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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Reflexão do Filme "Godsend"

Este filme aborda um drama trágico, mas além disso e simultaneamente prende-se com ficção científica, retratando de uma forma extrema a concepção da clonagem humana.
O filme inicia-se com uma dinâmica comum e felicidade aparente no seio de um jovem casal, que festeja o aniversário do seu único filho de 8 anos, Adam (Cameron Bright). Essa harmonia e felicidade desvanecem-se no momento em que Paul Duncan (Greg Kinnear) e Jessie Duncan (Romijn-Stamos) perdem o seu filho, num imprevisível e fatídico acidente. Este facto, provoca sentimentos de elevada tensão, como dor, sofrimento, angústia e desespero, parecendo a vida um tormento isento de sentido e desejo, até mesmo, perante a impossibilidade de Jessie ter mais filhos. Nos preparativos do funeral, o Dr. Richard Wells (De Niro), um investigador/ médico no domínio da genética na clínica: Godsend, especializado em questões de infertilidade, enuncia-lhes uma proposta condenável relativamente à esfera da moralidade e da legalidade predominante, mas que naturalmente seria um sonho inimaginável para eles: reproduzir um novo ser com as mesmas características genéticas do filho morto, ou seja, a ideia da clonagem. Apesar desses entraves, o casal, obviamente desejoso de voltar a ter o seu filho, enveredaram pelo caminho da clonagem, encontrando se aqui a sua principal vantagem/potencial.  
Deve-se de imediato salientar um vasto entusiasmo, cooperação e motivos específicos por parte do médico em ajudá-los nesta tarefa imoral e ilegal, efectuando-se mudanças geográficas, profissionais e sociais necessárias na vida deles.  
Após o sucesso da experiência, (inseminação de genes), preponderava o mesmo ambiente de felicidade e equilíbrio, até o filho clonado, completar 8 anos, à semelhança do anterior. Fisicamente idêntico ao Adam original, este Adam, começa a manifestar uma personalidade complexa, visível nos seus comportamentos demasiado estranhos e perturbadores. Logo, Adam, evidencia terríveis distúrbios de sono, recheados por pesadelos e fragmentos/memórias da vida de outro indivíduo, ou seja, do Zachary Clarck que invade e atormenta a sua mente. Estes sonhos e visões, exercem vasta influência sobre Adam, determinando as suas atitudes e comportamentos diabólicos, o que o torna extremamente perigoso no meio onde se insere. Porque motivo Adam, não se enquadra no perfil de uma criança normal, do ponto de vista psicológico? Em que fundamento assenta o facto de os seus comportamentos maldosos e abomináveis serem determinados pelas atitudes de Zachary Clarck, que ele vê e sente?
O casal, com destaque para o seu pai, (professor de biologia) descobre o mistério envolvido em torno da personalidade de Adam. No processo de clonagem, Dr. Richard, utilizou não apenas as partes genéticas de Adam original, como supostamente deveria suceder, mas ocultamente, também introduziu fragmentos de genes do seu próprio filho falecido, num incêndio: Zachary. Como vimos no filme, este era extremamente horrendo, tendo até assassinado a sua própria mãe. Daí resulta a complexa identidade relativamente à vertente psicológica e comportamental negativa de Adam, pois fisicamente, sim, era idêntico ao Adam original. Logo, um clone, fruto de uma duplicidade genética.
A visão de clonagem humana retratada e explorada neste thriller psicológico, de terror e ficção científica não se associa à realidade presente, sendo o argumento levado ao extremo e ao exagero, isto porque, tecnicamente a manipulação genética predominante no filme não está desenvolvida, e portanto afigura-se impossível. Mas no meu ponto de vista, é este carácter avançado e a suposta visão do futuro relativamente ao desenvolvimento científico e experimental, onde se misturam interesses ambiciosos e de índole peculiar, que serve para reforçar ainda mais as consequências da clonagem humana, em matéria de legalidade, espiritualidade e da moralidade.
Desde já, perante um cenário de circunstâncias favoráveis, o facto de o Dr.Richard pretender materializar as suas aspirações e planos pessoais no domínio da clonagem, realizando uma manipulação genética condenável, constitui uma viva ilustração de transgressão dos valores humanos, morais e éticos.
Relativamente aos efeitos da clonagem, no fundo, a vida de Adam não era uma vida com autêntica dignidade, pois que desenvolvimento moral, educativo, intelectual, social poderá ter essa criança, com esta problemática e instabilidade psicológica, originada pela manipulação genética, pela clonagem? E relativamente à esfera da alma e da espiritualidade?
E as elevadas preocupações, desassossegos, a todos os níveis, tanto para Adam como para os que o rodeiam?
É totalmente condenável, em todos os níveis. Esta criança, vivia, regida pelos material genético de Zachary, que se manifestava, nos seus sonhos e fragmentos de visões sem poder agir de outra forma. Estava meramente determinado a ser assim, com uma personalidade obscura. Nem mesmo a mudança do meio, permitiu melhorar este aspecto, daí a impossibilidade de aperfeiçoamento. E alma dele, o espírito, era também negativo e demoníaco. Dele não emanava qualquer luminosidade e bondade, antes malícia, observável até na expressão perigosa e aterradora dos seus olhos, sendo naturalmente o gerador da instabilidade e do desassossego.
E eu afirmo isto, porque, apesar de um clone, ser idêntico fisicamente, com a mesma individualidade, acontece, que ele modifica-se mediante o ambiente, em função das experiências que vive, os seus interesses e gostos, daí algumas alterações imprevisíveis e comportamentos instáveis. Contudo, o que sucede no filme, é a preponderância de total determinação genética, sem qualquer poder do meio envolvente, como já explicado anteriormente, daí os comportamentos de Adam serem comandados mental e  psicologicamente por Zachary Clarck.
Eu gostei do filme, pois prima por uma densidade psicológica e uma dose de terror. Simultaneamente, através de uma forma original e criativa, são espelhados os efeitos/consequências da clonagem, sendo esta uma prática condenável, ética e espiritualmente insustentável, além de psicológica e filosófica, ultrapassando a sua vantagem inicial que se assemelha à total felicidade, ou seja, a possibilidade de clonar o filho falecido.

Viktoriya Lizanets n21, 12C

1 comentário:

Isabel disse...

Viktoriya, quero felicitar-te pela análise pessoal e detalhada do filme Godsend. Para além disto, escreves muito bem, dá gosto ler.
Parabéns.