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terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A TERRA DO NUNCA


Se eu fosse para a terra do nunca,
teria tudo o que quisesse numa cama de nada:

os sonhos que ninguém teve quando
o sol se punha de manhã;

a rapariga que cantava num canteirode flores vivas;
a água que sabia a vinho na boca de todos os bêbedos.

Iria de bicicleta sem ter de pedalar,
numa estrada de nuvens.

E quando chegasse ao céu,
pisaria as estrelas caídas num chão de nebulosas.

A terra do nunca é onde nunca
chegaria se eu fosse para a terra do nunca.

E é por isso que a apanho do chão,
e a meto em sacos de terra do nunca.

Um dia, quando alguém me pedir a terra do nunca,
despejarei todos os sacos à sua porta.

E a rapariga que cantava sairá da terra
com um canteiro de flores vivas.

E os bêbedos encherão os copos
com a água que sabia a vinho.

Na terra do nunca,
com o sol a pôr-se quando nasce o dia.

Nuno Júdice in: As coisas mais simples (2006)

5 comentários:

João Afonso disse...

Um poema que desconhecia e cuja publicação agradeço.

João Afonso disse...

Queria dizer divulgação e não publicação.

Isabel disse...

Ouvi-o hoje na Antena 2 quando ia na viagem para a Escola. Já o conhecia mas de manhã cedo, com o sol a nascer, o poema teve outro som.

Unknown disse...

Poema maravilhoso.Tenho uma coisa parecida que hei-de mostrar um dia destes e que se chama a Terra do Sol.

Isabel disse...

Lia, fico a aguardar o Poema "Terra do Sol".