não é menos fascinante, levando-nos inclusive a compreender a afinidade e a proximidade entre a filosofia, a literatura e a poesia, para citar as que nomeou na sua questão.
Parte de entrevista de Esmeralda Serrano a Pedro Calafate

Filosofia pela Rádio, Colecção Philosophica - Debates, Edição Antena 2, Lisboa - 1998

terça-feira, 20 de abril de 2010

MEMÓRIA


A memória humana é um sistema complexo que, apesar da sua enorme capacidade e importância, se pode revelar inesperadamente muito falível. É algo difícil de lidar, não é como um computador que se formata o disco e desaparece tudo. Por vezes, até temos vontade de fazer isso mesmo mas, continuamos prisioneiros da memória, quer isso seja bom ou mau.
Todos sabemos que o segredo da vida é, de facto fascinante. O ser humano tem uma memória genética, que tem a informação da vida, as nossas vivências e tudo aquilo por que passamos, que diz tudo acerca de nós próprios.
A memória humana tem muitas funções para além de evocar certos tipos de informação, como datas, acontecimentos, nomes, conversas, etc. A memória é o fundamento dos comportamentos, conhecimentos e emoções humanas. Está directa ou indirectamente envolvida em qualquer aspecto do comportamento humano e, sem ela, não seria possível ver, ouvir ou pensar, no sentido mais global das coisas. É como uma bagagem que nos acompanha durante a nossa vida enquanto, fisicamente, não se dissolver… Às vezes incomoda-nos…outras vezes reconforta-nos. Muitas vezes podemos esforçar-nos por lembrar pormenores, outras vezes, uma borracha interior deveria limpar alguns pontos que nos desagradam.
Todos nós nos queixamos, por vezes, de que a nossa memória é horrível. Mas, pelo contrário, trata-se de um sistema magnífico, sem o qual não existiria aprendizagem, as relações interpessoais seriam impossíveis e passaríamos a viver um eterno presente.
Em síntese, a memória é o conjunto de processos que codificam, armazenam e recuperam informações sensoriais e experiências. É a capacidade do cérebro em armazenar, reter e recordar informação.

Mariana Loureiro -12ºB

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Taizé


A nove kilómetros de Cluny na Borgonha, alcandorada numa colina, vislumbra-se uma aldeia de nome Taizé. Aqui cultiva-se a simplicidade, a partilha, o despojamento dos bens materiais.
Em 1940, em plena guerra, um jovem natural da Suíça, instala-se nesta aldeia, protegendo e escondendo refugiados. Gradualmente sente em si a força de fundar uma Comunidade Ecuménica tendo consciência das limitações e dos fracassos. Esse jovem chamava-se Roger.
Actualmente, Taizé, é uma comunidade mundialmente conhecida. Milhares de jovens ao longo do ano, afluem a este local na ânsia de encontrarem um sentido autêntico para as suas vidas. A comunidade de irmãos fomenta encontros em todas as partes do mundo e está espalhada nos países menos desenvolvidos amparando os mais pobres.
Tive a possibilidade de viver a experiência de Taizé durante oito dias. Se no ínicio se estranha, depressa se entrenha. Nos últimos segundos, antes de deixar a aldeia, olhei para os sinos que convidavam ao silêncio, olhei para a vastidão dos campos ondulantes de pequenas flores e prometi voltar. Voltar para descobrir o tesouro que se esconde em Taizé. Nos meus ouvidos ressoa a musicalidade dos cânticos como um íman que me prendia horas na igreja da reconciliação, há em mim um apelo à simplicidade, ao silêncio, ao desprendimento daquilo que não é necessário.
Isa.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O Nascimento de Vénus


O Nascimento de Vénus , cerca de 1485
Exposto na Galeria dos Ofícios, Florença.

Segundo a mitologia antiga, Vénus teria nascido da espuma dos mares. Botticelli representou-a aqui numa concha que flutua na água. Ela é empurrada em direcção à margem por duas divindades dos ventos, enquanto uma das Horas, as deusas das estações, tem nas mãos uma peça de roupa aberta, pronta a envolver Vénus.
Barbara Deimling, Taschen

quarta-feira, 14 de abril de 2010

A Primavera



A Primavera, cerca de 1482
Encontra-se na Galeria dos Ofícios, em Florença
Botticelli retoma aqui um conto mitológico de Ovídio, poeta da antiguidade: o deus do vento Zéfiro perseguiu a ninfa Clóris e transformou-a em Flora, a deusa das flores da Primavera.
O quadro trata-se de uma versificação filosófica (De rerum natura) atribuída ao poeta e filósofo antigo Lucrécio.

