Pesquisar neste blogue

terça-feira, 29 de abril de 2008

Indiferença à Violência

Choca-me a forma como as crianças e os jovens de hoje encaram o sofrimento dos outros e a violência, já que a escola é o reflexo da sociedade em que vivemos. Será só por sermos latinos? Ou algo mais se esconde nesta atitude?
Alguém (um aluno) me perguntou um dia, algures numa turma. –“O filme tem mortes? Se não tem mortes, não queremos ver.”
A forma como os adolescentes lidam com o sofrimento físico dos outros é quase cruel. Fico estupefacta com a reacção da turma quando algum dos colegas se magoa, pois reagem de modo inesperado, riem-se, transbordam de alegria, ficam completamente eufóricos como se assistissem ao espectáculo mais cómico do mundo. Não respeitando o sofrimento do outro. Será que rir do mal dos outros é um comportamento instintivo? Ou o facto de seremos constantemente bombardeados com cenas de violência através dos meios de comunicação social, principalmente através da televisão, do cinema e da Internet, nos torna insensíveis?
O famoso e polémico “caso do telemóvel”, parece ter-nos chocado, tal como o sequestro e a agressão de uma jovem nos EUA por um grupo de outros jovens que colocaram as imagens na Internet, também o carjacking e a Al-Qaeda são sinais do tempo.
Vivemos num tempo em que a realidade se transformou num qualquer jogo de computador e se sente como ficção e a virtualidade se transfigurou em realidade, ou no lugar por excelência do quotidiano.
Estranho e perigoso este jogo entre ficção e realidade, factos e virtualidade que transforma os valores e os cérebros das nossas crianças e jovens, fazendo-os confundir bonecos com pessoas.
É impressionante a forma apática e gratificante com que lidam com a brutalidade dos meios audiovisuais que se encontra espelhada no gosto vulgarizado e intenso por filmes de terror, magia, sobrenatural e ficção científica, pouco formativos, sem valores e sem conteúdo.
O noticiário televisivo tomou o lado da negatividade, do sensacionalismo, do impacto, da brutalidade, o que de tão repetido, provavelmente nos torna a todos indiferentes aos sentimentos do outro, à banalização do sofrimento humano e nos conduz à aceitação progressiva do inaceitável.
Transmitir cenas de guerra, sequestros e execuções, em directo de preferência, é algo de repugnante, degradante e tremendamente desumano.
Que valores queremos para os nossos jovens? Que tipo de sociedade estamos a construir? Será que caímos de modo desenfreado nas garras da violência?
Hoje que tanto se fala da defesa dos direitos dos animais, e acho que devem ser protegidos (não às touradas e espectáculos afins), ofende-se a cada passo a dignidade humana, expondo gratuitamente o sofrimento de pessoas, pois já não nos convencem com palavras mas perante uma imagem caem por terra os argumentos. Vivemos seguramente na era da imagem e quanto mais chocantes melhor porque as pessoas já ultrapassaram qualquer limite.
Contudo, não transformemos “o homem no lobo do homem” mas eduquemo-lo para o respeito pelo outro, a compaixão, a amizade, o companheirismo…É difícil, pois o individualismo é feroz e a competição está instalada. Cabe-nos a todos fazer alguma coisa se queremos uma sociedade mais pacífica, tolerante e solidária. Fica o convite! Dado que um indivíduo nada pode contra a sociedade ou as instituições.

Mª Isabel Soares

Sem comentários: