Pesquisar neste blogue

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

UM COMEÇO


quinta-feira, 31 de Dezembro de 2009

Um começo...
Hoje é o último dia do ano. Um fim, um recomeço e tanta nostalgia. A vida é um continuum e, após a balada da meia-noite, nada terá mudado, a não ser, talvez, essa lufada de ânimo, essa vontade, mais vincada, mais presente, de mudar alguma coisa. E todavia, apesar do desejo de mudança, há tanta coisa, nas nossas vidas, que gostaríamos que durassem para sempre. No último dia do ano, eu vou escrever e talvez amanhã escreva de novo, e depois e depois…Escrever, escrever, escrever… como se nada tivesse sido escrito, como se todas as folhas estivessem em branco, como se a invenção da palavra fosse o aqui, o agora, o eu. O tudo, o nada, a mediocridade. Voar no topo da montanha ou no mais baixo do céu. Sempre preferi o nada à mediocridade, ao meio-termo, ao satisfatório. Hoje, reconheço que, por mais modestas que sejam as minhas palavras, elas definem uma parte importante do que sou. Eu vou escrever e ficar aquém, eu vou escrever e falhar, mas vou escrever.

Elisabete Albuquerque

(Há alunos que de uma forma ou de outra marcam a nossa vida. A Elisabete foi minha aluna durante dois anos. Tudo nela era sublime. Educação esmerada, solidária para com os colegas, interventiva nas actividades da escola, leitora assídua e compulsiva na biblioteca, participativa no jornal da escola. Aluna com classificações de vinte, entrou no curso superior que sempre desejou e por vocação. Hoje a Elisabete ofereceu-me este texto, talvez desta forma motive outros alunos para a escrita.)

FELIZ 2010 para todos. Que o Sol brilhe sempre na vossa VIDA


O QUE É O TEMPO?


Não houve tempo nenhum em que não fizésseis alguma coisa, pois fazíeis o próprio tempo.
Nenhuns tempos Vos são coeternos porque Vós permaneceis imutável, e se os tempos assim permanecessem, já não seriam tempos. Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem o poderá apreender, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras, o seu conceito? E que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei. Porém, atrevo-me a declarar, sem receio de contestação que, se nada sobrevivesse, não haveria tempo futuro, e se agora nada houvesse, não exisitia o tempo presente.
De que modo existem aqueles dois tempos - o passado e o futuro -, se o passado já não existe e o futuro ainda não veio? quanto ao presente, se fosse sempre presente, e não passasse para o pretérito, já não seria tempo mas eternidade. Mas se o presente, para ser tempo, tem necessariamente de passar para o pretérito, como podemos afirmar que ele existe, se a causa da sua existência é a mesma pela qual deixará de existir? Para que digamos que o tempo verdadeiramente existe, porque tende a não ser?

(O tempo é um ser de razão com fundamento na realidade. S. Agostinho estuda o problema do tempo apenas sob o aspecto psicológico: como é que nós o apreendemos. Não o estudo sob o aspecto ontológico: como é em si mesmo. Para este último caso teria de o considerar como indivisível)

Confissões, Santo Agostinho, Livraria Apostolado da Empresa, 9ª edição - Porto 1977. pp 303-4

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

FUMO



Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

Meus olhos são dois olhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinho!

Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...

Florbela Espanca - Livro de Soror Saudade

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

CLUBE DE FOTOGRAFIA iv


Estação das Cores
Isabel Laranjeira

CLUBE DE FOTOGRAFIA iii


Amanitas Muscarias
Isabel Laranjeira

CLUBE DE FOTOGRAFIA ii


Amanita Muscaria
Elsa Lourenço, 12ºB

CLUBE DE FOTOGRAFIA


Folhas Outonais no recinto da Escola
João Simões, 12ºA

A FOTOGRAFIA É ARTE?


