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quinta-feira, 22 de abril de 2010

QUANDO AS CRIANÇAS FILOSOFAREM


O que tentarei demonstrar, de forma sucinta, é que as crianças são, de facto, capazes de filosofar e o fazem até com gosto. Quando a Escola permitir que a reflexão filosófica tenha o seu merecido lugar no contexto educacional, as crianças, estou disso certa, não deixarão de responder, entusiasticamente, ao desafio.
A questão fulcral, é, pois, esta:

SERÃO AS CRIANÇAS CAPAZES DE FILOSOFAR?

O ponto de vista teórico

" Quando entram na escola, todas as crianças normais são capazes de evidenciar as suas competências de seres pensantes e de utilizadores de linguagem de forma a merecerem o nosso respeito, uma vez confrontadas com situações que encontrem o sentido real da vida e em relação às quais demonstrem os seus propósitos e intenções e nelas sejam capazes de reconhecer semelhantes propósitos e intenções pela parte dos outros. (...) Estas intenções humanas constituem a matriz estrutural do pensamento da criança."
Esta citação chama-nos a atenção para três aspectos fundamentais:
a) o conceito de "situação";
b) a componente ética da reflexão;
c) o papel da experiência em Educação;

a) "Situação" terá de ser vista aqui num duplo aspecto: situação com / de sentido, que quando usada como objecto de reflexão, faz com que o mundo adquira significado; e, situação de aprendizagem, isto é, quando estão reunidas as condições para que a reflexão emerja.

b) A componente ética da reflexão diz respeito a uma forma intencional de olhar a realidade e de ser capaz de detectar nela formas intencionais de a encarar, pela parte do outro. A nossa visão da realidade não é neutra, mas interessada. Ter disso consciência, torna-se, pois, fundamental.

c) O papel da experiência consiste não apenas em recriar o Mundo, mas, de uma forma mais radical, em construí-lo. O mundo só é mundo se houver sentido, o sentido só é sentido se houver uma vivência que o faça tal.
" uma onda de experiência vale mais que uma tonelada de teoria, porque é somente através da experiência que qualquer teoria adquire sentido passível de verificação (...) quando separada da experiência uma teoria não pode ser totalmente apreendida, mesmo como teoria."
Se tomarmos como exemplo o programa educacional por Lipman nos finais da década de 70 - Philosophy for Children -, Filosofia está longe de desempenhar um papel teórico de um corpo de conhecimentos a ser transmitido, e captado de forma acrítica por parte dos alunos. Assume, muito pelo contrário, um aspecto eminentemente prático, de algo que é feito, construído, trabalhado, por oposição a algo que é passivamente assimilado e decorado.
" A filosofia é entender o porquê das coisas do mundo em que habitamos." ( Teresa, 9 anos)

Maria José Figueiroa Rego
Filosofia pela Rádio, Colecção Philosophica - Debates, Antena 2 - Lisboa, 1998

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