Se eu fosse para a terra do nunca,
teria tudo o que quisesse numa cama de nada:
os sonhos que ninguém teve quando
o sol se punha de manhã;
a rapariga que cantava num canteirode flores vivas;
a água que sabia a vinho na boca de todos os bêbedos.
Iria de bicicleta sem ter de pedalar,
numa estrada de nuvens.
E quando chegasse ao céu,
pisaria as estrelas caídas num chão de nebulosas.
A terra do nunca é onde nunca
chegaria se eu fosse para a terra do nunca.
E é por isso que a apanho do chão,
e a meto em sacos de terra do nunca.
Um dia, quando alguém me pedir a terra do nunca,
despejarei todos os sacos à sua porta.
E a rapariga que cantava sairá da terra
com um canteiro de flores vivas.
E os bêbedos encherão os copos
com a água que sabia a vinho.
Na terra do nunca,
com o sol a pôr-se quando nasce o dia.
Nuno Júdice in: As coisas mais simples (2006)
5 comentários:
Um poema que desconhecia e cuja publicação agradeço.
Queria dizer divulgação e não publicação.
Ouvi-o hoje na Antena 2 quando ia na viagem para a Escola. Já o conhecia mas de manhã cedo, com o sol a nascer, o poema teve outro som.
Poema maravilhoso.Tenho uma coisa parecida que hei-de mostrar um dia destes e que se chama a Terra do Sol.
Lia, fico a aguardar o Poema "Terra do Sol".
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