«A beleza é fugidia, descobrimo-la por vezes em lugares aos quais nunca voltaremos, ou então como rara combinação entre coisas como a estação do ano, a luz, as condições meteorológicas. Como será então, possível possuí-la? A máquina fotográfica é uma opção possível. Tirando fotografias, podemos aliviar o desejo de posse que a beleza de um lugar suscita em nós: a nossa ansiedade talvez acalme um pouco no momento em que carregamos no botão»
Alain de Botton -A Arte de Viajar
Não há solidão ou abismo que a fotografia não impregne. Que sentimentos despertam altos rochedos entre abismos ou uma vasta solidão deserta? Nos lugares assim, o homem encontra o sublime e vivencia a sua pequenez perante o vigor das rochas milenares e a imensão dos desertos.
Fazer fotografia é imortalizar momentos únicos, singulares que despertam no observador a emoção do sublime.
Questiona-se muitas vezes se a fotografia é arte. A sua verdadeira essência consiste em interpretar a realidade e não apenas copiá-la. Não é imitação do que está aí presente, é antes o resultado entre a impressão visual e a reflexão mental e emocional. O conteúdo, a disposição dos objectos, as figuras, a luz, as cores harmoniosas ou caóticas, podem surgir como símbolos que o observador interpreta e completa conforme as suas experiências.
A imagem deve ser "plena de alma", carregada de sensibilidade estética para que cause impacto emocional no observador e este faça a sua leitura interpretativa.
Imbuídos deste conceito de fotografia, um grupo de alunos do 12º Ano, fez uma saída de campo e captou na natureza a simplicidade dos cogumelos, a beleza dos tons outonais nas árvores agitadas pelo vento, nos fetos secos e envelhecidos pelo tempo.
As imagens que os alunos fotografaram irão estar expostas na Biblioteca da Escola para que outros possam sentir a emoção do sublime.
Isabel Laranjeira -Clube de Fotografia
20/11/2009

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

EXPECTATIVAS


Como é que podemos ter dois sentimentos tão diferentes em relação à mesma coisa e ao mesmo tempo?
Como é possível que alguém que esteja a um ano de sair de casa e de entrar na faculdade tenha medo disso? Como é possível que o nosso objectivo nos aterrorize? Como é possível que apesar de pensarmos que somos "grandes" e que já temos idade de partir à aventura e de entrarmos no que será a "experiência das nossas vidas", tenhamos medo das saudades que iremos sentir dos nossos pais ou dos nossos irmãos que mesmo que nos estejam sempre a "melgar" adoramos?
Como é possível pensar que vamos sentir saudades da escola a que sempre atribuímos "defeitos"? Talvez seja porque provavelmente nunca lhe demos o seu real valor. Como é possível que a um passo de atingirmos o objectivo tão buscado tenhamos medo dele?
Não é o sonho de qualquer um terminar o ensino secundário e partir à descoberta?
Com certeza, não serei apenas eu, que tenho medo do futuro, medo de chegar à faculdade e não conhecer ninguém. Medo de ir para uma cidade e os meus amigos estarem todos noutra, medo de compartilhar a minha casa, aquilo que será o meu espaço, com desconhecidos. Medo de acordar com o despertador e de não serem os meus pais a acordar-me com um belo sorriso desejando-me um óptimo dia. Medo de chegar ao fim da tarde e encontrar uma casa vazia.
Mas, será que o medo vence o objectivo? Não, claro que não vence.
Este medo é o medo que qualquer leãozinho tem quando pelo primeira vez vai caçar sozinho. É o medo do desconhecido. É o medo da habituação. Mas de certeza que mesmo que cheguemos sozinhos a uma cidade nova, na qual não conhecemos ninguém, algum "desconhecido" virá ter connosco e nos dirá, sou do curso X, tal como tu, vem comigo, eu mostro-te a tua nova escola.
A tua nova Escola, que não será apenas uma escola de conhecimento, será uma escola de valores, de crescimento, de amizades, de amores, de diversões, mas acima de tudo, será a tua Escola de Vida. E, aproveita caloiro, porque os anos de Faculdade serão os melhores anos da tua vida.
Maria João Foz, 12º Ano

