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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Cigana a dormir, 1897


O animal selvagem, apesar de faminto, hesita em atirar-se à sua vítima que, extenuada, caiu num sono profundo.
Henri Rousseau (1844-1910)
A obra artística, Cigana a Dormir, executada em tela panorâmica, é exposta em 1897 no Salon des Indepéndants, superando outras obras de pintores famosos. Contudo, esta tela de opostos ilógicos foi encontrada na loja de um comerciante de carvão em Paris, em 1923, suscitando grandes discussões sobre se seria ou não da autoria de Rousseau.
A geometria visível no jarro e no instrumento de cordas, o ângulo recto do braço e a linearidade da bengala, são formas antecipadoras do movimento cubista.
O simbolismo que encerra torna este quadro admirável. Trata-se de um encontro onírico e irracional. A noite de lua cheia que imprime misticismo à paisagem e o sono profundo da cigana contrastam com a juba esvoaçante e o olhar ameaçador do leão. De onde sopra a brisa nesta noite tão calma que torna rebelde a juba do animal selvagem e mantém inerte o vestido colorido? O pacífico e o ameaçador, surgem irredutíveis. Talvez o leão faça parte do sonho da mulher ou esta será talvez, a presa onírica do pintor.
Tudo se conjuga neste encontro de magia onde reina o mistério da alvura da lua em oposição à cor negra da cigana e à cauda iluminada do leão, ponta final do pincel do artista.
O estilo figurativo genuíno de Henri Rousseau concilia a ingenuidade das formas com a complexidade do tema e da composição.
Este quadro, assim como outros do pintor, representa um mundo exótico, fantástico, que evoca as emoções e os sonhos de uma realidade selvagem.
Representará, noutro sentido, uma alegoria de opostos políticos: a Paz na quietude da figura da cigana que dorme um sono profundo e a Guerra na imagem ameaçadora do leão.
Três anos antes, o pintor tinha representado a alegoria da Guerra, numa ousada composição, onde no amontoado de restos humanos é reconhecível o seu rosto. “A guerra assustadora deixa um rasto de desespero, lágrimas e destruição.” Não espanta portanto, que a obra, Cigana a Dormir seja o prolongamento da mesma alegoria mas agora um tributo à Paz Nacional, representada pela França. O leão ameaçador (a guerra) hesita em atirar-se à sua vítima, (a cigana) que caiu num sono de paz.

Isabel Laranjeira

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