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segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Poesia


VIVER OU VIVENDO?

Um sorriso é tudo o que eu quero
mas a chuva só traz ironia, como bátegas fortes que me trespassam,
- cadáver andante -,
como espadas amoladas, reluzentes do sol irisdiscente,
da morte extemporânea da alegria breve.
Um abarço é tudo o que eu espero,
e que tal um "obrigado por existires".
Mas são punhais que me cravam a carne
como escarros que me amarelecem o cabelo;
- senilidade da existência -,
(como um cadáver que teima em viver)
tudo o que sou ou não sou - como pretenderem.
E o sorriso já não mora em mim, só sorrio pelo sorrir dos outros.
Uma porta abriu-se,
(ou será que se fechou?)
é que entre o fechar e o abrir há algo em comum
- o movimento.
Então nem sei se estou dentro ou fora do mundo
apenas sei que estou dentro de mim.

26/04/1995
António Paulo Gomes Rodrigues

domingo, 21 de setembro de 2008

O Viandante sobre um Mar de Névoa


Preciso de solidão para comunicar com a Natureza
Caspar David Friedrich

Manhã e anoitecer, sol nascente e poente, nascimento e morte, eis os temas determinantes de Friedrich, pintor da quietude, da transparência, da leveza.
Reflexão! É o apelo cativante que prende os nossos olhos à natureza silenciosa, transformada em obra de arte.
As paisagens de Friedrich não são impressões naturalistas mas sim “paisagens de sentimento” que ecoam na mente humana.
Friedrich é considerado o mestre da composição da quietude.
Na obra artística, O Viandante sobre um Mar de Névoa, no cimo de um rochedo escuro, ergue-se um homem visto de costas. Olha o mar imenso de montanhas nubladas de fina poalha que se eleva do vale e se desfaz perto do céu. As nuvens deslizam ao longe numa simbiose perfeita com a névoa. As cores que sobem suavemente da terra, derramando-se em delicados amarelos pelo céu, prendem a emoção que nos transporta para o infinito. A profundidade espacial do horizonte é uma porta aberta para a quietude do tempo. O Sublime! É isso que se pretende captar nesta obra. Subimos ao cume da montanha, olhamos a ondulação das colinas que se dirigem para o indizível e o que desejamos? Fundir-nos no espaço ilimitado, permanecer aí e reconhecer que não somos nada. O sublime esmaga a nossa pequenez. O Viandante do mundo somos nós, constantemente a oscilar entre a vertigem da vida e a necessidade de pensar – Quem somos? O que fazemos aqui?
Isabel Laranjeira

quinta-feira, 11 de setembro de 2008


Tal como os Estados Unidos se atrasaram em relação ao mindo civilizado na abolição da escravatura humana, também os Estados Unidos se atrasaram agora na minoração das brutalidades sem limites ocorridas na escravatura animal.

Peter Singer

segunda-feira, 8 de setembro de 2008


São realizadas anualmente centenas de experiências nas quais os animais são obrigados a tornarem-se dependentes de drogas. Relativamente apenas à cocaína, por exemplo, realizaram-se mais de 500 estudos. Uma análise de apenas 380 destes permitiu calcular os seus custos em cerca de 100 milhões de dólares, a maior parte dos quais provenientes de impostos. Eis um exemplo:
Num laboratório do Centro Médico de Downstate, dirigido por Gerald Deneau, prenderam-se macacos-resos a cadeiras. De seguida, ensinou-se aos animais o modo de auto-administrar cocaína directamente no fluxo sanguíneo, nas quantidades que estes desejassem, através da pressão de um botão. Segundo um dos relatórios, os macacos testados pressionaram o botão vezes a fio, mesmo após terem sofrido convulsões. Não dormiam. Ingeriam cinco ou seis vezes a quantidade normal de alimento e, ainda assim, emagreciam. No final, começaram a auto-mutilar-se e, finalmente, morreram devido a excesso de cocaína.
Peter Singer

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Ausente


Não apaguem o sol...
Agora que estava tudo tão bem, porquê isto e não aquilo?
Agora que eu via os teus olhos olharem para o mesmo sentido que os meus,
vejo duas chamas ígneas que olham para mim.
Agora que eu sentia o teu perfume,
nada mais é senão brisa.
Agora que eu queria tudo ou mais alguma coisa,
anoitece e já nada quero porque já nada há a querer.
13/04/1995
António Paulo Gomes Rodrigues