domingo, 27 de dezembro de 2009

NEW YORK


À chegada,
No Aeroporto
apanho
o táxi
Típico,
amarelo,
O click,
Finalmente
Big Aplle!
Hotel, na 7ª Avenida,
Um só sentido
Na rua e
na mente
Descobrir!
Devorar...
Aqui vamos
Times Square
Para onde olhar?
O que sentir?
Luzes vibrantes
Todas as cores
Todos os sons
Um só sentido
Na rua e
Na mente
Descubro,
Devoro...
Ponte de Brooklyn
Central Park
Moma
Metropolitan
Estátua da Liberdade
Mama Mia
Na Broadway
Descoberta
Devorada
Na rua e
Na mente
Wall Street
5ª Avenida
Ground zero
Empire
Chinatown
Rocfeller Center
Guggenheim
Sorrio
Estive
em Nova Iorque
A cidade que
Nunca dorme
A cidade que
Nada estranha
Feiras que
Fecham avenidas,
Templo egípcio
No museu
Nem um saco de
Plástico a fazer
De guarda chuva
New York
I love You

Professora - Anabela Bacelo
3/11/2009

REFLEXÃO SOBRE FERNANDO PESSOA


"Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico, e em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim."
Fernando Pessoa

Muitas vezes associamos a nossa própria imagem a algo completamente irreal e impensável. Pensamos e temos uma ideia de nós próprios, que nem nós mesmos sabemos porque a temos. Possivelmente porque interpretamos as nossas acções e achamos que elas se aproximam, adequam ou simplesmente são reflexos de sentimentos como a alegria, o amor ou a amizade por alguém.
Mas, de um momento para o outro, toda a imagem que temos de nós próprios se destrói. Parece que à nossa frente se abriu um enorme buraco ou precipício, parece que a nossa vida acabará ali e que não mais seremos nós mesmos...
Chega a parecer que já não mais poderemos ser nós mesmos como um todo, mas que apenas conseguimos sentir alegria com amor ou amor com alegria, que só conseguimos sentir uma emoção ao mesmo tempo.
Passamos a ter "medo" de certos sentimentos e de os exprimir. É como se tivéssemos um "filtro" que escoa todas as nossas emoções antes mesmo de as sentirmos e que tem apenas uma "saída", não deixando que sentimentos conjugados saiam dentro de nós.
Passamos a ser uma pessoa "fragmentada" e mesmo que tentemos juntar aqueles pedaços de nós mesmos, isso parece inalcançável. Somos forçados a ser quem não somos, por algo que faz parte de nós. É confuso não é? É, e muito.
Basicamente, não podemos que elementos extrínsecos nos fragilizem e que nos deixem dividir em fragmentos de nós mesmos. Temos de manter a nossa própria integridade mesmo que isso pareça impossível. Mas, não é por termos perdido um pouco de nós que nos podemos "dar ao luxo" de perder o resto que nos pertence.
Sejamos fortes, porque mesmo que sejamos um mar de fragmentos, continuamos a ser Nós. "Nós" com um "N grande". E, não será essa descoberta e junção aleatória dos fragmentos que nos faz feliz?
Mariana Masteling, nº19 - 12ºB

sábado, 26 de dezembro de 2009

REFLEXÃO SOBRE A FILOSOFIA DE RICARDO REIS


Ricardo Reis tem uma filosofia baseada na autodisciplinarização, na ataraxia, numa moderação controlada. Explicando por outras palavras, este tenta evitar momentos de enorme prazer e bem estar e ainda momentos de grande dor que são consequentes de momentos prazerosos. Passa pela vida sem aproveitar muito dela, passa de uma forma discreta e continuamente silenciosa. Até que ponto isto é bom ou mau?
Por um lado mantemos sempre um ritmo de vida e de sentimentos constantes, sem que haja sofrimento e isso pode ser uma vantagem. Contudo, o facto de termos consciência da efemeridade da vida não quer dizer que nos acomodemos com o assunto e passemos impávidos e serenos perante ela.
A minha filosofia de vida é completamente contrária à do heterónimo Ricardo Reis. Por ter consciência da fugacidade da vida, e do que independemente vem para além dela, (esta passagem por cá é muito curta), tento aproveitar ao máximo os momentos que me surgem. É verdade que momentos de grande felicidade podem acarretar momentos bastante dolorosos. É de notar então, que o sofrimento consequente de uma situação de felicidade é bastante menor do que o sofrimento provocado pelo arrependimento de não ter vivido e experimentado algo. Por vezes dois dias de grande felicidade podem valer a pena em relação aos dias de tristeza que se aproximam.
Em suma, viver pode ter várias perspectivas e cada um desfruta da vida de maneira a que no final do curso do seu rio, na chegada ao mar, se sinta realizado.
Raquel Rei, 12ºAno - Turma B

