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sexta-feira, 25 de abril de 2008

Ensaio


Uma pessoa que sai pela última vez da mesa de operações após várias trocas de várias partes do corpo, quem é? Quem se deita na mesa de operações será o mesmo que sai?

“Ser ou não ser (eis a questão) ”


Uma pessoa que sai pela última vez da mesa de operações após várias trocas de várias partes do corpo, pode ser e não a mesma pessoa.
A questão colocada não identifica as partes do corpo trocadas. Creio que qualquer troca de órgãos produzirá efeitos no indivíduo objecto de tais modificações, contudo, apenas com a substituição do cérebro poderemos afirmar estar perante um indivíduo novo.
Durante muito tempo considerou-se ser o cérebro igual em todos os indivíduos, contudo graças à evolução da investigação e da ciência, vigora a posição de que nenhum cérebro é igual ao outro, nem mesmo os dos gémeos homozigóticos. De facto as pessoas distinguem-se pela estrutura das suas aptidões mentais e pela forma diferenciada dos seus cérebros. Essas diferenças provêm da distinta expressão dos genes que conduzem ao discrepante desenvolvimento dos tecidos nervosos e ainda às experiências individuais desde a concepção do homem até todas as outras que decorrem ao longo da vida. Existe, pois, um processo de individualização, de distinção, que ultrapassa as definições genéticas, graças à plasticidade cerebral, ou seja, à sua capacidade para se modificar ao longo da vida por efeito das experiências vividas pelo sujeito.
O cérebro humano constitui uma espécie de disco duro da sua história pessoal, logo, é o responsável pelo facto de cada indivíduo ser único, não clonável, produto de uma história social. Descobertas recentes vieram demonstrar que o cérebro é muito mais maleável do que se imaginava, modificando-se sob o efeito da experiência, das percepções, das acções e dos comportamentos. Tais modificações ocorrem principalmente nos primeiros meses de vida, quando o córtex está a organizar-se e em crescimento acelerado, continuando a processar-se ao longo de toda a vida.
Voltando à questão colocada, parece pois, poder-se afirmar que ao contrário de qualquer outro órgão, a substituição do cérebro faria com que o homem que se levanta da mesa das operações não mais voltasse a ser aquele que nela se deitou. Mantendo o cérebro e efectuadas todas as substituições necessárias (de outros órgãos), graças à capacidade de adaptação e “aprendizagem” deste órgão, que rapidamente estabeleceria as ligações imprescindíveis para os comandar. O homem saído da mesa de operações lembrar-se-ia da sua infância, da sua família, dos seus amigos, da sua cultura, e das suas convicções e raízes.
Ser ou não ser o mesmo homem, o cérebro responde à questão: - é o mesmo cérebro? Então o homem é o mesmo!


Luís Carvalho 12º C

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