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segunda-feira, 1 de março de 2010

MÚSICA


" As palavras ainda correm suaves para o indizível.
E a música, sempre nova, de palpitantes pedras
Constrói em espaço inútil a sua casa divina".
Rilke
O que é exactamente a música, e porque a colocamos num espaço seu - ainda que inútil?
A música é, ou reside em, som. Mas não ajuda dizê-lo, se não sabemos o que é o som. É tentador dividir o mundo em coisas (mesas, cadeiras, animais, pessoas) e nas suas propriedades. Mas o som não cabe em nenhuma categoria. Os sons não são propriedades dos objectos que os emitem: não são inerentes aos objectos, como o são as cores, as formas e os tamanhos. Mas também não são coisas. Ao contrário das coisas, os sons ocorrem; não ocupam espaço físico da maneira que as coisas ocupam, nem têm fronteiras. Um som ocorre quando, de alguma forma, é produzido, e cessa quando o modo de produção cessa. Em poucas palavras, os sons não são coisas nem propriedades, mas acontecimentos, que se colocam em relações de causa e efeito com outros acontecimentos. (...) É um acontecimento em que nenhuma coisa participa - um «acontecimento puro».
(...) O que é ouvir um som como música? ouvidos como música, os sons são ouvidos numa relação uns com os outros de tipo especial. Aparecem no interior de um «campo de força» musical. Ouvir um som como música não é apenas ouvi-lo, mas também ordená-lo, numa determinada espécie de relação com outros sons efectivos e possíveis. Ordenados desta maneira, um som torna-se um «timbre»

Guia de Filosofia para Pessoas Inteligentes, Roger Scruton - Guerra e Paz, 2007

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