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O Estilo de Bach


Bach não foi um autor revolucionário ao estilo de Beethoven, Wagner ou Schonberg. Foi, sim, um autor «enciclopédico»: sintetizou de forma genial o conhecimento musical do seu tempo e criou uma obra forte que influenciou de modo cabal as gerações posteriores. A sua música constitui um exemplo de mestria, caracterizando-se por dominar com precisão matemática os problemas formais do contraponto e por incluir obras para teclado em que cinco linhas melódicas se desenvolvem em simultâneo. Apesar de ser considerada cerebral, esta música possui uma profunda humanidade.
Existem poucas experiências tão emocionantes quanto observar a maneira magistral como Bach regressa a um tema original depois de uma série de surpreendentes variações. Em Bach, espírito e matéria fundem-se admiravelmente. E se o estudo e o trabalho incansável foram a base do seu trabalho, a fé jogou um papel fundamental, na medida em que o ajudou a lutar contra a adversidade.
EditorialSol90 - Expresso

PORQUE QUEM AMA NUNCA SABE...


" Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar..."

Alberto Caeiro

O que será o amor? Quando é que surgirá a fórmula química, física ou mesmo matemática que explique porque é que por vezes temos um sentimento tão intenso em relação a uma dada pessoa num dado momento das nossas vidas?
Sentimos um enorme turbilhão de sentimentos, que nos fazem ficar com as tais borboletas na barriga, com os nossos níveis de concentração (no que devemos) bastante reduzido e só pensamos nessa pessoa, parece que se nos tirarem aquela pessoa, nos tiram tudo. Ansiamos a sua presença desesperadamente e a sua ausência cria-nos uma dor quase insuportável no coração. Sentimos-lhe o cheiro mesmo que ela não esteja perto de nós, conseguimos decifrar os seus passos de entre os muitos passos que se estão a aproximar, não conseguimos afastá-la nem por meros instantes dos nossos pensamentos.
É nesta pessoa que recaem os nossos últimos pensamentos antes de adormecermos e os primeiros logo após acordarmos. E, por vezes, até durante os sonhos, essa pessoa lá está.
A razão porque amamos é verdadeiramente desconhecida. Porque será que amamos X, se com Y é que teríamos todas as "condições" para sermos felizes?
Porque é que amamos algo que por mais que amemos não poderá "crescer"?
Apesar de ainda não ter nenhuma fórmula em que consiga explicar de uma forma simples o que é o amor, muitas vezes penso que há coisas que nos ultrapassam, e coisas como o amor são uma de muitas... Não o sentimos quando queremos, nem porque queremos, ele surge sem ser chamado e teima em continuar e insistir, até que consegue o que quer, nos faz felizes e depois nos enche de dúvidas e incertezas...
Mas, basicamente, para mim, o amor é não pensar, o amor é sentir e deixar-me levar...
Maria João Foz, 12º Ano

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

QUE DIZER DE TI MENINO JESUS


Que dizer de ti, Jesus
que já não esteja dito?

Ao menos, no Natal,
retiram-te da cruz
e retornas à riqueza da tua criação:
à luz das estrelas,
à verdura do musgo,
ao aconchego do burrinho
que carregou contente
o ventre quente de tua mãe,
às ovelhas e aos pastores
e ao curral, onde também
uma vaquinha com seu bafo
te agasalhou do fino frio
de Dezembro;
à àgua das lavadeiras,
e aos montes com neve,
e ao mistério da noite.

Não sei se houve pranto
nas hora em que saíste,
da doçura do manto,
mas na terra houve canto
e no presépio sorris
eternamente tranquilo,
sem o calvário de espinhos
e sem a pressa de cresceres
para a quaresma eterna.

