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quinta-feira, 10 de março de 2011

CRASH

Hoje em dia, e cada vez mais se vê uma mistura de culturas, em que numa mesma cidade coexistem centenas de pessoas de proveniências diferentes. Los Angeles é, neste filme, o palco da acção da desigualdade, do preconceito e da discriminação, onde se verifica a falta de capacidade para aceitar o próximo e que, uma pessoa sendo discriminada num determinado momento, no momento a seguir já está a discriminar outro. Os estereótipos e os preconceitos são, também aqui, aspectos interessantes da trama, onde as generalizações precipitadas e a não avaliação individual mas sim a avaliação de um grupo fazem com que, para surpresa de todos, em momentos cruciais nos espantemos, positiva ou negativamente, com determinada personagem.
            O filme começa com um acidente entre dois carros seguido de uma violenta discussão carregada de preconceitos (na verdade era uma discussão entre uma senhora chinesa e outra hispânica). Enquanto isso, Graham, um investigador da polícia vai ter com os seus colegas e depara-se com um “puto morto”. Neste momento começa a grande analepse deste filme.
            Começam então as várias tramas do filme, começando com duas pessoas negras em que uma delas se queixa dos estereótipos que lhes estão inerentes (por serem agressivos e violentos, por exemplo), no entanto, no momento a seguir estes estereótipos acabam por se revelar verdadeiros, pois neste caso eles acabam por roubar o carro ao procurador de justiça e à sua mulher. Começa então, a partir deste momento, um verdadeiro caso de injustiça pelo facto de ser feita uma avaliação com base num estereótipo seguindo-se o preconceito. A mulher a quem foi roubado o carro, com medo de ser assaltada decide, em conjunto com o marido, mudar as fechaduras de casa. No entanto, Daniel, o senhor que muda as fechaduras, por ter a cabeça rapada, por ter uma tatuagem da prisão, ou que se assemelha às típicas da prisão, e por usar as calças ao “fundo do rabo” é desde logo alvo de uma avaliação negativa e apontado como sendo membro de um gang que posteriormente irá vender as chaves daquelas fechaduras, acabando, desta forma, por ser alvo de um preconceito.
            Entretanto, os polícias que procuram o carro roubado intersectam um carro semelhante ao furtado, no entanto, sabendo eles que aquele não era aquele o carro roubado, mandam parar e Ryan, um dos polícias, acaba por molestar a mulher que seguia dentro daquele carro. Por o condutor daquele carro, que por acaso era director de televisão, ser negro e não querer que aquilo afectasse a sua carreira nada faz em relação ao que está a acontecer.
            Paralelamente, Daniel chega a casa e encontra a filha debaixo da cama, pois embora estes se tenham mudado para um bairro mais seguro, ela continua com medo das balas perdidas. Posto isto, Daniel conta a história de uma fada e entrega-lhe uma suposta capa invisível que o protege das balas e dos esfaqueamentos que a fada lhe tinha oferecido em criança, daí o facto de ele nunca ter sido esfaqueado ou atingido por uma bala. Ao fim deste episódio, Daniel é novamente chamado para trabalhar, desta vez por Farhad, um persa. Ao fim de arranjada a fechadura Daniel avisa Farhad que necessita de mudar a porta, no entanto, Farhad acaba por tratar mal Daniel, sendo este uma vez mais alvo de preconceitos sem fundamento.
            Enquanto isto, os dois negros que haviam roubado o carro anteriormente, atropelam um senhor chinês. Já no dia a seguir, e estando o filme num ponto em que tudo irá dar uma reviravolta, na sequência de um acidente, Ryan vai salvar a pessoa que se encontrava presa no caso, quando se apercebe que essa pessoa era Christine, a mulher que ele havia molestado. No entanto, como as pessoas mudam, Ryan não saiu do local do acidente enquanto não conseguiu salvá-la, mesmo quando a gasolina já tinha atingido o carro onde estavam.
            Entretanto, Farhad que viu a sua loja ser alvo de um assalto durante a noite, vai ao encontro de Daniel com o intuito de se vingar e de reaver o dinheiro que perdeu com o assalto à loja (Farhad pensava que tinha sido Daniel que a tinha assaltado) e nisto, acaba por tentar matar Daniel, mas no momento do disparo a filha de Daniel põe-se à frente dele e acaba por ser ela que supostamente é atingida. Felizmente a arma estava carregada com pólvora seca pelo que não provocou nenhuns danos.
            Já perto o final do filme assistimos a Peter, um dos negros que assaltava carros, a pedir boleia. Curiosamente, é o polícia que pediu para ser recolocado por não concordar com o que Ryan fez que lhe dá boleia. A meio da viagem, e decorrente do riso de Peter, este polícia acaba por parar o carro e pedir para ele sair. Peter, querendo tirar do bolso a sua estatueta para poder mostrar o motivo do seu riso acaba por levar um tiro do polícia pelo facto de este pensar que ia tirar uma arma. Este polícia, que condenou a atitude do colega Ryan no início do filme, acaba agora por cometer um assassinato motivado pelo preconceito racial.
