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sexta-feira, 25 de abril de 2008

VIDAS FILOSÓFICAS




Peter Singer

Peter Singer nasceu em 1946 em Melborne, na Austrália. Conhecido sobretudo pelos seus trabalhos em áreas de ética aplicada, que começaram com o seu best-seller Animal Liberation (Londres, 1976) (trad. Libertação Animal, 2000), no qual argumenta que a maior parte do tratamento a que os animais são sujeitos é intolerável. Singer continuou a escrever sobre estes temas, mas usou também as ideias e teorias da filosofia moral para fornecer análises da moralidade da eutanásia, fertilização in vitro, a distribuição dos recursos do mundo e muitos outros temas associados (veja-se especialmente o seu Practical Ethics (Cambridge, 1979; trad. Ética Prática, 2000)). O seu trabalho distingue-se por um forte comprometimento com o utilitarismo e por um desejo de afastar a moralidade do que ele se refere como a "herança judaico-cristã". Singer é um dos maiores especialistas em ética aplicada, área para cuja revitalização contribuiu decisivamente. Ensinou nas Universidades de Oxford, Nova Iorque e Monash sendo actualmente professor de Bioética no Centro para os Valores Humanos da Universidade de Princeton. É autor já de uma vasta bibliografia. Em Portugal encontram-se traduzidas as obras Libertação Animal (Via Óptima), Ética Prática e Um Só Mundo (Gradiva).
O seu livro Libertação Animal (publicado originalmente em 1975) foi uma importante influência formativa no moderno movimento de direitos dos animais. Singer é um grande defensor dos animais, apoiando plenamente a causa da libertação animal, um dos muitos motivos que o fez adoptar a dieta vegetariana.
Nesta obra ele argumenta contra o "especismo": a discriminação contra certos seres baseada apenas no facto de estes pertencerem a uma dada espécie (quase sempre não-humana). Ele considera que todos os seres que são capazes de sentir sofrimento têm os mesmos direitos e conclui que o uso de animais para alimentação é injustificável já que cria sofrimento desnecessário. Assim sendo, ele considera que o vegetarianismo é a única dieta aceitável. Singer condena também a vivissecção, apesar de acreditar que algumas experiências com animais poderão ser realizadas se o benefício (por exemplo, avanços em tratamentos médicos, etc.) for maior que o mal causado aos animais em causa.
O seu trabalho mais abrangente, Ética Prática (publicado inicialmente em 1979 e com segunda edição em 1993), analisa detalhadamente porquê e como os interesses dos seres devem ser avaliados. Singer afirma que os interesses de um ser devem sempre ser avaliados de acordo com as propriedades concretas desse ser e não de acordo com o facto de ele pertencer a um grupo abstracto.
Consistente com a sua teoria geral de ética, Singer sustenta que o direito à integridade física está fundamentado na capacidade de um ser de sofrer, e o direito à vida está fundamentado na capacidade de planear e antecipar o futuro de alguém.
Dado que fetos, bebés e as pessoas com deficiências não têm esta última capacidade (mas têm a primeira), Singer afirma que o aborto, o infanticídio sem dor e a eutanásia podem ser justificados em determinadas circunstâncias especiais, por exemplo, no caso de recém-nascidos cuja vida iria causar grave sofrimento a si mesmo e aos seus familiares.
Estas posições têm suscitado muitas críticas e muita polémica, principalmente junto das associações de deficiente, nomeadamente da Alemanha. Os seus detractores argumentam que Singer não tem o direito de julgar a qualidade de vida das pessoas
portadoras de deficiência. Na Alemanha, a sua posição foi comparada à prática Nazi de assassinar aquela que era considerada "vida não merecida", e as suas palestras foram várias vezes interrompidas. As suas conclusões em áreas controversas como o aborto, o infanticídio e a eutanásia, e a sua recusa em esconder as suas conclusões sob um véu de eufemismo podem explicar a razão porque o seu trabalho atraiu tantas atenções.
Um outro tema muito caro a Singer é a injustiça social e a distribuição da riqueza. Este tema é abordado no livro Ética Prática e retomado em Um Só Mundo (publicado em 2002). O autor afirma que a injustiça de algumas pessoas viverem em abundância enquanto outras morrem de fome é moralmente indefensável. Singer propõe que todos os que possam ajudar os pobres devem doar pelo menos 10% do seu rendimento para alívio da pobreza e esforços semelhantes. Singer argumenta que, quando já se vive confortavelmente, uma outra qualquer compra para aumentar o conforto não irá ter a mesma importância moral que salvar a vida de outra pessoa. Ele próprio doa 20% do seu salário à Oxfam e à UNICEF, sendo a sua vida consistente com o seu pensamento.

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