Ao menos no Natal,
retiram-te da cruz
e dela todos fingem
o esquecimento,
até os das esmolas.

Deixam-te ser menino,
apenas menino de todos nós
(e isto desde a era dos avós!)
até que o novo ano chegue
e as janeiras se cantem
em dia de reis,
por memória tua.

Esquecem-te na cruz
e reverberas de luz
e faz-se a festa
do teu nascimento
com rabanadas de pão,
(algumas sofisticadas!)
e aletria e mexidos,
e bolo-rei, ó Rei menino,
e bolos conventuais
nas mesas mais frugais!

Abençoado sejas
por renasceres
sem te cansares,
menino Jesus.

Que nome lindo,
filho de Deus!

Podias vir mais vezes
e trazeres contigo as estrelas
e o mistério dessa noite.

Descansarias da cruz onde
te pregaram eternamente
e a gente amava-te sem chagas
em presépios de musgo
e de pastores.

Talvez ficasses livre do sacrifício
e a tua mãe pudesse sorrir
sem o horror da cruz onde
te pregaram eternamente,
amor em flor!

Dorme menino, dorme, Jesus,
que no presépio velam por ti
o burro, a vaquinha,
Maria e José
e os pastores
e as ovelhinhas,
e os meninos
que sonham contigo,
Jesus renascido!

Dorme, pérola nua
desafogada de crivos,
dorme "menino de sua mãe"
que ainda é dia
e a água é pura
na consoada.

Dorme, Jesus,
dorme tranquilo
sem dor nem mal
e que Deus te dê
um FELIZ NATAL!
Lia

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

REFLEXÃO SOBRE OS MEUS PRECONCEITOS


A nossa sociedade está cada vez mais multifacetada, devido à interacção com outras culturas. Surgem novas maneiras de pensar, de agir, de vestir. Inicialmente e em todas as épocas, manifesta-se nos indivíduos uma certa relutância em conhecer novas realidades.
Todas as pessoas têm tendência de seguir um determinado estilo de vida, e isto é evidente tanto no aspecto, como nos seus ideais. Existem aqueles que se demarcam dos outros, tais como os Góticos, por exemplo. Numa primeira abordagem, considero que teria um bocado de receio em estabelecer contacto com pessoas que seguem os ideias Góticos. As roupas são um pouco excêntricas o que perpetua uma imagem um pouco arrogante, as cores quase sempre negras, não conferem sentimentos muito positivos, ao invés, parece que apelam à morte. Embora não conheça com exactidão as filosofias inerentes a este tipo de grupo, sei que são um pouco ortodoxas ao comum.
Gostam da noite, escrevem poesia nos cemitérios e apenas interagem com pessoas que compartilham os mesmos pressupostos de existência, renegando a aproximação de qualquer outro elemento que não siga os seus ideais. Embora esta minoria seja nitidamente diferente e isso seja um entrave para a minha aceitação, talvez um maior conhecimento acerca deste estilo de vida, pudesse levar-me a compreender melhor e a encará-lo com uma atitude mais aberta e natural.
Outro dos preconceitos que tenho e que muitos outros cidadãos também têm é o facto de não aceitar muito bem as pessoas com orientações sexuais diferentes. Afecta-me ver dois indivíduos, sobretudo do sexo masculino, a beijarem-se. Não é que eu seja contra eles, pois considero que cada um é que sabe quem ama, independentemente do sexo. Considero que estar a esconder e a reprimir os sentimentos de amor é muito penoso. Até concordo com o casamento de homossexuais, pois não deixam de ser um "casal" e devem ser respeitados tal e qual como os outros. Porém, não me sentiria muito bem estando próxima desses casais. É complexo referir medidas que atenuem este meu preconceito, embora compreenda, não o consigo ultrapassar.
Jacinta Ferreira - Curso EFA -Sec. A Arcozelo das Maias
Escola EB23 Sec. Oliveira de Frades

