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terça-feira, 4 de maio de 2010

AS NASCENTES DO FOGO


Serras, rios, penhascos, pedras... Escrevo-os agora e sempre a sangue e fogo. Permanentes companheiros que tudo me ensinaram e tudo me disseram. Poderosa e fecunda, a quinta dos avós, rodeou-me sempre dentro desta beleza agreste, enchendo-me, pela primeira vez, de um canto de fogo indomável e eterno. Está ali o permanente regaço das nascentes do meu canto.
Havia na quinta um velho cavalo. O avó gostava de o montar e de me levar com ele, aconchegando-me com os seus braços fortes e ternos. Juntos cavalgámos a essência da própria Terra. Eu ouvia misteriosas harpas vindas dum céu quase vulcânico e que enchiam de sangue e fogo todas as flores do meu despertar.
Dentro de mim o pólen era uma fogueira que me ateava o olhar e que, anos mais tarde, desabrochou numa imensa corola de lava.
Foi como se as minhas palavras tivessem nascido ali, naquela vastidão agreste e castigada, fecundando-me o útero da Poesia, de nascentes de óvulos e esperma, originando um feto sempre incandescente.

Margarida Xavier de Sá, As Nascentes do Fogo, Tipografia Guerra - Viseu, Fevereiro de 2008

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