" Abriu-se a custo o olhar primaveril do dia, e que desenfreado reina o vento Zéfiro, os pássaros mostram-te primeiro, Divino, no céu, a ti e à tua vinda, o coração cheio das tuas violências... prisioneiros do teu encanto (...) a todos lanças no coração o amor de doces arrepios, e fazes com que cheios de desejos pela sua espécie, multipliquem as raças.

A Primavera e Vénus chegaram: à frente delas avançam o arauto alado de Vénus, e perto das pegadas de Zéfiro, á frente delas flora, a mãe, recobre todo o caminho e enche-o de perfumes requintados...Divino, perante ti fogem os ventos e as nuvens do céu, perante ti e a tua chegada. Para ti a Terra, artista feminina, envia flores perfumadas, a superfície dos mares dirige-te um claro sorriso, e o céu cobre-se suavemente com os seus luminosos raios."
De rerum natura, Lucrécio

sábado, 3 de abril de 2010

ENTRE O LUAR E A FOLHAGEM




Entre o luar e a folhagem,
Entre o sossego e o arvoredo,
Entre o ser noite e haver aragem
Passa um segredo.
Segue-o minha alma na passagem.

Ténue lembrança ou saudade,
Princípio ou fim do que não foi,
Não tem lugar, não tem verdade,
Atrai e dói.
Segue-o meu ser em liberdade.
Vazio encanto ébrio de si,
Tristeza ou alegria o traz?
O que sou dele a quem sorri?
Não é nem faz.
Só de segui-lo me perdi.

Fernando Pessoa 19/08/1933

sexta-feira, 2 de abril de 2010

BORGES E OS LIVROS



Falar de Jorge Luís Borges é falar de livros, de bibliotecas, de labirintos, de ficções, de imaginação e enigmas. Os livros foram parte essencial da sua vida marcada pela cegueira, não tanto pelos que escreveu, mas sobretudo pelos que leu. O famoso “bibliotecário” argentino deixou uma extensa obra, da qual destacaria a parte ficcional e os poemas, que são autênticas obras de arte. O texto que se segue é-lhe dedicado.
O livro, a obra literária, é, muitas vezes, uma verdadeira obra de arte. Este possibilita inúmeras leituras diversas, entradas, saídas, sem contudo se deixar aprisionar. É através dele que o autor partilha o seu modo de experienciar o mundo e a sua vida, que comunica aos homens o seu pensamento e o seu sentir, usando uma série de características próprias, uma arte de combinações possíveis, de fórmulas, de enigmas, uma certa estratégia, pelas quais se apresenta ao jogo da imaginação fecundante e activa dos leitores. Como afirma Bronowski: “O artista cria a obra, mas o espectador recria-a.”
O livro encerra em si mesmo uma reflexão, imaginação e interrogação sobre as possibilidades oferecidas a um discurso consigo mesmo, evocando quase sempre uma “máscara”do real ou do imaginário, dentro de uma harmonia ou fio condutor estabelecido pelo autor. Por conseguinte, ele escolhe os seus leitores, uma vez que detém em si uma pregnância distinta, um dado modelo, uma ontologia própria e, acima de tudo, revela uma harmonia que se refere a traços marcantes do seu autor e do seu pensamento. Com efeito, a obra literária tem sempre algo de individual, particularidades intrínsecas ao autor, revelando ao mesmo tempo sempre algo enigmático e, contudo, “sobrevivendo” à interpretação que pretende obter uma resposta final. Ao resistir o enigma mostra a sua virtude, pois permite renovar sempre uma nova resposta e, neste sentido, o livro é paradoxalmente: revelação e enigma.
Diz Umberto Eco que “os livros falam sempre de outros livros e qualquer história conta uma história já contada”, dado que o autor procura constantemente reinventar algo sobre os livros já existentes (Pierre Ménard em Borges) pois a criação torna-se imprescindível quer ao seu desenvolvimento quer à sua felicidade; poder-se-ia dizer até que o livro afigura-se como uma das possibilidades de satisfação, realização ou equilíbrio concedida, e do mesmo modo que a pintura é a arte de proporcionar a alegria com forma e cor, também a escrita pode ser mirada por outra via, isto é, como forma de prazer e alegria onde a biblioteca é uma espécie de câmara mágica onde todos os sonhos são permitidos. A felicidade será o sentimento que o livro desperta no leitor e que no fundo poderíamos chamar, tal como Borges: o momento estético.
Os livros são essencialmente expressivos, parecem querer dizer-nos algo, como que procuram desdobrar-se para se tornarem sensíveis à nossa captação, ao nosso sentir. No entanto, para haver captação é fundamental a compreensão da linguagem do texto, pois sem ela tornam-se numa forma vazia e desinteressante e não a fonte de onde brota ou faz brotar prazer de um modo quase ilimitado, sublime, que nos vai proporcionando vários tipos de contentamento.
Os livros são, de facto, extremamente importantes, todavia, essa importância só tem sentido na medida em que existe o leitor, pois ele é indispensável, uma vez que a sua existência e consequentemente o seu valor só começa quando o leitor os abre e os lê. Além disso, seria absurdo pensar que o livro seja muito mais do que um simples livro. Este exige o leitor e é esta relação de cumplicidade que o vai tornar ilimitado, remetendo para uma infinita possibilidade quer de leituras, quer de novas ideias. A minha leitura de uma obra literária não é certamente igual à de qualquer outro leitor, uma vez que a cultura, as vivências e experiências de cada um modificam o nosso modo de ler o mundo. Por conseguinte, um livro é assumidamente um projecto inacabado que é essencialmente produção e nuca um produto.
O homem e os livros mantêm desde há muito uma relação de cumplicidade ou mesmo de necessidade. Porém, nesta era das novas tecnologias, talvez seja altura de questionar se ainda são companheiros inseparáveis e se para o homem actual é inimaginável viver sem livros! Para mim, o livro continua a ser uma espécie de respiração do espírito, da inteligência, da criatividade e mantém-se como representação da memória do nosso passado e condição de preservação da nossa cultura e desenvolvimento.
Diz-se que todo o homem tem como desejo íntimo escrever um livro ou realizar uma obra de arte e convenhamos que “não há arte sem homem, mas talvez não haja homem sem arte”, como afirmou René Huyghe. Isto poderá significar duas coisas: o seu desejo de imortalidade através da realização da sua obra e a procura da felicidade como desejo natural do ser humano.