domingo, 20 de dezembro de 2009

PRECONCEITOS NO TRABALHO


No meu local de trabalho, nunca me senti vítima de preconceitos ou tratamento racista por parte dos meus colegas, professores, alunos ou da direcção. Se tivesse essa infelicidade, teria que enfrentá-la sem problema olhando as pessoas nos olhos, explicando-lhes de uma forma amigável e que clara que somos todos diferentes, mesmo as pessoas gémeas são diferentes. A cor da pele não me preocupa, sinto orgulho por aquilo que sou. A inteligência, a competência, o carácter, a disciplina e a organização, não se devem à raça ou à cor da pele.
O preconceito às vezes existe na cabeça das pessoas, gentes inseguras, problemáticas, sem auto-estima própria. A educação que recebemos da nossa família, prepara-nos bem ou mal para enfrentarmos a sociedade, os obstáculos e as vicissitudes da vida.
Viver não custa, basta cumprir as nossas obrigações, apostar na formação permanente para enfrentar o mercado laboral. É preciso preparar as pessoas, mentalizá-las porque o problema sempre existiu, temos que ter ferramentas para enfrentar os obstáculos que cruzam o nosso caminho.
A experiência que eu tenho de preconceitos e xenofobia, aconteceu quando jogava futebol. Em tom de provocação, o público afecto à equipa visitada, insurgia-se contra mim, com palavras "simpáticas e amigas" tais como: "vai para a tua terra, escurinho, filho..." Contornava a situação, mantendo-me bem concentrado no jogo e fazendo as coisas bem feitas como costumava fazer.
A função da assistência da equipa adversária, era tentar condicionar os jogadores mais influentes da nossa equipa, recorrendo à preconceituosa estratégia do insulto.

José Carlos Mendes Lopes -EFA - Sec. A Arcozelo das Maias
Escola EB, 23/Sec. Oliveira de Frades

sábado, 19 de dezembro de 2009

KATÁRSIS II


A revista katársis II é um projecto do grupo de Filosofia da Escola EB23/Secundária de Oliveira de Frades. Já vai no terceiro ano e consiste na divulgação de textos, poemas e coisas afins...dos alunos e professores. Na primeira revista deste ano destacam-se os textos reflexivos sobre diversos temas e autores, poesia e fotografia. Privilegia-se a figura incontornável de Fernando Pessoa e textos escritos pelos alunos dos Cursos EFA e Profissionais.
Nos próximos dias irei divulgar alguns textos escritos pelos alunos e poemas da professora Anabela Bacelo.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009


Passam hoje duzentos e trinta e nove anos sobre o nascimento de Beethoven. Não podemos ficar indiferentes e para comemorar fica o vídeo de uma parte da 5ª Sinfonia, deste grande compositor.
"Ludwig van Beethoven compõe e divulga a «Quinta Sinfonia» em 1808, colhendo um dos maiores triunfos da sua carreira musical. Junto com a «Nona», é uma obra imortal que ocupa por mérito próprio um lugar de honra na história da música, e ainda hoje é tida como um monumento da criação artística. Trata-se da primeira sinfonia que Beethoven escreveu numa tonalidade menor, o que só voltaria a acontecer justamente com a «Nona». O principal traço da «Sinfonia Nº 5» reside na sua homogeneidade orquestral: com extrema perícia, o compositor consegue integrar um grande número de temas diferentes num todo expressivo e repleto de energia rítmica. Os quatro movimentos constituem um exemplo de alternância - o primeiro revela tensão, o segundo solenidade, o terceiro crispação e o quarto brilhantismo".

EditorialSol 90 - Expresso

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A TERRA DO NUNCA


Se eu fosse para a terra do nunca,
teria tudo o que quisesse numa cama de nada:

os sonhos que ninguém teve quando
o sol se punha de manhã;

a rapariga que cantava num canteirode flores vivas;
a água que sabia a vinho na boca de todos os bêbedos.

Iria de bicicleta sem ter de pedalar,
numa estrada de nuvens.

E quando chegasse ao céu,
pisaria as estrelas caídas num chão de nebulosas.

A terra do nunca é onde nunca
chegaria se eu fosse para a terra do nunca.

E é por isso que a apanho do chão,
e a meto em sacos de terra do nunca.

Um dia, quando alguém me pedir a terra do nunca,
despejarei todos os sacos à sua porta.