            Acabando um dos assaltantes morto, o outro, Anthony, rouba a carrinha do chinês que ele havia atropelado e para sua surpresa, quando tenta fazer negócio com a carrinha apercebe-se que esta era uma prisão para alguns tailandeses ou cambojanos, pois, na verdade, o chinês dedicava-se ao tráfico de pessoas. Contudo, apesar de lhe terem oferecido quinhentos dólares por cada pessoa, ele toma a atitude de as libertar. Com isto acaba-se a analepse e voltamos ao início do filme, descobrindo Graham que o “puto morto” era, na verdade, o seu irmão mais novo.
            Este filme faz-nos pensar em diversas questões. De que forma é que nós interpretamos os acontecimentos sociais? De que modo é que estas interpretações têm influência no nosso comportamento? Na verdade, no processo de socialização cada um de nós acaba por adoptar o modo de ver, pensar e agir da família e das pessoas mais próximas, pois isso é uma forma de assegurarmos a nossa integração social. Todas as pessoas têm preconceitos e têm formados alguns estereótipos, mas também nós somos susceptíveis de sofrer do preconceito por parte de outra pessoa. Esta ideia está bem presente no filme porque desde o polícia ao chinês, ninguém está isento de estereótipos, preconceitos ou discriminação.
            Actualmente vivemos numa sociedade de desigualdades. Estas desigualdades podem ser agravadas ou diminuídas consoante os estereótipos e preconceitos existentes. No entanto, a meu ver, o facto de as pessoas discriminarem outras pode ser porque as pessoas se querem proteger e talvez mostrar aos outros que são tão fortes quanto eles. Porque repare-se, na parte do filme em que Anthony diz a Peter que não gosta de andar de autocarro, a justificação que ele dá acaba por comprovar isto mesmo. Ele disse que as janelas dos autocarros eram muito grandes e só eram assim para que as outras pessoas pudessem humilhar as pessoas de cor que lá viajam dentro. Ao depararmo-nos com uma afirmação destas, embora Anthony também tivesse formado muitos estereótipos acerca de determinados grupos e de alguma forma ter acabado por discriminar os outros, ele mostra-se incomodado pelo facto das outras pessoas também o discriminarem por ele ser negro. Não poderemos aqui inferir que, neste caso, Anthony discrimina os outros e decide roubar carros pelo facto de ele se sentir incomodado com a discriminação e com os estereótipos que lhe estão inerentes? Não será esta apenas uma forma de ele mostrar aos outros que não é inferior, e provar a si mesmo que é capaz de fazer aos outros o que lhe fazem a ele?
            As pessoas que são alvo de preconceito e de discriminação, embora muitas vezes se façam de fortes, a verdade é que de certeza que estas atitudes para com eles têm influências negativas na sua auto-estima. Desta forma, compreende-se que as pessoas mais susceptíveis aos estereótipos e preconceitos sejam pessoas mais frias e que mantenham relações mais distantes, podendo assim proteger-se. Isto pode ser comprovado no filme quando Graham disse ao telefone que estava a ter relações com uma branca e depois ela lhe perguntou porque razão é que ele mantinha todas as pessoas a uma certa distancia.
            Outra questão interessante que pode ser referida no contexto deste filme é: Até que ponto nos conhecemos? De facto, nunca podemos ter a certeza se nos conhecemos verdadeiramente, porque, na verdade, não sabemos de que forma e até que ponto os estereótipos e os preconceitos podem influenciar o nosso comportamento. Ryan, o polícia que havia condenado a atitude do colega, acaba por matar Peter que nada lhe fez. Deverá ter sido o estereótipo que ele tinha acerca dos negros que o terá levado a pensar que Peter ia puxar de uma arma para o matar, fazendo com que ele tivesse de se antecipar. No entanto agora coloca-se a questão: Terá ele tido consciência daquilo que ia fazer, ou terá sido um estereótipo ou preconceito que o levou a ter aquele comportamento? Outra questão que ainda se pode colocar é a seguinte: Até que ponto os estereótipos, os preconceitos e a discriminação afectam a dignidade da pessoa humana?
            Em suma, este filme faz-nos pensar na intolerância racial que existe na sociedade actual, fazendo-nos reflectir sobre o modo como agimos, pensamos e vivemos em sociedade. Os estereótipos e os preconceitos tornaram-se uma constante do nosso dia-a-dia e este filme faz-nos fazer uma introspecção porque não sabemos até que ponto os estereótipos e preconceitos nos podem levar.
            Na verdade, nós somos mais do que a nossa cor de pele, do que a nossa aparência física e do que as nossas origens.

Rúben Silva 12º B

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