Pensa-se por vezes que a coerência é uma característica interessante e laudatória de um argumento.
Acontece que isto é falso. A coerência não é uma característica interessante e laudatória de um argumento. Um argumento coerente pode ser péssimo, tanto por inválido quanto por ser circular ou por ter qualquer outro defeito elementar.
O caso mais evidente é este:
Aristóteles era grego.
Logo, Platão era grego.
Este argumento é coerente, no sentido em que não se contradiz, mas é tolo porque a conclusão não se segue da premissa. E o mesmo ocorre com a maior parte das falácias, como a falácia da afirmação da consequente:
Se Aristóteles nasceu em Atenas, era grego.
Aristóteles era grego.
Logo, nasceu em Atenas.
Este argumento é inválido — as premissas não sustentam a conclusão — mas é perfeitamente coerente.
Portanto, a coerência não é uma característica interessante e laudatória de um argumento. Ao invés, é uma característica que os maus argumentos, na sua maior parte, têm.
Escrito por Desidério Murcho
Escrito por Desidério Murcho
Retirado de Crítica: blog de Filosofia
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