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sábado, 26 de abril de 2008

NETFILOSOFIA


http://dererummundi.blogspot.com/

Um blog recente, pois nasceu apenas em 2007, mas é um sucesso na blogosfera. De Rerum Natura é a nossa sugestão deste número da Katársis.
Trata-se de um blog multidisciplinar tratando de uma diversidade de temas, uns mais sérios, outros mais triviais. Podemos encontrar posts de filosofia, matemática, física, mas também de educação, de banda desenhada, de desporto, de humor, de literatura, entre muitos outros. É só escolher. Contudo os temas principais são de física, filosofia, pedagogia, matemática, química e biologia.
São sete os autores do blog e grandes vultos da cultura e ciência em Portugal. Podemos encontrar textos de Paulo Gama Mota e Sofia Araújo, eminentes biólogos; Palmira Silva, Química; Jorge Buescu, matemático com uma bibliografia interessante já editada; Helena Damião, pedagoga; Desidério Murcho, filósofo e co-autor do manual de filosofia do 10ºano, adoptado na nossa escola e Carlos Fiolhais, grande físico da universidade de Coimbra e autor de manuais do ensino secundário.
Em dois anos já foram editados acima de 1300 artigos.
Apresentemos a título de exemplo um excerto de um dos muitos textos aí publicados. Escolhemos um de Desidério Murcho
A evolução dos deuses pela selecção natural
Recentemente têm surgido vários estudos que procuram compreender a religião como um fenómeno cultural que carece de explicação darwinista ou biológica. Este novo livro de Dennett inscreve-se nesta corrente. Contudo, só na segunda das três partes do livro o autor apresenta a sua tentativa de explicação biológica da religião. Na primeira parte, composta por três capítulos e intitulada "Abrir a Caixa de Pandora", Dennett procura persuadir o leitor mais renitente a aceitar este tipo de estudo da religião.
A parte mais interessante do livro é a segunda, intitulada "A Evolução da Religião" e composta por quatro capítulos. Dennett apresenta uma imensidão de hipóteses científicas, resultados e estudos que foram publicados nos últimos anos. Não apresenta propriamente qualquer ideia central no que respeita à evolução da religião nem à sua razão de ser, mas apresenta várias hipóteses estimulantes e apresenta com verve e entusiasmo o estado actual da investigação na área.
Há um conjunto de perguntas interessantes a fazer quanto à evolução da religião. Como ocorreu exactamente tal coisa? Como surgiu? Por que razão as religiões têm certas características distintivas — respeito pelo "sagrado", rituais, iniciações, ortodoxia — e procuram proteger-se da análise científica religiosamente neutra? Sobre estes aspectos, Dennett apresenta algumas ideias iluminantes. Por exemplo, se duas religiões estiverem em competição, a religião que obrigar a rituais incómodos e à repetição de doutrinas incompreensíveis tem tendência a cativar mais aderentes. Isto acontece porque um dos aspectos centrais da mentalidade religiosa é o uso intenso de dispositivos que visam proteger a própria crença. Isto significa não apenas que se declara qualquer estudo religiosamente neutro como uma blasfémia; além disso, elege-se a própria crença como o maior valor religioso. Deste modo, entra-se no domínio da crença na crença: o importante já não é bem acreditar em Deus, mas acreditar que se acredita, e mostrá-lo aos outros — através de palavras e rituais.
A terceira e última parte do livro dirige-se ao grande público, como a primeira, e aborda os problemas políticos e sociais que as religiões levantam hoje em dia. Devemos aceitar, por exemplo, que as crianças sejam educadas religiosamente pelos seus pais? Será isso aceitável, ou uma forma de violar o direito das crianças à informação não tendenciosa? Quando há vastos sectores religiosos literalistas, radicais e bombistas, que devem fazer os religiosos moderados? Ficar em silêncio, ou tomar uma posição firme contra tais desvios da sua religião? Não sendo um dos mais iluminantes livros sobre a evolução das religiões, é todavia um bom ponto de partida pela profusão de ideias apresentadas na segunda parte, devidamente referenciadas na imensa bibliografia.

Boas navegações…

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