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domingo, 6 de dezembro de 2009

UMA VIDA



É domingo. Lá fora as gotas cristalinas da chuva convidam à leitura no aconchego da lareira e da manta polar. O som exterior da chuva que bate na varanda combina com o som de Bach que se espalha pela casa. Está criado o ambiente para horas de leitura. São seiscentas e noventa páginas. Gosto de livros grandes, grossos, com muitas palavras. Gosto de biografias. Gosto de Gabriel García Márquez e gostava que os meus alunos também gostassem. E por isto... e porque gosto de ler...

" No ínico de Agosto de 1966, García Márquez e Mercedes foram aos correios enviar o manuscrito terminado de Cem Anos de Solidão para Buenos Aires. Pareciam dois sobreviventes de uma catástrofe. O embrulho continha 490 páginas dactilografadas. O funcionário que estava ao balcão disse: «oitenta e dois pesos.» García Márquez observou Mercedes a procurar o dinheiro na carteira. Tinham apenas cinquenta pesos, e só puderam enviar cerca de metade do livro: García Márquez pediu ao homem que estava do outro lado do balcão para tirar folhas como se fossem fatias de toucinho fumado, até os cinquenta pesos serem suficientes. Voltaram para casa, empenharam o aquecedor, o secador de cabelo e o liquidificador, regressaram aos correios e enviaram a segunda parte. Ao saírem dos correios, Mercedes parou e voltou-se para o marido:« Hei, Gabo, agora só nos faltava que o livro não prestasse.»
Gabriel García Márquez, autor de Cem Anos de Solidão e de O Amor em Tempos de Cólera, entre muitos outros que escreveu, é um dos maiores e mais populares escritores dos últimos cinquenta anos. Vencedor do Prémio Nobel da Literatura (1982) e de uma imensidão de outros prémios, García Márquez converteu a sua vida e a sua Colômbia natal em ficções sublimes. A proeza admirável de Gerald Martin é revelar a realidade crua, fascinante e frequentemente divertida que está subjacente aos livros do escritor.
Ao mesmo tempo que conta a história do jovem mal vestido e escanzelado que ascendeu da obscuridade provincial à riqueza e fama internacional, Martin relata também as tensões da vida de García Márquez entre a celebridade e a qualidade literária, a política e a escrita, o poder, a solidão e o amor. Examina o contraste entre as origens caribenhas do escritor e o autoritarismo pesado da alta Bogotá, e o seu afastamento consciente, e contudo extraordinário, durante a década de 1980, do «realismo mágico» para a maior simplicidade de O Amor nos Tempos de Cólera.
Ao longo de quinze anos, Martin entrevistou mais de trezentas pessoas, incluindo Fidel Castro, Filipe González, quatro presidentes da Colômbia, os escritores Carlos Fuentes, Álvaro Mutis, Mário Vargas Llosa e Tomás Eloy Martínez, e, não menos importante, a família do escritor - a mulher e os filhos, a mãe, os irmãos e irmãs - e os amigos e colaboradores mais próximos."
Gabriel García Márquez, Uma Vida, Gerald Martin - D. Quixote, 2009

4 comentários:

Unknown disse...

Um excelente blog com textos de muita substância.
Gosdtei desta introdução" domingo. Lá fora as gotas cristalinas da chuva convidam à leitura no aconchego da lareira e da manta polar. O som exterior da chuva que bate na varanda combina com o som de Bach que se espalha pela casa. Está criado o ambiente para horas de leitura. São seiscentas e noventa páginas. Gosto de livros grandes, grossos, com muitas palavras. Gosto de biografias. Gosto de Gabriel García Márquez e gostava que os meus alunos também gostassem. E por isto... e porque gosto de ler...

Aqui fica a resposta para quem, como eu, gosta de ler.

ESTIO À BEIRA-FRIO

Sinto no frio da água
E no outono da folha
O Inverno chegado.
Um certo desalento
Um certo desagrado
E uma paixão no mesmo assento.
Porque será ?
É agora o tempo
Do crepitar da brasa
E do silêncio recolhido
No calor do livro.
É tempo de carpir
E de despir a árvore
A folha desbotada.
Mas se é lisa a fêmea vegetal
Cobre-se de folhagem
O chão
E a fria paisagem
Esquenta a emoção
Da miríade miragem.
O vento geme nos beirais
E dos confins do céu
Não há sinais de asas.
A chuva é cântaro
Mas crepita o lume
E a mão espevita
Lascivamente o livro.
A página levanta a saia
Num sorriso de catraia
E faz-se estio à beira-frio.

Isabel disse...

Obrigada Lia, pelo sonoridade da poesia em tons de Outono. Gostei muito, muito. :)
Queria incutir nos meus alunos o mesmo gosto que tenho pela leitura.

Fernando disse...

"Cem anos de Solidão", um livro magnífico que foi meu companheiro de férias em 2006.Gostei deveras, como quase todos os livros deste Nobel.
De uma escola para outra escola, de colega para colega, um abraço solidário por partilharmos os mesmos gostos.

Isabel disse...

Obrigada Fernando pelo comentário.
Quando souber de novidades editoriais comunique. Divulguemos livros, desta forma podemos incutir o gosto pela leitura nos nossos alunos.
Cumprimentos.