E a rapariga que cantava sairá da terra
com um canteiro de flores vivas.

E os bêbedos encherão os copos
com a água que sabia a vinho.

Na terra do nunca,
com o sol a pôr-se quando nasce o dia.

Nuno Júdice in: As coisas mais simples (2006)

sábado, 12 de dezembro de 2009

As relações Precoces e Interpessoais


"Um bébé observa e imita a Beyoncé a dançar (aprendizagem social que ocorre por observação e imitação de um modelo) que é uma das mais importantes formas de aprendizagem."


quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A DIVERSIDADE CULTURAL


"Há culturas em que a velhice é respeitada como plenitude da vida, outras em que se recusa como velharia. Os Masai da África Oriental, como tantos outros povos, atribuem um valor especial aos anciãos e regem a sua organização social à base do respeito por tal valor. O envelhecimento, que outros povos como o nosso temem e evitam devido ao marasmo físico e intelectual da terceira idade, para os Masai torna-se num ideal de prestígio e de mecanismo das classes de idade para a distribuição e exercício do poder."

Bernardi, B., Introdução aos Estudos Etno-Antropológicos, Ed. 70, 1992, p.35

(Manual de Psicologia B - Porto Editora)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A ÚLTIMA PALAVRA


O tema da nossa discussão atravessa praticamente todas as áreas de investigação e chegou mesmo a invadir a cultura em geral: onde acabam a compreensão e a justificação? Será que acabam em princípios objectivos cuja validade é independente do nosso ponto de vista, ou será que acabam no interior do nosso ponto de vista – individual ou partilhado –, de tal modo que, em última análise, mesmo os princípios aparentemente mais objectivos e universais derivam a sua validade ou autoridade da perspectiva e da prática daqueles que os adoptam? O meu objectivo é clarificar e explorar esta questão e tentar, em relação a certos domínios do pensamento, defender aquilo a que chamarei uma resposta subjectivista. A questão, numa palavra, é a de saber se a primeira pessoa, do singular ou do pural, se esconde no fundo de tudo o que dizemos ou pensamos. (pág. 11)

A Última Palavra é uma leitura obrigatória não apenas para estudantes e professores de Filosofia, Sociologia, Direito, Comunicação e Antropologia, mas também para todos aqueles que se preocupam com a perigosa ausência de valores em alguns sectores da cultura contemporânea.

A Última Palavra, Thomas Nagel, Gradiva (Colecção Filosofia Aberta)

domingo, 6 de dezembro de 2009

UMA VIDA



É domingo. Lá fora as gotas cristalinas da chuva convidam à leitura no aconchego da lareira e da manta polar. O som exterior da chuva que bate na varanda combina com o som de Bach que se espalha pela casa. Está criado o ambiente para horas de leitura. São seiscentas e noventa páginas. Gosto de livros grandes, grossos, com muitas palavras. Gosto de biografias. Gosto de Gabriel García Márquez e gostava que os meus alunos também gostassem. E por isto... e porque gosto de ler...