“Ser feliz é reconhecer-se a si na obra feita.” – Hegel

Professor Jorge Marques

quinta-feira, 1 de abril de 2010

JORGE LUÍS BORGES ii


Dois clássicos da literatura policial e fantástica

Jorge Luís Borges está presente na Biblioteca da Escola através de dois títulos fundamentais da sua obra: Ficções e O Aleph. O primeiro, cuja primeira edição remonta a 1944, é composto por dois livros, inicialmente publicados em separado: O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam e Artifícios, cada um deles constituídos por pouco mais de meia dúzia de contos de temática policial ou fantástica. Alguns destes contos, pela sua originalidade e pela estranheza e inquietude que provocam no leitor, ganharam uma área quase mítica na comunidade imensa dos seus leitores e basta pronunciarmos o seu título para mergulharmos desde logo no seu universo. Por exemplo, Pierre Ménard, autor do Quixote fala-nos do trabalho literário realizado por um escritor francês (fictício), do início do século XX, justamente chamado Pierre Ménard, que resolveu reescrever o Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, sem alterar nenhuma palavra, nenhuma vírgula do original. Os parágrafos são exactamente iguais mas, e este mas é importante, não se trata de uma cópia: Pierre Ménard escreve ao seu estilo (para o qual trabalhou imenso, produzindo muitos rascunhos), embora o resultado esteja exactamente o mesmo de Cervantes. Nisto reside a perplexidade da questão: cotejamos o texto de ambos e somos levados a crer que, sendo iguais, são completamente diferentes, porque são de autores diferentes, sem que um (Ménard) tenha copiado o outro (Cervantes). Outro conto emblemático e curioso, com que começa o livro, é Tlön, Uqbar, Orbis Tertius. É uma nota sobre um livro imaginário. Começa com a história acerca de um artigo enciclopédico sobre um enigmático país chamado Uqbar que aparece numa edição de uma determinada enciclopédia e que depois não volta a aparecer em mais nenhum livro. Seguindo a pista dessa edição chega-se à indicação sobre Orbis Tertius, uma conspiração para criar o mundo imaginário que é Tlön. Tudo isto, sendo pura ficção, adquire contornos de uma realidade incrível e ao mesmo tempo plenamente plausível e interessante. Estes dois contos são apenas um exemplo do génio de Jorge Luís Borges. Percorrendo os restantes podemos desfrutar da mesma mestria na abordagem a temas como o infinito, os enigmas, o poder da imaginação, a realidade versus a ficção, o “eu” e o destino, as conspirações e sociedades secretas, a natureza do sonho, etc.
O Aleph é também um livro de histórias curtas, com primeira edição em 1949. Inclui o conto com o mesmo nome, um dos mais conhecidos do autor. É por muitos considerada a sua obra-prima.
J.A.
BORGES, Jorge Luís, 1899-1986
Ficções / Jorge Luis Borges ;
trad. José Colaço Barreiros. - Porto : Público,, imp. 2003. -
158 p. 21 cm. - (Mil folhas ; 39). - Tit. orig.: Ficciones
ISBN 84-96075-62-1
CDU 821.134.2(82)-382
BOR FIC (EB23/SOF) – 8712