" No ínico de Agosto de 1966, García Márquez e Mercedes foram aos correios enviar o manuscrito terminado de Cem Anos de Solidão para Buenos Aires. Pareciam dois sobreviventes de uma catástrofe. O embrulho continha 490 páginas dactilografadas. O funcionário que estava ao balcão disse: «oitenta e dois pesos.» García Márquez observou Mercedes a procurar o dinheiro na carteira. Tinham apenas cinquenta pesos, e só puderam enviar cerca de metade do livro: García Márquez pediu ao homem que estava do outro lado do balcão para tirar folhas como se fossem fatias de toucinho fumado, até os cinquenta pesos serem suficientes. Voltaram para casa, empenharam o aquecedor, o secador de cabelo e o liquidificador, regressaram aos correios e enviaram a segunda parte. Ao saírem dos correios, Mercedes parou e voltou-se para o marido:« Hei, Gabo, agora só nos faltava que o livro não prestasse.»
Gabriel García Márquez, autor de Cem Anos de Solidão e de O Amor em Tempos de Cólera, entre muitos outros que escreveu, é um dos maiores e mais populares escritores dos últimos cinquenta anos. Vencedor do Prémio Nobel da Literatura (1982) e de uma imensidão de outros prémios, García Márquez converteu a sua vida e a sua Colômbia natal em ficções sublimes. A proeza admirável de Gerald Martin é revelar a realidade crua, fascinante e frequentemente divertida que está subjacente aos livros do escritor.
Ao mesmo tempo que conta a história do jovem mal vestido e escanzelado que ascendeu da obscuridade provincial à riqueza e fama internacional, Martin relata também as tensões da vida de García Márquez entre a celebridade e a qualidade literária, a política e a escrita, o poder, a solidão e o amor. Examina o contraste entre as origens caribenhas do escritor e o autoritarismo pesado da alta Bogotá, e o seu afastamento consciente, e contudo extraordinário, durante a década de 1980, do «realismo mágico» para a maior simplicidade de O Amor nos Tempos de Cólera.
Ao longo de quinze anos, Martin entrevistou mais de trezentas pessoas, incluindo Fidel Castro, Filipe González, quatro presidentes da Colômbia, os escritores Carlos Fuentes, Álvaro Mutis, Mário Vargas Llosa e Tomás Eloy Martínez, e, não menos importante, a família do escritor - a mulher e os filhos, a mãe, os irmãos e irmãs - e os amigos e colaboradores mais próximos."
Gabriel García Márquez, Uma Vida, Gerald Martin - D. Quixote, 2009

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

MURMÚRIO



Traze-me um pouco das
sombras serenas
que as nuvens transportam
por cima do dia!
um pouco de sombra , apenas,
vê que nem te peço alegria.

Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta
no teu coração!
a alvura, apenas, dos ares
vê que não te peço ilusão

Traze-me um pouco da tua lembrança!
aroma perdido, saudade de flor!
vê que nem te digo - a esperança!
vê que nem sequer sonho,
Amor!

Cecília Meireles

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

VIVER PARA QUÊ?


Quem não conhece a filosofia poderá pensar que procurar o sentido da vida é a tarefa central dos filósofos. Isto é historicamente falso. Na sua maior parte, os filósofos não abordaram o problema do sentido da vida, e os que o abordaram não fizeram geralmente disso o tema principal das suas investigações.
O leitor comum poderá igualmente esperar que os filósofos se pronunciem um pouco como gurus, declarando do alto da sua inacessível montanha qual é o sentido da vida. E a nós, meros mortais, restar-nos-ia então seguir tais oráculos, ainda que nem os compreendamos muito bem. Esta concepção resulta talvez da dificuldade em compreender a natureza da filosofia. A filosofia não é religião, nem uma prática iniciática de vida; ao invés, é o lugar crítico da razão, como por vezes se diz. Estudar filosofia é aprender a ser crítico, que é precisamente o que os gurus não podem dar-se ao luxo de permitir aos seus acéfalos discípulos. A ideia de que Platão, por exemplo, era discípulo de Sócrates, nessa acepção iniciática, é falsa, tal como é falso que Aristóteles tenha sido discípulo de Platão nessa acepção. Estudaram uns com os outros, sem dúvida, mas porque foram estudantes de filosofia criticaram, divergiram e discutiram argumentos com os seus professores - e fazer filosofia é precisamente isso.
A filosofia não é um corpo de conhecimentos que nos baste assimilar acriticamente, mas antes a actividade crítica de estudar ideias e argumentos minuciosamente, para ver se serão plausíveis ou não. Por isso, não se encontra nos melhores filósofos um conjunto de instruções esotéricas para dar sentido às nossas vidas. O que se encontra são estudos cuidadosos de diferentes ideias e argumentos sobre o problema. Isto não significa que não existam conclusões consensuais, entre os filósofos actuais, sobre o sentido da vida. Significa apenas que o trabalho filosófico é fundamentalmente a discussão minuciosa e paciente dessas conclusões e dos argumentos que as sustentam.
Viver para Quê? Ensaios sobre o Sentido da Vida, Organização e Tradução de Desidério Murcho, Filosofia Pública, Dinalivro - pp 9-10